Últimas indefectivações

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Uma trafulhice não esconde a outra

"A repetição do estranhamente adiado Vitória de Setúbal - FC Porto não se realizou 30 horas depois nem dentro das quatro semanas seguintes à data inicial. Porquê? Ninguém sabe. Um incógnito caso de força maior devidamente comprovado e reconhecido por deliberação da Comissão Executiva da Liga que terá validado tal ilegalidade. Ou não. Por seu lado, o jogo entre FC Porto e Vitória de Setúbal para a Taça da Liga também não deixou de ser estranho. O FC Porto actuou ilegalmente com três (logo três!) jogadores que não cumpriram o espaço de 72 horas entre uma utilização e outra.
Há quem chame a isto desorganização. Outros dizem que não há nas Antas verdadeiros especialistas em aritmética simples e que as únicas contas que sabem fazer são as das comissões. Eu diria que é tudo bem mais simples: tentação para a trafulhice. Viagens ao Brasil, envelopes com dinheiro, prostitutas, árbitros recebidos em casa nas vésperas dos jogos... Um ror de porcarias. E depois? Que castigo?
Nenhum! A impunidade é total. E, como tal, convida a mais trafulhices. Olhem-se os sujeitos de tais tranquibérnias. Repetitivamente os mesmos. Já percebemos todos nós que a ilegalidade da repetição do jogo para o Campeonato passará sem recado e com rebuço. Não esperem grande pena para a utilização imprópria de três (logo três!) jogadores. O Futebol português é isto mesmo: um lodaçal onde os vermes e as sanguessugas se sentem no paraíso. Que os impedirá, um destes dias, de entrarem em campo com 15 ou de simplesmente jogarem sozinhos? Nada.
Eles mandam! Seja feita à sua vontade."

Afonso de Melo, in O Benfica

PS: E ainda falta saber se a ficha do jogo - o jogo adiado -, bate certo, com a entretanto desaparecida, ficha original...!!!

Elogio ao 'Batatinha' o 'dribleur' Alberto Augusto

"No Benfica trepou por todas as categorias, das Quartas às Primeiras, tendo jogado a guarda-redes aquando da sua passagem pelas Segundas. Foi, ainda antes de Stanley Matthews, um feiticeiro do drible.

HOJE vou falar de Alberto Augusto. Direi melhor: hoje vou pôr outros a falar de Alberto Augusto. Sobretudo J. Cunha e A. Inês, autores de uma pequena biografia daquele que foi um dos maiores nomes da história do Benfica. Havia quem lhe chamasse o 'Batatinha'. Havia quem o descrevesse como o mais completo 'dribleur' (assim mesmo, em francês, coisas do tempo) do Futebol português. Um feiticeiro do drible ainda antes do maravilhoso Stanley Matthews...
Lisboa viu nascer Alberto Augusto. O bairro de Benfica foi o berço de Alberto Augusto: 31 de Julho de 1898. Chegou ao Benfica em 1917 e estreou-se nas primeiras categorias em Janeiro de 1918, estava a I Grande Guerra a caminho do fim. A quantidade de elogios que recebeu ao longo da sua carreira é imesurável. «Jogador de excepcionais qualidades, Alberto Augusto é, quando a nós, um dos jogadores portugueses mais completos. Desde guarda-redes a extremo tem jogado em todos os lugares, e em todos marcando a sua explêndida classe de 'footballer'». Estes, só para começar. Mas há mais. «Ímpeto, rapidez de execução, 'dribling' primoroso, pontapé certeiro e forte com qualquer dos pés...» E ainda mais. «O seu jogo vistoso, filigranado, prende a atenção e conquista o agrado do público pela grande soma de perfeição e segurança com que executo todas as jogadas. Quando Alberto Augusto tem a bola nos pés há sempre da parte dos seus partidários uma esperança, pois a maneira como domina o esférico é de tal forma arrebatadora que temos o que pretende sem que ninguém a tal o possa obstar». Sabia-se elogiar nos tempos de antanho. E é importante recordar um Alberto Augusto tantas vezes esquecido. Alberto Augusto tantas vezes esquecido. Alberto João Augusto: autor do primeiro golo da história da Selecção Nacional, no dia 18 de Dezembro de 1921, em Madrid, na derrota de Portugal frente à Espanha (1-3). A vítima foi o lendário Zamora...

