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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Volta e serviço público

"Terminou a Volta a Portugal. Melhor dito a meio Portugal porque a sul do Tejo nada houve. Com a ironia dos vencedores serem do... Algarve!

Uma volta diferente no traçado e na particularidade de ter tido dez ciclistas portugueses nos dez primeiros lugares, ao contrário do que vinha sucedendo. E ao invés do futebol, onde temos que esgravatar para achar portugueses na Babel de nacionalidades.

Já escrevi quanto gosto de ciclismo e me transporta para os anos de juventude. Talvez por isso, gostei que Ricardo Mestre, da equipa de Tavira, tenha vingado, meio século depois, os sucessivos segundos lugares do chefe de fila do então Ginásio de Tavira, Jorge Corvo. E, sobretudo, da volta que perdeu por míseros cinco segundos, depois de um contra-relógio por equipas, engendrado para lhe sumirem os dois minutos que tinha de vantagem.

A Volta 2011 beneficiou de uma esplendorosa transmissão televisiva que nada fica a dever ao que vemos no Tour. Um verdadeiro serviço público, à atenção do recente grupo criado pelo Governo para definir tal conceito. Um serviço de interesse público feito de ciclismo, cor e movimento, como de um Portugal belo e multifacetado, estampada na riqueza da paisagem, na descoberta de recantos perdidos na história, e na delícia de pormenores da ecologia humana. A que se juntaram o profissionalismo, o humor e a singeleza inteligente dos comentadores, em particular de João Pedro Mendonça e de Marco Chagas.

Foram tão boas imagens que até me esqueci de árbitros com nomes que bem poderiam ser de ciclista amador dos velhos tempos: Carlos Xistra e Olegário Benquerença!"


Bagão Félix, in A Bola

Revolucionário

"A notícia na arbitragem do futebol é quando o árbitro toma uma boa decisão. Olegário Benquerença tomou uma excelente no Guimarães-Porto ao assinalar o primeiro penalti em mais de um ano. Ora, um ato revolucionário é notícia.
Queixam-se os descrentes da clareza dos triunfos do Porto, por causa da coincidência de um novo arranque de campeonato confortado por um penálti desnecessário, que aquele tipo de jogadas raramente sofre punição e que, particularmente com o árbitro de Leiria, os contactos físicos dentro da área eram por norma julgados com grande latitude.
Benquerença era até ao começo desta segunda época da Liga de Fernando Gomes o árbitro que assinalava mais faltas longe das grandes áreas, apitando por tudo e por nada. Mas era também o mais parcimonioso em matéria de castigos máximos, seguindo a “cartilha” do mestre António Garrido de sancionar pelo critério de “perigo de golo”, que consiste em punir sistematicamente os avançados nos lances de contacto “duvidoso” na área.
Pois, no regresso a Guimarães, menos de um ano depois dos escândalos do Vitória-Benfica da época passada, Benquerença apresentou uma visão cristalina, assumindo sem medo decisões capazes de modificar irreversivelmente o desfecho de um jogo. Não deu razões para críticas como as de Manuel Machado, mas a invulgaridade da sua intervenção deixou a maioria dos analistas de pé atrás, como se alguma coisa não estivesse a bater certo. O Record, por exemplo, diz que decidiu bem, que realizou trabalho “positivo”, mas castigou-o na nota (3/5).
Ao contrário de outros colegas, que não mudaram nada com as últimas “formações” e reciclagens, Benquerença promete uma época em grande. Para já, deu um contributo extraordinário para acabar com as faltas ocultas de grande área nos lances de bola parada, que ele não terá tido capacidade de descortinar em 14 épocas na 1.ª divisão.
No passado do juiz leiriense não vislumbramos um lance como o do ingénuo Olímpio com o grande cabeceador Sapunaru. Num total de 175 jogos de 1.ª Liga, parece que nunca se confrontara com um defesa a agarrar um adversário num pontapé de canto – caso contrário não teria assinalado a míngua de 39 penáltis numa carreira tão longa, 33 dos quais (85%) antes de ingressar no quadro de elite da UEFA e da FIFA.
Benquerença não viu qualquer grande penalidade no último campeonato e apenas um nos últimos 36 jogos que dirigiu (por coincidência em Guimarães contra o Vitória). E até domingo passado, só conseguia enxergar faltas fora da grande área.
Ao recuperar a melhor visão das imediações das balizas, oferece uma nova perspetiva ao campeonato nacional, pois a “catimba” que os treinadores trabalham intensamente à porta fechada durante a semana, para impedir os avançados de marcarem mais golos, pode ter os dias contados. Caso contrário, vão chover penáltis."

