"Foi no último 6 de Agosto. Na Luz, na nossa Luz. Na luz da justiça, pela luz do passado, por uma luz radiosa no futuro. Com a luz da emoção, já um tanto sofrida, organizei o jantar de aniversário do Mário Coluna. Foi uma cerimónia simples, sem a luz da exuberância, com a participação da família, ainda do Eusébio, do presidente Luís Filipe Vieira. Essa noite, fez-se mais luz na Luz. Afinal a consagração de uma amizade longa, permanente, emotiva, até venerada.
Sobre o capitão dos nossos capitães, deixei registado que até o nome lhe fiava a matar. Coluna era coluna. Resistência, solidez, força. 'Os homens são na proporção dos seus desejos', escreveu o mestre Almada Negreiros. Coluna era enorme, porque desejava, desejava intensamente.
Vivia o jogo com cuidados paternais, tinha gestos santos, era o sol do meio-dia. Eminência parda de Eusébio, mais tarde companheiro de equipa, tudo venceu, com excepção da Taça Intercontinental. Esteve em cinco finais europeias, foi bicampeão da Europa, sempre com golos da sua lavra. Pela Selecção, atingiu o pódio, no Inglaterra 66, era o capitão, o líder da mais afinada orquestra da bola nacional. Na mundialização do seu prestígio, envergou também a braçadeira da equipa FIFA, na festa de homenagem ao mítico Ricardo Zamora.
Dava músculo, dava cérebro, dava alma, dava até pelo, dava sangue. Dava ordens ao jogo, dava-lhe ordem, também. Dava jeito, tanto jeito. Dava o que dava e não dava mais porque não havia mais para dar. Sem exagero. Coluna era o farol do futebol português. Também o único e último imperador."
João Malheiro, in O Benfica