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quarta-feira, 11 de maio de 2016

Estamos 'vivos'... agora, concentração na Europa!!!

Benfica 28 - 25 ABC
(1-1)
(15-10)

Tudo empatado na Final, num bom jogo do Benfica, principalmente na defesa... com o Figueira em grande! A diferença de golos acaba por ser escassa, a rotação no plantel nos últimos minutos, fez aproximar o  ABC 'artificialmente'!!!

Conseguimos controlar melhor o contra-ataque do ABC (em Braga 'quase' metade dos golos do ABC foram em reposições rápidas, após golo do Benfica!!!), e a 'ausência' do Grilo limitou muito o ataque organizado do ABC, só marcaram 3 golos dos 9 metros!!!
Creio que o jogo do próximo sábado (1.ª mão da Final da Challenge Cup) condicionou algumas opções! Hoje, a diferença de golos não contou, mas no Sábado conta! Temos que levar para Braga uma boa vantagem...

Grande jogo dos nossos Pontas... O Uelington, o Ales e o Semedo têm que 'dar' mais à equipa, no ataque... Temos que ganhar um jogo em Braga!

'Verissimo', 'verissimo', 'verissimo'!

"Além de limpinho, o resultado do Benfica no Funchal foi verissimo (palavra italiana significando muito verdadeiro). A competência solidária - perante o infortúnio de bolas (quase) a entrar e de decisões de um promissor mas ainda verde árbitro - resultou numa vitória categórica.
Acabou uma semana incendiária e de alusão a filantrópicos mecenatos, com a manifesta conivência de operetas de sangue e caçoada de que algumas televisões (não todas) se aproveitam para o seu negócio no mercado das emoções, sem limites morais e deontológicos.
Os justiceiros de plantão nem sequer se podem queixar de o Benfica acabar com 11 atletas. Graças ao árbitro (no 1º cartão) e ao Renato (no 2°), soubemos, mesmo assim, ganhar com fortaleza, galhardia e coesão.
Luís Filipe Vieira tem sido exemplar na necessidade de manter a concentração e em não responder à provocação da pletora de tantos agentes poluidores.
Uma coisa é certa: acabou o famigerado campeonato de líderes à condição e do manómetro de pressão sobre jogar-se antes ou depois (como se os jogadores fossem meninos de coro). No domingo, independentemente dos resultados, já não haverá lugar a essa invenção de se ser líder à condição, uma espécie de coito interrompido depois de uma noite dormida sobre a liderança. À condição - esse modismo de mau gosto e de indigente português que faz das capas dos jornais e dos comentários audiovisuais mais um exemplo de como dilacerar a nossa língua já de si tão maltratada - chega ao fim com a última jornada em simultâneo! Basta!"

Bagão Félix, in A Bola

A sério? Foi mesmo surpresa?

"O Benfica vendeu Renato Sanches ao Bayern Munique por 35 milhões de euros, podendo o clube português ganhar ainda muitos mais milhões se o jovem conseguir atingir determinados objectivos desportivos, acordados no contrato. A notícia surpreendeu muita gente mas não pode ser considerada uma surpresa, porque Renato é um dos jogadores portugueses mais mediáticos da actualidade e há muito que se ouvia falar que os grandes clubes europeus se prepararam para o pescar.
Mas Renato, em Portugal, é igualmente um dos jogadores mais controversos dos últimos meses, porque há quem o considere fantástico, quem acredite que é apenas promissor e há, ainda, quem defenda que não passa dum produto de marketing do Benfica, supervalorizado pela análise da comunicação social. Estes últimos dirão agora, também, que o negócio só foi possível porque o superempresário Jorge Mendes o possibilitou. Sim, claro, porque os alemães costumam gostar de deitar dinheiro à rua... Possa ou não tornar-se uma estrela mundial - na minha opinião tem ainda de crescer muito mas tem carisma e condições excelentes para o conseguir -, Renato representa, desde logo, uma certeza: a de que a formação é o caminho que devem os clubes portugueses seguir.
O que importa é que entrou dinheiro e saiu para a grande montra do futebol mais um talento e todos nós, portugueses, deveríamos estar satisfeitos. Mas duvido que seja assim. Muito provavelmente alguns ficarão agora à espera é de ver os jogadores dos seus clubes sair por mais milhões que os pagos por Renato; uma espécie de campeonato onde se jogam apenas rivalidades sem sentido. O que é bom de comparar é que este pequeno país continua a formar e a exportar com qualidade."