João Querido Manha, in Record

Falcao quer voar

"Quando Luisão chegou a Lisboa, depois da Copa América, foi claro na sua vontade de sair o Benfica. «É preciso dar o lugar aos novos» - justificou, perante o desalento da família benfiquista que via, nele, um capitão até à eternidade.
Logo surgiram as vozes de comentadores definitivos: «Uma coisa destas nunca aconteceria no FCPorto». Pois bem. Aconteceu. Falcão - uma das estrelas mais cintilantes dos dragões - atreveu-se a aproveitar o final do primeiro jogo do campeonato para memifestar, de forma inequívoca, a vontade de voar do Porto para Madrid, afirmando que era altura de experimentar um campeonato mais forte. E acrescentou: «Todos os jogadores pensam assim e quem disser o contrário está a mentir.»
Diga-se, em abono da verdade, que as declarações de Falcao são mais chocantes que as de Luisão. Em primeiro lugar, porque o FC Porto é um estado musculado e costuma controlar estes ímpetos; em segundo lugar, porque não deixa de ser estranho que um jogador como Falcão prefira um clube que não ganha nada a um clube que ganha tudo, por fim, porque Falcão assinou recentemente um contrato que garante ao FC Porto uma cláusula de rescisão maior e isso não faz qualquer sentido para um profissional que já tinha a intenção de sair do clube.
Não sei como vai o FCPorto lidar com o problema. Não tem muitas alternativas. Ou segue o exemplo do Benfica, mete Falcão a jogar e assobia para o lado, ou exerce um poder exemplar e põe Falcao no banco, ou, então, abre mão do jogador, não aceita quem traiu o espírito e a alma do dragão e vende o seu passe pelo melhor preço."


Vítor Serpa, in A Bola

Futuro

"From: Domingos Amaral
To: Luís Filipe Vieira

Caro Luís Filipe Vieira
Enquanto muitos se divertem a discutir a transferência de Roberto, eu prefiro lembrar a inteligente forma como o Benfica tem preparado o seu futuro próximo. Se olharmos para o Mundial Sub-20 que decorre na Colômbia, verificamos que temos por lá jogadores que, nos próximos anos, nos darão certamente muitas alegrias. Três deles são, é relevante notar, portugueses. Falo de Mika, guarda-redes; Roderick, central; e Nélson Oliveira, avançado. Se a este grupo somarmos os jovens e talentosos Miguel Vítor, defesa; David Simão, médio; André Almeida, lateral-direito; Ruben Pinto, médio; e ainda Miguel Rosa, médio e emprestado ao Belenenses; ou Leandro Pimenta, médio e emprestado ao Atlético, chegamos à conclusão que há uma política que, aos poucos, começa a dar frutos. É claro que, no futebol de hoje, não devia importar muito a nacionalidade dos jogadores, mas é bom saber que a total inexistência de portugueses no onze do Benfica na Turquia não é um porto de chegada, mas apenas um porto de passagem. O Benfica do futuro terá mais portugueses, e bons; estes que referi ou outros que por aí andam a ser seguidos; aos quais se juntarão também os novos talentos estrangeiros, alguns dos quais já são nossos, como o espanhol Rodrigo, ou o francês Carole. E, é preciso lembrar, não foi preciso pagar 13 milhões por nenhum deles…

PS: “Milhões da treta”? O senhor devia logo ter respondido que “a nós, não é qualquer palhaço que nos faz rir”. É preciso dar-lhe a provar do próprio veneno."