"Se isto fizer escola, se este futebol do Barcelona estiver para durar, nem sei se a FIFA não vai ter de introduzir uma nova regra no jogo
NA tarde de terça-feira em Moscovo, o primeiro golo do Spartak nasceu de uma situação curiosa que define na perfeição o perfil deste Benfica 2012/2013.
Foi assim e ainda não havia três minutos de jogo.
Perto da área dos russos o nosso Matic ocupava o seu posto de médio-ofensivo, pressionando a defesa da casa, quando num passe desajuizado, coisas que acontecem, entregou a bola a um adversário que desatou a correr pelo campo fora em direcção à baliza de Artur.
Estando o nosso Matic em missão ofensiva, todo virado para a baliza moscovita, longe da sua baliza, aconteceu que não houve a menor possibilidade de surgir em campo, caído do céu, o nosso médio-defensivo Matic.
Como já terão compreendido, acontece que ambos os Matics são, em boa verdade, a mesma pessoa. Ora isto complica muito, até demais, qualquer tentativa de controlo do jogo a partir do meio do campo, zona normalmente considerada fulcral na manobra de uma equipa. Pelo menos é o que dizem os entendidos.
Acontece também que o mercado de Verão desmantelou o miolo do Benfica levando-lhe dois excelentes jogadores e titulares indiscutíveis. Não havia nada a fazer, paciência. Ficaram por cá Carlos Martins e Pablo Aimar, jogadores utilíssimos, de reportórios e categoria diferentes mas, sem dúvida, unidades de valia, ainda que intermitentes, por questões físicas, na capacidade de expressar em capo as respectivas valias.
A interminência de ambos, nestes primeiros meses de provas oficiais, tem sido um exagero. Na terça-feira, por exemplo, nem estiveram em campo, nem estiveram no banco, nem nas bancadas. Muito simplesmente nem embarcaram para Moscovo.
Torna-se assim muito difícil a coisa. E exigir ao pobre do Matic que faça o seu papel e o papel de mais uns quantos colegas ausentes é uma brutalidade. Há dois anos o Benfica jogou uma época inteira sem guarda-redes, na época passada jogou sem defesa-esquerdo, este ano joga sem médios de raiz.
Por isso, não contem comigo para dizer mal do Matic por ter entregado a bola ao adversário no lance de que nasceu o primeiro golo do Spartak de Moscovo. Estava simplesmente num momento do seu desempenho ofensivo e não se conseguiu desmaterializar no local onde estava, à entrada da área dos russos, para se materializar no mesmo instante junto da sua área e travar a progressão de Rafael Carioso.
Infelizmente, ainda não dispomos de tecnologia de ponta.
Tenho para mim, com toda a franqueza, que o Benfica está a fazer um bom arranque de época, dadas as circunstâncias do seu plantel fragilizado e descompensado pelo mercado de Verão, pelas intermitências de algumas unidades e pela situação de Luisão.
Estamos a chegar a Novembro e o Benfica é líder do campeonato a par com o FC Porto e ainda tem possibilidades de seguir em frente na Liga dos Campeões se o Barcelona ganhar os jogos que lhe faltam disputar com o Celtic e com o SPartak de Moscovo e se o próprio Benfica conseguir ganhar no Estádio da Luz primeiro ao Spartak de Moscovo e depois ao Celtic.
Para o jogo com o Spartak, que é já o próximo, temos um sério contratempo: o Matic médio-defensivo e o Matic médio-ofensivo não vão poder jogar por causa de um amarelo mostrado pelo árbitro em Moscovo. Este é um grande desafio para o treinador do Benfica num case-study para teóricos da bola de todo o planeta: uma equipa que joga sem centro campistas e que não se queixa. Ora aqui está uma bela tese de doutoramento.
COMO muito boa gente, tomei por hábito queixar-me do jogo monocórdico e letal do Barcelona, criticando-lhe a ausência de espetacularidade e outras parvoíces que tais.
Mudei de opinião na noite de terça-feira quando dei comigo a torcer para que o Barcelona marcasse um golo ao Celtic e ganhasse aquele jogo, a ver se o Benfica ainda se consegue qualificar para a fase seguinte da Liga dos Campeões.
Ver o Barcelona jogar na pelo, ainda que fugaz e interesseira, de um adepto do Barcelona é, posso assegurar-vos, uma grande alegria para os olhos e outra grande alegria para o coração.
Para os demais, é um pesadelo.
Se isto fizer escola, se este futebol do Barcelona estiver para durar, nem sei se a FIFA não vai ter de introduzir uma nova regra no jogo, directamente inspirada nas leis do basquetebol, concedendo um número 'x' de segundos a cada equipa para atacar. Honestamente, é a única forma que vejo de fazer parar os catalães com aqueles modos divinais de trocarem entre si a bola até à náusea ou até ao golo. Obrigadinho, Jordi Alba.
