"Há uma malta do Sporting que pelo menos duas vezes por ano dá-lhe a vontade bacteriologicamente impura de unir esforços com o Benfica contra os malandros dos árbitros
DE calcanhar e de bicicleta. Foi assim que o FC Porto e o Benfica se desembaraçaram dos seus adversários do último fim-de-semana nos jogos respectivos a contar para a Liga portuguesa.
Na Luz, o Beira-Mar deu muito mais trabalho ao Benfica do que no Dragão o Sporting deu ao FC Porto.
Na Luz e no Dragão aconteceu um episódio idêntico e curioso. Os dois emblemas beneficiaram de duas grandes penalidades muito, muito duvidosas, e os chamdos a converter, Rodrigo e Lucho González, falharam cavalheirescamente os seus pontapés, desaproveitando as oferendas.
Um amigo que tenho, agnóstico, aproveitou logo o desaproveitamento de Rodrigo e de Lucho para proclamar que se Deus existisse era sempre assim que as coisas se passavam com as grandes penalidades muito duvidosas.
Outro bom amigo, cuja fé é o Sporting, querendo-me sensibilizar para a sua causa quase me gritou aos ouvidos que a segunda grande penalidade a favor do FC Porto, que foi convertida com sucesso por James, nem sequer nasceu da vontade do árbitro em prejudicar o Sporting.
Tentei dizer-lhe, com todo o respeito, que tal não seria preciso porque ninguém prejudica mais o Sporting do que o próprio Sporting.
Nem me ouviu. Pretendia convencer-me que o árbitro tinha inventado aquele penalti com o intuito de prejudicar o Benfica visto que se o resultado passasse para 2-0 passaria o FC Porto para a liderança do campeonato por ter melhor diferença de golos.
Nem lhe respondi. Há uma malta do Sporting que pelo menos duas vezes por ano dá-lhe a vontade bacteriologicamente impura de unir esforços com o Benfica contra os malandros dos árbitros.
É inevitável. Acontece-lhes sempre que jogam com o FC Porto e normalmente perdem e normalmente apresentam no fim de cada jogo uma lista interminável das malfeitorias de que foram vítimas.
Depois passa-lhes logo. Até ao próximo jogo com o FC Porto, evidentemente.
Francamente, não consigo afirmar sem hesitação que Boulahrouz está inocente no lance com Jackson Martínez que o árbitro entendeu ser merecedor de castigo máximo. É muito provável que esteja... mas... no entanto...
O que acontece com Boulahrouz é que o holandês é aquele tipo de defesa espadaúdo que, inocente ou culpado, tem sempre cara de penalti.
Na sequência da derrota no Dragão e de todo o processo em curso da substituição de Sá Pinto no comando técnico da equipa, veio a público o presidente do Comité Olímpico Português, Vicente de Moura, deixar no ar que gostaria de se candidatar à presidência do Sporting mas que sendo um cidadão comum não o pode fazer.
Explicou muito bem porquê:
-Qualquer pessoa que não tenha ao seu dispor quantias muito elevadas não o pode fazer. E eu não tenho capacidade financeira ou crédito junto dos bancos.
Disse uma grande verdade que se aplica ao Sporting e muitos outros clubes nacionais. A brutalidade dos passivos afasta liminarmente o cidadão comum do sonho da presidência dos seus clubes.
Olimpicamente, Vicente de Moura continuou a explanar os motivos que o impedem de avançar:
-Para poder beneficiar do trabalho de muitos sportinguistas, o Sporting, no mínimo, tem de ter as suas finanças equilibradas. Caso contrário, só indivíduos ricos, demagogos ou oportunistas estarão em condições para o fazer.
É precisamente por este conjunto de razões que do outro lado da rua, refiro-me à Segunda Circular, Luís Filipe Vieira pode partir para mais um acto eleitoral sem adversário à vista, o que não é bom para o Benfica nem para o próprio Luís Filipe Viera.
Sim, também eu li que Rui Rangel poderá anunciar a sua candidatura até ao final da semana. Mas até ao final da semana podem acontecer tantas coisas que o melhor será aguardar antes de concluírmos que o actual presidente vai ter concorrente à cadeira.
Por este caminho qualquer dia deixa de haver eleições nos clubes de futebol. Aquele velho pormenor democrático a cada três anos está a transformar-se numa coisa obsoleta, sem cabimento prático perante o avolumar dos passivos em montantes astronómicos e tilitantemente dissuasores.