Nélson Feiteirona, in A Bola

O melhor negócio da história

"Há três vencedores nesta histórica transferência de Renato Sanches para o Bayern Munique; o jogador é sempre o centro de tudo, mas é impossível não reconhecer nesta hora os extraordinários méritos de Luís Filipe Vieira e Rui Vitória.
Renato está nas bocas do Mundo por ter feito tanto em tão pouco tempo, sendo importante lembrar o contexto em que se tornou protagonista. Dizem os princípios mais conservadores que é preciso estarem reunidas as condições ideais para se lançar jovens jogadores. Essas condições incluem quase sempre uma situação estável na classificação, estar a ganhar o jogo de forma tranquila e, então sim, um 'miúdo' pode ter direito a alguns minutos. Tudo mentira!
O mais extraordinário produto da Academia do Seixal chegou ao onze das águias com a equipa afundada em dúvidas, à procura de soluções e com os adeptos desconfiados. E o que ficará para a história é que, em 2015/16, houve um Benfica antes e outro depois da chegada de Renato. Pelo caminho chegou à Selecção A, brilhou na Liga dos Campeões, seduziu alguns dos maiores clubes europeus e 'obrigou' o todo-poderoso Bayern a fechar um negócio que, no mínimo, chegará aos 60 milhões de euros. Com 18 anos, e ainda júnior, está aqui o melhor negócio da história.
Luís Filipe Vieira e Rui Vitória são as outras estrelas do processo. O presidente vê triunfar em toda a linha a sua determinada aposta na formação e logo na temporada em que decidiu impor um novo paradigma na gestão desportiva. Esta venda transforma-o, também, num dos homens do momento. Rui Vitória fica igualmente ligado à transferência do ano. Sem a coragem e a visão do treinador, Renato Sanches ainda estaria a esta hora entre os juniores e a equipa B do Benfica - sem fazer a mais pequena ideia de que havia um cacifo à sua espera no majestoso Allianz Arena."

O bom treinador também é mau

"Ser reconhecido como bom ou apontado como mau treinador depende muito mais dos resultados obtidos que da forma como se trabalha. Exemplos não faltam, e só isso ajuda a explicar como alguém que está nos píncaros pode passar a ser visto com desconfiança. Ou o oposto.
Rui Vitória é um dos melhores exemplos: quando treinou o Vitória de Guimarães andou por cima, andou por baixo, mas sobreviveu às críticas, navegou os elogios e acabou no Benfica, onde de novo andou por baixo - ali a roçar a criação de petições públicas para que fosse despedido. Agora está por cima e talvez no domingo se sagre campeão, deixando por baixo Jorge Jesus - também no Benfica andou em altos e baixos vertiginosos - que vendo reconhecida a qualidade de jogo e a pujança da candidatura do Sporting ao título se vê perante o risco de alguém lhe apontar o dedo como ao homem que tudo podia ter e tudo deixou fugir. 
Na montanha russa das avaliações anda ainda Quim Machado, o treinador cuja primeira volta de campeonato valeu tantos elogios que se tornava evidente ser boa medida de gestão renovar-lhe contrato por um ano. Curiosamente, na segunda volta o seu Vitória de Setúbal conseguiu apenas sete pontos e não faltará já quem lhe vaticine futuro longe do Bonfim. No Restelo, Júlio Velazquez chegou sedutor com conversas de futebol espectáculo, olhos na baliza do adversário, e também ele renovou contrato numa altura em que ainda era possível chegar a um lugar europeu. Foi dando entrevistas interessantes, cultivando a imagem de competência e de diferença, mas a qualificação europeia acabou perdida com deslizes em jogos cruciais. E Petit, demitido no Boavista, quase a fazer o milagre de salvar o Tondela? Talvez o problema esteja mais em nós, que os sentenciamos, que neles!"

Nuno Perestrelo, in A Bola

Estratégia validada

"A transferência de Renato Sanches do Benfica para o Bayern Munique é a validação da estratégia da SAD liderada por Luís Filipe Vieira, quando decidiu olhar para dentro e apostar nos valores da formação. Do ponto de vista desportivo, o miúdo fez 34 jogos e tornou-se num dos elementos nucleares do onze comandado por Rui Vitória, desde que se estreou a titular, precisamente no encontro em que o Benfica carimbou a qualificação para os oitavos-de-final da da Liga dos Campeões. Não obstante o recuo no investimento em reforços, o Benfica está à beira de conquistar o tri e vai disputar a final da Taça CTT, sem esquecer a participação na prova da UEFA, que permitiu um encaixe recorde. Em termos financeiros, este negócio surge na linha de outros feitos nos últimos anos. Por exemplo, Sanches rende, garantidamente, mais do dobro do que Bernardo Silva, quando saiu para o Monaco, depois de presenças esporádicas na equipa principal. Havendo talento e qualidade, não há que recear o risco."

