"A performance desportiva do FC Porto, com a dobradinha alcançada na época transata e a supertaça no início da corrente época desportiva, contradiz com o seu catastrófico desempenho financeiro.
Enquanto a sala de troféus se foi enchendo graças – às manigâncias sobejamente conhecidas e - a gigantescos prejuízos, o cofre foi-se esvaziando e a situação tornou-se insustentável. Num breve futuro, sem dinheiro, tornar-se-á impossível continuarem a vencer.
O que uma análise ao Relatório & Contas do FC Porto nos diz, é que a contabilidade do clube necessita de ser cada vez mais criativa, e que o seu administrador financeiro se vê obrigado a bater à porta de todas as capelinhas para “inventar” dinheiro, de modo a conseguir manter um orçamento inexequível e insuportável para a realidade atual.
O Passivo chegou a atordoantes 497,3 milhões de euros - o maior de sempre de uma SAD em Portugal - e o capital próprio é negativo em mais de 117 milhões de euros! Como se isso não bastasse, o que o FC Porto tem a pagar nos próximos 12 meses é 2,3 vezes superior ao que tem a receber (280,3M contra 122,2M). Não obstante, a contabilidade nem é o obstáculo maior com que se deparam, o imbróglio é mesmo a tesouraria.
Como irá o clube, sem fundo de maneio e tesouraria líquida, aguentar-se até ao fim do ano com obrigações para pagar, como, por exemplo, fornecedores, instituições financeiras por empréstimos contraídos, clubes a quem contratou passes de jogadores, impostos ao Estado, salários dos jogadores sob contrato, entre outras? Operações de “cosmética” e “engenharias contabilísticas” disfarçam o problema, mas não o resolvem.
Os recentes resultados desportivos camuflam a periclitante situação que o clube atravessa e permitem que muitos optem por ignorá-la, nomeadamente os seus sócios e comunicação social em geral, que no passado era tão proficiente a noticiar o elevado passivo do SL Benfica, mas que agora, previsivelmente – e com a subserviência que já nos acostumou – se desobriga do dever de informar. Todavia, deveriam seguir com interesse a delicada e gravíssima atualidade do FC Porto, concretamente:
1- A constante crítica de Pinto da Costa ao Governo e à DGS relativamente ao regresso do público nas bancadas, que se traduzem em cerca de 9 milhões de euros por época;
2- A recusa do Novo Banco (mesmo com o aval da Federação Portuguesa de Futebol) em conceder um empréstimo de 2 Milhões de euros, revelada por Pinto da Costa;
3- A vontade de Brahimi e Maxi Pereira em avançar para os tribunais para receberem aquilo a que, contratualmente, têm direito.
Aliás, são do conhecimento público vários processos abertos em tribunal contra a Porto SAD, entre os quais:
a) O processo interposto por Lopetegui;
b) O processo interposto pelo Celta de Vigo, que viu o FC Porto finalmente aceitar pagar 2 milhões de euros;
c) O processo interposto pelo SL Benfica no caso dos e-mails e cujo tribunal condenou o FC Porto a pagar 2 milhões de euros, embora tanto o FC Porto como o SL Benfica tenham recorrido da decisão;
d) O processo interposto pelo Palmeiras na FIFA no valor de 237 mil euros relativamente ao jogador João Pedro Maturano dos Santos.
E, fazendo jus ao adágio ocidental, denominada Lei de Murphy citada com: «Qualquer coisa que possa correr mal, correrá mal, no pior momento possível», a Ernst & Young, auditora externa do Futebol Clube do Porto, afirma categoricamente que «existe uma incerteza material que pode colocar dúvidas significativas sobre a capacidade do Grupo em se manter em continuidade». Traduzindo: os anéis estão a esgotar-se, seguir-se-ão os dedos.
Se o FC Porto, sem dinheiro em caixa, mas com dívidas e com um capital próprio negativo na ordem das centenas de milhões de euros começar a perder desportivamente, como sairá deste buraco? E como irá investir e revitalizar-se, tendo em conta que o mercado de futebol desvalorizou imenso e que não lhes restam muitos ativos de peso para efetuar encaixes (Marega e Otávio preparam-se para sair a custo zero)?
Sintetizando, esta é a questão que, até ver, ninguém se atreve a tentar responder. As previsões não são animadoras para Contumil. E esta situação absolutamente calamitosa que atravessam está na génese da estratégia bélica que temos assistido, atacando tudo e todos com uma linguagem agressiva e de constante coação.
A Liga Portugal e a Federação Portuguesa de Futebol também estão cientes daquilo que está em jogo, a sobrevivência do FC Porto como até então o conhecemos. Por esse motivo, temos assistido, semana após semana, a uma infinidade de decisões dúbias das equipas de arbitragem, que de tudo têm feito – só falta rematarem à baliza - para que o FC Porto atinja sempre a Liga dos Campeões.
(Parte 1)"