O 'penalty' de Madrid
«Ao receber a bola com uma serenidade pasmosa, num à vontade admirável, parte sem hesitar com o seu belo estilo intuitivamente perfeito, corre ao longo do 'touch', centrando, passa, dribla, ou combina com o interior, variando sempre que é preciso o seu jogo, adaptando-o às circunstâncias de uma forma que nos assombra e nos deixa perplexos. É realmente, um verdadeiro 'virtuose' da bola».
Ah! Não havia fim para os elogios. O filho de dona Amélia Maria Rocha, professora, e de António Augusto tinha um irmão igualmente jogador de Futebol: Artur José Augusto. Mas o Augusto que nos interessa é Alberto. Que começou como apanha bolas dos mestres Cosme Damião, Germano de Vasconcelos, Luís Vieira ou Silvestre, antes de se tornar atleta do Grupo Football Bemfica (com M, sim senhores!), do Recreio Desportivos da Amadora e, finalmente, do Sport Lisboa e Benfica, onde trepou por todas as categorias, das Quartas às Primeiras, tendo jogado a guarda-redes aquando da sua passagem pelas Segundas.
Voltemos atrás. Ao tal jogo da Selecção Nacional em Madrid. O primeiro jogo da Selecção Nacional. Há um episódio que merece registo. Deixemos que os seus biógrafos  contem, com a linguagem fagueira que era a deles. Digamos só que estamos no momento de um 'penalty' contra a Espanha. Siga. «Apitada a falta, Cândido de Oliveira, o capitão, ordenou a Alberto a marcação da penalidade. Alberto colocou a bola na marca e, ao baixar-se, olhou a posição e a crença do grande guarda-redes europeu. Zamora olhava insistentemente para o canto direito e quando o árbitro Barrette apitou, Alberto Augusto torcendo o corpo a enganar o notável 'az', e shootando quasi com o contraforte da bota, enfiou a bola sem remissão nas redes do mais extraordinário 'goal-keeper' que temos conhecido. Os próprios espanhóis aplaudiram entusiasmados e, à noite, no café, Zamora piscando o olho a Alberto (trejeito muito peculiar no grande 'sportsman' catalão) disse-lhe sorrindo: Enganaste-me bem, maroto!»
Pois. O Futebol era assim. E Alberto Augusto, o 'Batatinha', merecia todos os elogios."

Afonso de Melo, in O Benfica

Continua taco-a-taco

"Benfica derrota V.Setúbal (3-0) e mantém-se colado ao FC Porto
Esse avanço passa a 15! Cada vez mais prevalece a ideia de que a questão relativa ao título vai ser dirimida (já está...) entre FC Porto e Benfica, tão categóricos têm sido os comportamentos de ambos, em absoluto contraste com o estilo deslizante, para não dizer tropeçante, dos seus directos adversários. Com o Sporting a fazer a figura que se sabe, restava a hipótese-Braga para contrariar um tal duelo, mas os guerreiros do Minho já tiveram melhores dias e não evitaram nova escorregadela, agora no viscoso moliço de Aveiro. 
Depois do 4-0 do FC Porto, o Benfica necessitava do triunfo e, se possível, de uma carrada de golos. Conseguiu apenas o primeiro objectivo (forma de dizer, está visto, que um 3-0, tal como a nota de 500 dos Companheiros da Alegria, não é para deitar fora...), o que já não é mau. Resta saber se, daqui para a frente, a discussão será sempre assim, com vitória assegurada e dúvidas apenas no número de golos, ou se ainda teremos resultados mais "radicais" e fora do normal, como a cedência de um empate, por exemplo.
Frente ao Vitória, o Benfica manteve-se fiel ao tal princípio hegemónico e não facilitou. Logo aos 5', Enzo Perez anichou a bola no canto superior da baliza de Kieszek e deu início a novo triunfo, que muitos admitiram poder vir a ser copioso. Para tal, Jesus procedera a mais uma mexida no xadrez e entendeu, dada a necessidade também de rotatividade no conjunto, dar folga a Melgarejo (jogou Luisinho), fazer descansar Gaitán de início e entregar ao promissor André Gomes a responsabilidade de fazer de Matic (castigado), papel que o jovem desempenhou à letra, talvez até exagerando numa entrada perigosa que lhe poderia ter valido a expulsão.
Não se impressionou o Vitória, que, embora raramente incomodando o último reduto contrário (e raramente é mesmo a palavra), conseguiu ir anulando os lances de maior insistência encarnada. Para o efeito, muito contribuiu também a noite pouco inspirada dos flanqueadores Salvio e Ola John, com natural reflexo no desempenho dos homens da frente, Lima e Rodrigo, os quais, mau grado o apoio de Enzo, denunciaram, neste período, clara incompatibilidade com o golo.
Não foi o caso do 2º tempo, quando os dois avançados da Luz entenderam arrepiar caminho e, num repente, dilataram a conta para um 3-0, que fez renascer prosápias e animar as hostes com vista à tal guerra pelos golos. Mas, apesar do muito tempo que ainda faltava para o final, o resultado ficar-se-ia por aqui. Mais por desaceleração encarnada - afinal, Jesus optou por reforçar o miolo (entrou Aimar e saiu Rodrigo) - que por empertigamento sadino.
Um Vitória que, tirando remates sem grande significado de Jorginho e Pedro Santos, pouco fez, na verdade, para sair do jogo com um resultado mais airoso. O Benfica, mesmo subscrevendo períodos de menor fulgor, esteve ainda assim largos furos acima do seu opositor. Foi, pois, um triunfo que não oferece discussão. Não oferece, nem sequer empresta, a bem dizer."