"O primeiro Benfica de Rui Vitória teve a assinatura de Jorge Jesus (JJ). Não esteve lá Maxi Pereira, como não estaria com JJ e entrou Sílvio; não apareceu Salvio e foi titular Talisca. O 4x4x2 foi o de sempre. Com o antigo treinador é previsível que o substituto de Maxi, a abrir, fosse André Almeida, mas dificilmente a vaga de Salvio não teria sido preenchida por Talisca. O resto foi parecido - mais fraco, como seria de esperar nesta altura do campeonato -, apesar de algumas vozes internas se terem esforçado em demonstrar que a segurança no passe se sobrepôs ao risco, e que a equipa se expõe menos a adversários mais fortes. Veremos.
Optar por fazer jogar Talisca nas alas é uma espécie de pecado original deste Benfica, herança deixada por JJ. Não se deve cometer, mas o treinador cai sempre em tentação. E Rui Vitória nem sequer pestanejou. O brasileiro alavancou a primeira fase da época passada com nove golos, deu a única vitória ao Benfica, na Liga dos Campeões, e invariavelmente foi como segundo avançado que rendeu mais e melhor. Na zona central do meio-campo, nunca mostrou disponibilidade suficiente para jogar com a intensidade que lhe era pedida - daí que nunca tenha sido uma verdadeira alternativa a Pizzi -, e nas alas faltou-lhe tempo para defender: quis sempre atacar em diagonal, à procura do centro, onde frente ao PSG apareceu a marcar um golo e a mandar uma bomba ao poste. O que fazer com Talisca?
O lugar-comum manda dizer que os grandes jogadores têm sempre lugar, seja qual for a posição, mas não é bem assim. Talisca não é suficientemente versátil ou falta fazer o trabalho que JJ não conseguiu levar até ao fim? E é esse o desafio que se coloca a Rui Vitória.
A partir do momento em que teve Jonas, JJ foi deixando cair Talisca, que passou a aparecer episodicamente na equipa e perdeu capacidade goleadora. O Benfica ficou sem uma solução, ganhou um problema. Face às características de jogador que gosta de estar no coração do jogo e de dispor de maiores oportunidades de marcar, Rui Vitória tem espaço para apresentar obra de autor, reforçando a condição de Talisca enquanto médio-centro, um Pizzi mais alto, melhor rematador, que precisa de ser mais solidário a defender."