Nuno Martins, in Record

Fantástico menino Renato!

"A maior revelação desta época no futebol português (Diogo Jota aproximou-se; enorme destaque de João Mário e de Danilo teve início na temporada anterior) vai já entrar num colosso mundial: Bayern de Munique. 
Fantástico porque Renato Sanches tem tão-só 18 anos!
Fantástico porque apenas no fecho de outubro deu o enorme salto para a primeira equipa do Benfica; ou seja, menos de 6 meses lhe bastaram para se impor ao ponto de valer imediatos €35 milhões! (tendo o Bayern concorrência de outros monstros mundiais...).
Fantástico porque este miúdo nem é titular da Seleção Nacional e, provavelmente, nem estará, daqui a um mês, no Campeonato da Europa (só que a sua qualidade, com alta dimensão do potencial de crescimento, é gritante!)
Fantástico também por ser a mais vultuosa transferência de futebolista português. O máximo (€30 milhões) era detido por Ricardo Carvalho (saiu para o Chelsea como campeão europeu no FC Porto e vice-campeão europeu na Selecção), Pepe (pegou de estaca no Real Madrid) e Fábio Coentrão (o que menos justificou tal maquia, em parte travado por múltiplas lesões). Verdade: os anos passaram, o mercado ainda mais disparou cotações; mas, caramba, Renato Sanches tem 18 anos! - e insisto, só 6 meses de campeonato nacional... Que flecha!
Imprescindível voto: que este gigantesco salto não seja prematuro. Como vários houve com futebolistas ainda imberbes para aguentarem tremenda pressão mediática, psicológica e até técnico-táctica. Excepção única, que me lembre: Cristiano Ronaldo, evidentemente!
Que o menino Renato não se deslumbre e o Bayern saiba apoiá-lo nas fases de crescimento, amiúde nada fáceis."

Santos Neves, in A Bola

Negócios de mão cheia

"Aos 18 anos, a revelação nacional do ano prepara-se assim para dar o grande salto da sua vida, depois de uma passagem meteórica pela principal equipa da Luz, onde Rui Vitória apostou na sua qualidade.

Poucos teriam dúvidas sobre a não permanência de Renato Sanches no quadro de jogadores do Benfica por muito mais tempo.
A forma categórica como se afirmou na equipa, a importância da sua acção na reviravolta do campeonato que levou os encarnados ao primeiro lugar da classificação, e as observações constantes que iam sendo desenvolvidas pelo scouting de alguns dos mais importantes clubes da Europa, não deixavam dúvidas: o jovem futebolistas estava mesmo prestes a dar o grande salto.
O Manchester United deu muitas vezes indicações de que o seu interesse no jogador havia de permitir-lhe tomar a dianteira no processo de aquisição do passe de Sanches.
Provavelmente acicatado por José Mourinho, que se diz será seu próximo treinador, Old Trafford parecia estar à beira de abrir as portas a uma jovem estrela portuguesa.
De forma mais discreta, o Barcelona deixava indícios de também poder entrar na corrida.
Porém, quando tudo indicava não ser ainda o tempo de fechar as negociações, surge o Bayern de Munique a dar o facto como consumado. Um contrato sensacional, rende ao Benfica 35 milhões de euros, a que se podem juntar muitos mais milhões caso o jogador venha a ser capaz de cumprir determinados objectivos inscritos no contrato.
Afinal, os alemães também já seguiam Renato Sanches há muito tempo, com o seu futuro treinador, Carlo Ancelotti, a ser determinante na sua mudança de Lisboa para a capital da Baviera.
Aos 18 anos, a revelação nacional do ano prepara-se assim para dar o grande salto da sua vida, depois de uma passagem meteórica pela principal equipa da Luz, onde Rui Vitória apostou na sua qualidade e nas garantias que cedo começou a deixar perceber.
Veremos se o próximo Campeonato da Europa pode ou não tornar-se na sua definitiva rampa de lançamento para um dos maiores clubes do mundo, onde o grau de exigência o vai obrigar a estar permanentemente no seu melhor.
A saída de Renato Sanches pode também vir a acelerar outros processos de saída de alguns jogadores que este ano muito se evidenciaram ao serviço dos seus clubes.
O futebol português continua a ser um forte manancial de produção de futebolistas de qualidade, e a Europa sabe isso muito bem."

