"Sempre fui mais das letras que das matemáticas e a culpa é, em parte, das matemáticas. Recordo-me de ainda na faculdade, e depois de três anos sem equações e afins, ser confrontado com algo tão simples como «perante este problema utiliza-se esta fórmula» e de franzir o sobrolho, levantar o dedo, e timidamente perguntar: «Porquê»?
Esta tentativa inconsciente de filosofar sobre a matemática não recolhia particular simpatia entre professores, da mesma forma que não parece lógica a qualquer pessoa numerada - ia escrever letrada, mas, convenhamos, podia parecer incoerente.
Note-se, em minha defesa, que tendo referido a ilógica da minha abordagem à matemática, estou não só a penitenciar-me dela como a assumir que tal é deliberado. O que, filosoficamente, me retira qualquer carga de ignorância, colocando-me porventura no campo da irracionalidade.
Ora, está é a mesma irracionalidade com que por vezes acompanho grandes eventos desportivos. Exemplos tenho dois, só esta semana. Vamos a eles: não sendo um seguidor de golfe, dei por mim não a querer saber quem tinha vencido o The Open, mas em que lugar tinha ficado Paul Dunne; não sendo um seguidor de surf, não quis saber quem era o melhor em Jeffrey's Bay, na África do Sul, mas sim quem é Julian Wilson.
O primeiro é um irlandês que entrou como amador no open britânico e chegou ao último dia em primeiro lugar, que há um mês procurava emprego como condutor de carrinhas e que agora já é elogiado por ter «o melhor jogo curto»; o segundo um australiano destemido, que ao ver o ataque de um tubarão branco a Mick Fanning disparou na direcção do rival para o ajudar.
Os dois são exemplos vivos de que por vezes há estórias muito melhores que qualquer resultado."
Nuno Perestrelo, in A Bola
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