COM dois golos de João Tomás, o Rio Ave eliminou o Portimonense e segue em frente na Taça de Portugal. Nunca me canso de expressar a minha profunda admiração por este veterano goleador português sobre quem, com alguma crueldade, se poderá dizer que passou ao lado de uma grande carreira.
Se entendermos que para a carreira ser grande prevalece o imperativo de se jogar anos a fio em clubes de dimensão internacionalmente reconhecida.
A passagem de João Tomás, ainda jovem, pelo Benfica foi fugaz mas profícua. Saiu do clube na mesma enxurrada que levou Van Hooidjonk, Robert Enke e José Mourinho, numa espécie de saneamento político do balneário na transição de Vale e Azevedo para Vilarinho.
Quando vejo Hélder Postiga, que também terá o seu valor, no seu posto cativo de homem-golo da selecção nacional lembro-me sempre do João Tomás e quem Scolari deu algumas (poucas) oportunidades, mas não as suficientes para o goleador vingar num colectivo pleno de estrelas ligadas a grandes emblemas nacionais e europeus, o que não era definitivamente o seu caso.
João Tomás, golos é com ele. Sobre este pormenor é que não há ponta de discussão.
FOI um bocadinho escusada aquela curta tirada de José Eduardo Moniz sobre a direcção do Sporting ser ou parecer ser um saco de gatos. Se queremos ter boas relações institucionais com o FC Porto e isso até valeu a Moniz um ralhete público de Rui Gomes da Silva - reporto-me a acontecimentos públicos da corrente campanha eleitoral -, que sentido faz estarmos a diminuir, a picar os velhos rivais que moram do outro lado da rua?
Com maior ou menor folclore, nenhum clube está livre de passar pelas aflições desportivas e financeiras com que o Sporting actualmente convive.
Esta coisa de reivindicar as mais altas diplomacias para lidar com o poderoso rival do Norte e atrevermo-nos a prestar sentenças caritativas sobre o fragilizado Sporting, não parece nada, no mínimo, corajoso. Tenho a certeza de que o próprio José Eduardo Moniz concorda comigo.
NOS últimos meses, tive um stresse com Lourenço Pinto, o histórico presidente da Associação de Futebol do Porto. Acabou tudo em bem. Mas sinto-me no dever e na obrigação de o partilhar com os leitores de A BOLA - os que estiverem interessados em stresses do género judicial, obviamente -, porque foi nesta página de A BOLA que o stresse nasceu, despontou. Em boa verdade, não foi neste jornal que o caso nasceu. Foi no Correio da Manhã, o maior e mais vivo diário generalista do país, que na sua edição de 25 de Setembro de 2010 noticiava um encontro num hotel de Lisboa entre Lourenço Pinto, um árbitro ainda no activo, um ex-dirigente associativo e um ex-dirigente da arbitragem. Sobre essa notícia, utilizei algumas linhas (não muitas, na verdade) nesta coluna de opinião para, de modo irónico, dar a minha opinião sobre o alegado encontro. Sentiu-se magoado e ofendido, Lourenço Pinto e com basta razão para tal. E por uma razão muito simples e transparente: esse encontro referido pelo Correio da Manhã não existira. O jornal fora mal informado pelas suas fontes e viria a desmentir a sua notícia na edição do dia seguinte, numa breve coluna, sob o título AF Lisboa, que confesso não ter lido. Jamais, responsavelmente, teceria comentários, irónicos ou não, se tivesse tido conhecimento de que o mal-alegado encontro tinha sido uma fantasia. Trinta e seis anos a trabalhar em jornais e zero de idas a tribunal, assim o provam. O Correio da Manhã, muito correctamente, pediu a Lourenço Pinto desculpa pelo lapso no rescaldo da incorrecção. No meu caso, as desculpas devidas demoraram mais tempo a prestar, o que lamento. Na semana passada, tive finalmente a oportunidade de me encontrar com Lourenço Pinto e de lhe dizer, em sede própria, como lamentava todo o sucedido e como não tinha intenção de o ofender nem, muito menos, de faltar à verdade com más intenções. Não tenho nada de pessoal contra Lourenço Pinto. Tenho por ele o respeito devido a um dirigente histórico do futebol português e actual presidente da Associação de Futebol do Porto. Nas poucas vezes em que nos cruzámos nestas coisas das futebolices foi sempre correcto e amável no trato comigo (se calhar, não devia revelar isto, doutor?). Fica assim o assunto encerrado e já não era sem tempo."
Leonor Pinhão, in A Bola