Benfiquismo (C)

Michael Manniche, o verdadeiro...!!!

Crónica de um ex-treinador de Renato Sanches, o menino que não queria encher chouriços no Benfica

"Renato Paiva foi um de vários treinadores dos escalões jovens do Benfica que ajudaram a fazer de Renato Sanches o que ele hoje é: uma grande promessa do futebol português. Trabalhou com ele durante dois anos, nos sub-16 e sub-17, ajudando-o a moldar o seu carácter e a deixar de ser um jogador selvagem, típico exemplar do futebol de bairro, para chegar à primeira equipa do Benfica - e a partir da próxima época é um dos jogadores às ordens de Carlo Ancelotti no poderoso Bayern de Munique

Soubemos do Renato quando ele estava nos Pupilos do Exércitos, nos escalões de iniciação. Devia ter uns 10 anos e fomos avisados de que havia um miúdo com umas características diferentes dos restantes. Ouvimos falar da sua força física, da sua personalidade, da sua qualidade, também do atrevimento, que correspondiam claramente a um produto do futebol de rua, do futebol do bairro, coisa que hoje há cada vez menos.
Quando fomos vê-lo, confirmámos tudo. Ela chegou-me às mãos nos sub-16, eu treinava os sub-17 e puxei quatro sub-16 para começarem a época com a minha equipa: o Renato Sanches, o Rúben Dias, o Iuri Ribeiro e o Guga. Quando chegou, o Renato, pela sua personalidade e pela sua maneira de ser, todo desenvolto, começou logo por avisar: “Mister, eu venho para aqui mas não é para encher chouriços ou para compor o plantel, eu venho para jogar!”. O pessoal começou a rir-se e dissemos-lhe para não pôr o carro à frente dos bois, para treinar primeiro e depois logo se via. E a verdade é que as coisas acabaram por se confirmar. Há muitos que falam e depois não cumprem, mas com o Renato não: confirmou-se tudo. 
Trabalhei dois anos com ele, nos sub-16 e nos sub-17, fomos campeões nacionais de juvenis, e no ano seguinte metemos 11 jogadores do Benfica, Renato incluído, na fase final do Europeu de sub-17, uma geração magnífica.

A sua desenvoltura física foi desde pequeno a que exibiu neste campeonato. Tem força e uma pujança notável, a que alia uma capacidade técnica muito vincada. O que é que ele não tinha quando chegou? O conhecimento do jogo, consequência do futebol de rua, selvagem, a que estava habituado. Não conseguia perceber que o jogo, a partir de uma determinada idade, começa a ser uma relação entre jogador, colegas de equipa, adversários, espaço e bola. Com o Renato era só ele e bola, não havia mais nada. E na tomada de decisão, e ainda hoje isso ainda acontece, encarava muito o jogo no aspecto individual. E porquê? Porque sentia que era mais forte e, sendo-o, conseguia resolver os problemas sozinho. Pela sua personalidade, queria assumir as dores todas da equipa. Onde estava a bola era onde ele queria estar. Faltavam-lhe as noções colectivas de jogo. E foi esse o nosso trabalho, fazê-lo perceber que há uma relação de factores num jogo de futebol. Essa parte táctica tivemos que a trabalhar muito.
De início não era muito obediente, um típico produto de bairro, onde não há muitas regras e onde teve alguma dificuldade em perceber que estava num universo onde as regras são necessárias, dentro do campo e do balneário, e na parte social que o Benfica também exige: o perceber que fora do estágio o polo ou a camisola têm de estar dentro dos calções ou das calças, regras do clube. Reconheço que o primeiro impacto foi difícil, mas sem nunca ter sido um indisciplinado. Não me lembro de ele ter sido expulso uma vez que fosse na nossa formação.

Um episódio dessa fase passou-se na Milk Cup, na Irlanda, para jogadores juniores. Num dos jogos coloquei os esquemas tácticos na parede do balneário, e como íamos jogar contra ingleses referi que nos cantos, em vez de colocar a bola directamente na área, devíamos fazer pontapés curtos para desposicionar a defesa adversária e depois, sim, meter a bola na área. Os jogadores foram para aquecimento e quando regressaram ao balneário eu vinha um pouco mais atrás e ouço o Renato Sanches, na altura ainda um sub-16, mais novo do que os outros todos, a dizer para os colegas: “Esqueçam lá isso dos cantos curtos, metam a bola na área que para fazer golos é preciso meter a bola lá”. Eu ouvi, registei e na altura em que damos o habitual grito colectivo antes de entrar em campo viro-me para o Renato e pergunto-lhe: “Ouve lá, tu queres ser treinador ou jogador?”. Ele respondeu que queria ser jogador e eu disse-lhe apenas: “Se queres ser jogador deixa-te de dar indicações técnicas e de falar sobre bolas paradas, porque treinadores há muitos”. Ele percebeu a mensagem.
Por aqui se consegue perceber o perfil deste miúdo. Ainda hoje digo que se o Renato fizesse um segundo ano no Benfica, nos seniores, na próxima época seria já um dos líderes do balneário. Enquanto pessoa é um também miúdo excepcional. Um líder pelas suas características e que apesar disso gostava sempre de ajudar os outros. Assumia-se sempre nos momentos difíceis, nos grandes jogos chegava-se à frente, aparecia, nunca se escondia. Um miúdo muito ligado às suas origens, sempre a tentar arranjar coisas para levar para o seu bairro, para os seus amigos, onde sempre esteve até aos sub-16 e antes de vir viver connosco para o centro de estágio do Seixal, nos sub-17. E não era fácil ir e vir todos os dias da Musgueira para o Seixal, de transportes. Ainda hoje, estando no patamar em que está, não deixa de passar muito tempo no seu bairro. 

No Bayern, acho que o Renato vai ser, na posição dele, a 8, um jogador de topo. E porquê? Porque esta posição tem um défice grande no mercado mundial. Para se ser um bom 8 é preciso ter várias qualidades ao mesmo tempo e o Renato é muito completo: fisicamente é forte, assume uma situação de um contra um com grande facilidade, tem uma meia-distância fortíssima, é um miúdo rápido que tem uma boa colocação em campo. Em relação aos números 8 tradicionais tem uma vantagem: quando os jogadores são muito bons tecnicamente, regra geral descuram o aspecto defensivo e o Renato não faz isso, vai com a mesma velocidade para a frente e para trás. Quando ataca que seja mais um e quando defende que seja mais um atrás, também. No ataque tem outro pormenor muito importante: uma coisa é fazer-se um passo vertical que queime linhas, outra coisa é jogar como jogam as equipas grandes contra blocos fechados, que jogam a 20 metros da linha da baliza; e o Renato tem capacidade de desbloquear isto com a bola controlada. Ele leva a bola para a frente e consegue criar espaço para os colegas. Isto são qualidades que possui e tenho a certeza que bem limadas e com trabalho, vão torná-lo um número 8 de nível mundial. Não digo isto hoje só porque ele vai para o Bayern, já o defendo há muito tempo.

Admito que em Munique vá ter que batalhar um bocadinho para conseguir um lugar no onze. Ninguém sabe o que vai na cabeça de Ancelloti e este até pode querer apostar no Renato por achar que não há mais nenhum jogador na equipa com as mesmas características. Com tantas estrelas para o lugar, como o Vidal, por exemplo, é normal que agora se diga que o miúdo vai ter dificuldades. Mas o Ancelloti pode querer mudar tudo. O Bayern é uma equipa que precisa de equilíbrios e ele pode olhar para o Renato como um projecto. Tudo estará relacionado com o modelo de jogo que Ancelloti preparar. Ir para o Bayern nesta altura é fazer o step by step, não é queimar etapas. Ele vai crescer no seio de uma equipa equilibrada.
Na Alemanha, e no Bayern em particular, a pressão será idêntica à do Benfica, mas a pressão dos adversários que irá encontrar não será tanta como a que poderia encontrar se fosse jogar para em Inglaterra ou Espanha. O Bayern é o crónico campeão alemão, e vai continuar a ser, por isso o Renato vai continuar a crescer rodeado de sucesso.
Vai treinar com um treinador que está na linha do Rui Vitória a nível de relações humanas. Quanto à gestão de balneário, lembro-me do Cristiano Ronaldo dizer que o Pellegrini no Real Madrid era quase um pai para os jogadores. Por isso, com o Ancelotti, ele de certeza que vai ter muito carinho e aconchego.
Já a nível de competitividade, eu, se calhar, gostava mais de o ver no campeonato inglês, porque é uma liga mais equilibrada e onde se pratica um jogo mais físico."

A volta do gato preto

"Certa noite, no Craven Cottage, na margem esquerda do Tamisa, trinta mil pessoas puderam assitir a algo de admirável: Jordão e Eusébio percorrendo o campo trocando entre si a bola de cabeça até ao remate definitivo de um golo inesquecível. Qualquer coisa de único, acreditem...

E se falássemos de Jordão? Outro dia trouxe-o aqui por via da vitória no estádio de Colombes, em Paris, frente ao Bayern de Munique, em 1972, fazendo com Eusébio uma parelha de gatos negros em campo vermelho que os bávaros não conseguiram controlar. Nada como voltar à matéria quando esta é suculenta e dá motivo para mais lembranças.
Rui Manuel Trindade Jordão: um daqueles nomes que aprendemos a dizer por extenso. Esteve cinco épocas da Luz e foi campeão quatro vezes.
É verdade que se ligou, depois, mais tarde ao Sporting e tem hoje estatuto de velha glória 'leonina', mas a verdade igualmente verdadeira é que foi o Benfica que o deu ao Futebol e isso não se apaga. Embora tenha vindo de outro Sporting, o Sporting de Benguela, para os juniores 'encarnados' numa transacção que valeu na época ao redor dos trinta contos.
Dinheiro bem gasto!

Podia rabiscar por aqui episódios infinitos sobre a carreira de Jordão. Teve momentos únicos e inigualáveis naquele seu estilo repentista de quem parecia estar adormecido para saltar, de repente, do seu repouso para o centro de batalha. Podia e ainda posso. Voltarei certamente a falar de Jordão, mas hoje quero falar de um noite em Londres na qual o Benfica defrontou o Fulham num jogo dito amigável, nas vésperas de defrontar o Feyenoord para a Taça dos Campeões Europeus -  e que exibição fez Jordão na segunda mão dessa eliminatória no Estádio da Luz!!!
Eram tempos diferentes esses. Não se vivia a cultura do descanso, do repouso, o drama insuportável do desgaste.

O Benfica vendia o seu nome pelo Mundo a preços exorbitantes. Por isso foi o sudoeste de Londres, junto a Hammersmith, entalado entre Putney e Chelsea, para exibir as suas estrelas, apesar de estar à beira de um jogo a doer.
Impossível de esquecer!
No Craven Cottage, os 'encarnados' perderam por 2-3.
Mas isso, para esta crónica pouco importa.
O mais importante foi o golo - um dos golos. O segundo do Benfica.
Imaginem: bola por lato no meio campo. Jordão toca de cabeça para Eusébio e este devolve de cabeça para Jordão. Até aí tudo normal. Mas depois o gesto repete-se. Uma e outra e outra vez. Eusébio e Jordão vão devorando o adversário com toques de cabeça sucessivos, percorrendo assim o espaço até à grande-área. Basta! A bola sai da cabeça de Jordão para o pé direito de Eusébio e o remate de primeira é forte, indefensável e sublime.
O público inglês levanta-se de supetão. Era exactamente para isto que tinham saído de casa.
Os aplausos não param. Uma obra de arte assim nunca se vira desde que o Fulham fora fundado, em 1879.
Eram trinta mil almas em redor de um relvado na margem esquerda do Tamisa.
O primeiro golo do Benfica fora obra de Diamantino. Mas a figura que brilhava na noite era um gato preto de nome Jordão.
«No modesto campo do Fulham assistiu-se ontem à colocação de um jogador português na rampa de lançamento para o estrelato internacional», escrevia Joaquim Letria. «Esse jogador é Jordão! O jovem africano esteve em todas. Foi dele que partiu o primeiro golo e o total mérito do segundo golo benfiquista fica a dever-se a ele e a Eusébio. (...) Um verdadeiro golo de antologia que durante muito tempo perdurará na memória de quantos assistiram ao desafio».
Jordão continuou por muitos anos a ser Jordão e o Estádio da Luz pôde vê-lo na plenitude da sua juventude e aplaudir o seu estilo desconcertante. Depois partiu. Para Saragoça numa época infeliz, e para a Sporting para mais épocas felizes.
Não deixou de ser discreto. Libertava o entusiasmo nos campos de futebol e, fora deles, preferiu sempre o silêncio.
Eu lembro-me dele como o gato preto de Erico Veríssimo.
Aproveitei para roubar-lhe o título desta página. Não levará a mal certamente. Nem que seja pelo prazer com que o li. Nesse livro e em tantos outros da sua autoria. Faço-lhe uma vénia e agradeço.
E saio com um ponto final."

Afonso de Melo, in O Benfica