"No Benfica trepou por todas as categorias, das Quartas às Primeiras, tendo jogado a guarda-redes aquando da sua passagem pelas Segundas. Foi, ainda antes de Stanley Matthews, um feiticeiro do drible.
HOJE vou falar de Alberto Augusto. Direi melhor: hoje vou pôr outros a falar de Alberto Augusto. Sobretudo J. Cunha e A. Inês, autores de uma pequena biografia daquele que foi um dos maiores nomes da história do Benfica. Havia quem lhe chamasse o 'Batatinha'. Havia quem o descrevesse como o mais completo 'dribleur' (assim mesmo, em francês, coisas do tempo) do Futebol português. Um feiticeiro do drible ainda antes do maravilhoso Stanley Matthews...
Lisboa viu nascer Alberto Augusto. O bairro de Benfica foi o berço de Alberto Augusto: 31 de Julho de 1898. Chegou ao Benfica em 1917 e estreou-se nas primeiras categorias em Janeiro de 1918, estava a I Grande Guerra a caminho do fim. A quantidade de elogios que recebeu ao longo da sua carreira é imesurável. «Jogador de excepcionais qualidades, Alberto Augusto é, quando a nós, um dos jogadores portugueses mais completos. Desde guarda-redes a extremo tem jogado em todos os lugares, e em todos marcando a sua explêndida classe de 'footballer'». Estes, só para começar. Mas há mais. «Ímpeto, rapidez de execução, 'dribling' primoroso, pontapé certeiro e forte com qualquer dos pés...» E ainda mais. «O seu jogo vistoso, filigranado, prende a atenção e conquista o agrado do público pela grande soma de perfeição e segurança com que executo todas as jogadas. Quando Alberto Augusto tem a bola nos pés há sempre da parte dos seus partidários uma esperança, pois a maneira como domina o esférico é de tal forma arrebatadora que temos o que pretende sem que ninguém a tal o possa obstar». Sabia-se elogiar nos tempos de antanho. E é importante recordar um Alberto Augusto tantas vezes esquecido. Alberto Augusto tantas vezes esquecido. Alberto João Augusto: autor do primeiro golo da história da Selecção Nacional, no dia 18 de Dezembro de 1921, em Madrid, na derrota de Portugal frente à Espanha (1-3). A vítima foi o lendário Zamora...
O 'penalty' de Madrid
«Ao receber a bola com uma serenidade pasmosa, num à vontade admirável, parte sem hesitar com o seu belo estilo intuitivamente perfeito, corre ao longo do 'touch', centrando, passa, dribla, ou combina com o interior, variando sempre que é preciso o seu jogo, adaptando-o às circunstâncias de uma forma que nos assombra e nos deixa perplexos. É realmente, um verdadeiro 'virtuose' da bola».
Ah! Não havia fim para os elogios. O filho de dona Amélia Maria Rocha, professora, e de António Augusto tinha um irmão igualmente jogador de Futebol: Artur José Augusto. Mas o Augusto que nos interessa é Alberto. Que começou como apanha bolas dos mestres Cosme Damião, Germano de Vasconcelos, Luís Vieira ou Silvestre, antes de se tornar atleta do Grupo Football Bemfica (com M, sim senhores!), do Recreio Desportivos da Amadora e, finalmente, do Sport Lisboa e Benfica, onde trepou por todas as categorias, das Quartas às Primeiras, tendo jogado a guarda-redes aquando da sua passagem pelas Segundas.
Voltemos atrás. Ao tal jogo da Selecção Nacional em Madrid. O primeiro jogo da Selecção Nacional. Há um episódio que merece registo. Deixemos que os seus biógrafos contem, com a linguagem fagueira que era a deles. Digamos só que estamos no momento de um 'penalty' contra a Espanha. Siga. «Apitada a falta, Cândido de Oliveira, o capitão, ordenou a Alberto a marcação da penalidade. Alberto colocou a bola na marca e, ao baixar-se, olhou a posição e a crença do grande guarda-redes europeu. Zamora olhava insistentemente para o canto direito e quando o árbitro Barrette apitou, Alberto Augusto torcendo o corpo a enganar o notável 'az', e shootando quasi com o contraforte da bota, enfiou a bola sem remissão nas redes do mais extraordinário 'goal-keeper' que temos conhecido. Os próprios espanhóis aplaudiram entusiasmados e, à noite, no café, Zamora piscando o olho a Alberto (trejeito muito peculiar no grande 'sportsman' catalão) disse-lhe sorrindo: Enganaste-me bem, maroto!»
Pois. O Futebol era assim. E Alberto Augusto, o 'Batatinha', merecia todos os elogios."
Afonso de Melo, in O Benfica
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