Rogério Alves, que já foi presidente da assembleia geral do Sporting, ainda no princípio desta semana falou sobre o assunto, dissuadindo os seus consócios da exigência de eleições no clube para mudar o presidente.
-Temos o tique das eleições como se isso resolvesse alguma coisa - disse à Antena 1.
O «tique das eleições», expressão triste, tristíssima, que sintetiza a realidade: a inoperância da velha democracia dos clubes de futebol, tal como os conhecemos e vemos evoluir ao longo de décadas.
Enquanto isto do «tique das eleições» for só no futebol ainda há esperança.
Mas se passar para a política é que estamos mesmo tramados.
NA quarta-feira da semana passada, Cristiano Ronaldo marcou três golos ao Ajax, para a Liga dos Campeões e, no fim, o árbitro nem hesitou em oferecer-lhe a bola do jogo como mais do que merecida recordação pelo feito em Amesterdão.
No último domingo, o Real Madrid saiu de Barcelona como entrou, com 8 pontos de atraso para o líder do campeonato. Do mal, o menos. O Real esteve ganhar, esteve a perder, empatou já perto do fim graças, uma vez mais, à pontaria de Cristiano Ronaldo.
Safaram-se, portanto, os brancos à justa de regressar a casa 11 pontos atrás do rival da Catalunha e isso sim,seria penoso, quase um absurdo porque o duelo Ronaldo-Messi, que entusiasma meio planeta, não faria grande sentido prático e comercial com o Madrid fora da discussão pelo título espanhol quando ainda faltam dois meses e meio para o Natal.
José Mourinho não podia ficar aborrecido com o empate. E na verdade não ficou, como se depreende das suas palavras no fim do jogo. A 8 pontos do Barça e não a 11, como podia ter acontecido, o pragmatismo deu lugar aos mind games que fizeram do treinador português um dos mais discutidos, amados e odiados do mundo. Aliviado, Mourinho entendeu que era aquele o momento para dizer o que na realidade pensa sobre o tal duelo entre o astro português e o astro argentino.
-Devia ser proibido dizer quem é o melhor jogador do mundo - afirmou com uma distância que surpreendeu muita gente. Melhor dito, com uma distância que surpreendeu quase toda a gente.
A ocasião era a ideal para Mourinho descer à terra e confessar com humildade que nem ele, que é especial, consegue escolher, entre um e o outro, o que mais lhe agrada na qualidade de espectador equidistante dos dois fenómenos em causa.
Em termos da questão Messi-Ronaldo, ou vice-versa, o último clássico de Espanha foi nitidamente um exagero. Dois golos para cada um fizeram o resultado do jogo.
Pena foi, para os amantes das sensações fortes do futebol, que não tenham sido três golos para cada um. Com dois hat-tricks em Camp Nou, seria bonito de ver cada um levar para casa a sua metade da bola do jogo, cortada ao meio ainda no relvado pelo árbitro munido de canivete.
As palavras ajuizadas de José Mourinho sobre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi caíram muito mal em Madrid porque, no pé de guerra corrente, não é suposto vir o treinador da grande casa branca inverter o discurso da afición com uma tirada de notável bom senso sobre o assunto.
Iker Casillas foi o primeiro do balneário a vir defender o português. «Eu escolho Cristiano Ronaldo porque é um jogador que nos tem dado muito e que convite connosco todos os dias», disse o guarda-redes e capitão do Madrid, provando mais uma vez que há certas homenagens que são sempre contra alguém, neste caso, contra o seu treinador.
Sobre o diferendo Mourinho-Sérgio Ramos, Casillas também mostrou a sua opinião: «De que lado estou? Do lado do Sérgio porque apoio um companheiro que estava num mau momento e do lado do mister porque olha pela equipa», disse.
Com o devido respeito, mas o Casillas de tão judicioso ainda se arrisca a que um dia destes lhe passem a chamar o Marcelo Rebelo de Sousa do balneário. Isto se em Espanha conhecessem o professor...
JACKSON MARTÍNEZ, o avançado que o FC Porto foi buscar à Colômbia, leva cinco jogos consecutivos na Liga a marcar golos. É obra. Martínez tem, sem dúvida, muita qualidade.
Na verdade, tem tanta qualidade que até admira e causa impressão que não tenha sido primeiro descoberto, referenciado e negociado pelo Benfica, tal como aconteceu com os seus compatriotas Radamel Falcao e James Rodriguez, para acabar no FC Porto.
Onde é que falhámos desta vez?"
Leonor Pinhão, in A Bola