"No futebol, a incoerência sempre foi um ponto forte de coerência. A fronteira entre verdade e mentira, realidade e imaginação, esperança e ilusão, coração e carteira é tão ténue quanto a espessura de um fio de cabelo.
Hoje vou reportar-me ao folhetim à volta do(s) treinador(es) do Sporting. O treinador Marco Silva fez muito bem em recusar um acordo que, aparentemente leonino (como convinha), limitava o direito constitucional da liberdade de trabalho. Logo, ilegal por via da lei, mas também ilegítimo por via da ética. Quer dizer, o clube põe o técnico na rua com um processo por alegada justa causa e quer impor-lhe a renúncia de vir a treinar um dos rivais. Mas há mais: tem que guardar confidencialidade (?) do seu trabalho no SCP. «Despedido, limitado e calado», eis empolgante nova categoria laboral.
Mas qual é o problema de Marco Silva um dia poder estar no Benfica ou no Porto? Pois se ele foi corrido - diz a entidade patronal - por justa causa, qual o receio de ele ir para outro clube? Não percebo... E não foi o Sporting que contratou - com legitimidade laboral - o seu novo treinador, que acabava o contrato com o Benfica? E agora quer impedir o contrário para um técnico também livre? Com que coerência?
Uma última nota neste imbróglio: Jorge Jesus, que admiro, deveria ter evitado entrar nas instalações do Sporting e trabalhar já para o novo clube, ainda que informalmente, até ontem, 30 de Junho, pois estava vinculado ao SLB que, certamente, lhe pagou o ordenado. E já agora: o SCP gostaria que o SLB lhe exigisse confidencialidade dos seis anos na Luz?"
Bagão Félix, in A Bola