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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quero voltar a Valença do Douro

"Se dúvidas houvessem de que estamos na época de Natal bastava ver que na televisão já passou o filme Sozinho em Casa e que o Sporting ficou longe do título. É quase tão tradicional como o bacalhau na ceia de dia 24.

O Benfica goleou, por 5-1, o Rio Ave num jogo mais difícil do que aquilo que parece pelo resultado.

O jogo será lembrado pelo passe de Aimar para o terceiro golo, um poema, uma obra de arte.

Este campeonato será ganho com 76/78 pontos, quem perder pontos em jogos proibidos dirá adeus ao título.

A verdade é que o FC Porto, mesmo sem jogar bem, apenas perdeu 6 pontos, 3 empates em 13 jogos, o que significa que se começar a jogar melhor não irá perder muitos mais.

O Benfica tem o mesmo desempenho que o FC Porto, embora tenha realizado saídas teoricamente mais difíceis.

Temos de continuar com esta regularidade para conquistar o 33.º título nacional. Será um campeonato decidido nos detalhes. Um deslize poderá ser fatal e Jorge Jesus está atento.

No último domingo participei numa bonita homenagem a Luís Martins, na sua terra natal, Valença do Douro.

Aos 19 anos, o jovem talento do Benfica te tudo para ser feliz e fazer feliz as boas gentes da sua terra.

Prometi que se o Benfica fosse campeão lá voltava para festejar o título no Bar 36 (número da camisola do Luís) com o pai António.

Vejam lá se fazem a vossa parte para eu cumprir a minha promessa. Quero voltar a Valença do Douro, passou a ser um desejo de ano novo. Esperemos as melhoras de Eusébio, que não passe de um susto e volte a sentar-se ao nosso lado nos jogos de Benfica e Selecção. Vi ao lado dele o último, contra os romenos do Otelul, e testemunhei que sofre a valer.

Boas rabanadas, bom bacalhau e um Santo Natal a todos os leitores de A BOLA, antes que a troika nos tribute este hábito."


Sílvio Cervan, in A Bola

Boas Festas

"Nesta quadra festiva que, apesar de todas as dificuldades que o País atravessa, deve ser vivida em total harmonia e solidariedade com os outros, cumpre-me desejar a todos os benfiquistas, e em especial aos nossos leitores, votos de um Feliz Natal e um ano novo cheio de saúde, esperança e, se possível, recheado de sucessos desportivos.

Estamos prestes a iniciar um novo ano e uma nova caminhada desportiva. O Benfica vê-se envolvido em três frentes importantes, duas de cariz nacional e uma outra que, como todos sabemos, é a Prova Rainha do Futebol Europeu, a Liga dos Campeões.

Relativamente aos dois objectivos nacionais o nosso Clube tem legitimas aspirações a vencer ambos. Por tradição a Taça da Liga costuma sorrir às cores encarnadas. O Benfica tem um especial carinho por este troféu que conquistou por três vezes consecutivas.

Quanto ao Campeonato Nacional, as semanas que se aproximam são absolutamente fundamentais. É muito importante que nos próximos jogos consigamos descolar definitivamente do FC Porto de modo a poder ganhar uma margem pontual na tabela classificativa que nos permita respirar melhor, com confiança redobrada e deixar a pressão para os nossos adversários. Porque como diz o ditado, 'candeia que vai à frente alumia duas vezes'. Estou em crer que o Benfica sairá reforçado destas mini-férias.

Jogadores essenciais para a estabilidade do grupo vão recuperar das suas lesões e o descanso para outros será providencial. Jesus saberá voltar a reunir as 'tropas' e motivá-las a ultrapassar novos obstáculos e novas dificuldades. Mas não podemos falhar nos próximos 3 ou 4 jogos pois serão eles que nos manterão a chama acesa, a chama da nossa imensa alegria que será voltar a ver o nosso Benfica Campeão de Portugal. Por fim, resta-nos a 'Champions'. Também aqui acredito que saberemos ultrapassar os russos. Bons a defender, perigosos no contra ataque, com Danny sempre em destaque, o Zenit constituirá osso duro de roer."


Luís Lemos, in O Benfica

Futebol de rua

"Noite de sexta-feira, Estádio da Luz, durante a partida Benfica-Rio Ave, minuto 36. Nolito recebe a bola, caminha para a área – passa a bola, penso eu. Ultrapassa o primeiro adversário, caminha para a linha de fundo – passa a bola, penso eu. Enfia-se literalmente na linha de fundo, passa o segundo adversário, fica sem ângulo para marcar, aparentemente perde a noção do tempo e do espaço. Dali é impossível marcar, a física e a geometria provam-no – passa a bola, grito eu da bancada. Golo. Todo Estádio festeja o golo e a decisão do Nolito de não ter passado a bola. Nolito enfiara-se numa cabine telefónica, fintou dois defesas, iludiu o guarda-redes, e saiu pela porta.

Festejava-se o futebol irreverente, o futebol de rua, o futebol em que o puto malandro se entretém a provar que isso dos impossíveis é preocupação de adultos cinzentos com medo da ousadia. O Nolito é essencialmente isto: o miúdo feito homem que se diverte no mundo profissional com a mesma ‘reguilice’ com que um puto enfrenta a baliza demarcada por duas mochilas da escola. Para trás ficam os aborrecimentos de quem pensa o futebol parametrizado em “basculações”, “transições ofensivas e defensivas” e “movimentos de rotura”. Ali, em Nolito, o futebol é um espaço que existe em função da localização da baliza. O tempo mede-se em adversários que têm de ser ultrapassados até chegar à baliza. O modo vive-se pelo gozo do momento. O resto são meros aborrecimentos de gente grande que se esqueceu de que a génese do futebol é a rua.

Feito o golo e festejado o momento, levanta-se a questão: como conciliar a irreverência do futebol de rua com as obrigações do futebol profissional? Haverá lugar para ‘Garrinchas’ no futebol actual? Verdadeiramente preocupante é tentar perceber que futebol é este em que se questiona se há nele lugar para os que acreditam que se podem marcar golos impossíveis."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica