"Os acontecimentos de Madrid ensombraram um dos mais relevantes momentos do Benfica europeu dos últimos anos
Caros sócios, adeptos e simpatizantes do Sport Lisboa e Benfica, caros amigos:
A grandiosidade, a universalidade e a mística do Benfica não advêm só das vitórias. O Benfica é o que é assumindo plenamente essa grandiosidade, essa mesma universalidade e essa mística construída por uma massa associativa incomparável (para citar Béla Guttmann) por causa desses mesmos adeptos.
O Benfica é, por certo, maior que Portugal, porque, além de um clube de vitórias, é um clube de paixão e - passe a repetição de adeptos. É evidente que somos também - e não menos importante do que isso um clube de princípios e valores. Mas não se enganem, nem se deixem iludir: a diferença, a qualidade, a grandeza do Benfica vem dos adeptos e, só depois, dos dirigentes e dos atletas.
Os adeptos são aqueles que realmente representam o Benfica, sofrendo e apoiando em nome de uma realidade imaterial, muito superior à soma aritmética de todos nós. São eles que dão a verdadeira imagem da dimensão do clube e, em última instância, do espectáculo produzido, em cada jogo, em cada competição, em cada momento, por quem tem a responsabilidade mas, também, o orgulho de representar o Sport Lisboa e Benfica.
Se é assim, então, só poderemos concluir que não faz sentido haver um jogo do Benfica sem adeptos!
Não raras vezes, nós, adeptos, fomos repreendidos, em jogos nacionais e internacionais, por uso (indevido) de material pirotécnico, sendo o clube alvo de aplicação de várias multas. A frequência desse tipo de acontecimentos, e maior gravidade de outros episódios, implicou uma consequência mais pesada.
O Comité de Ética e Disciplina da UEFA, pelo sucedido no Vicente Calderón, no passado dia 30 de Setembro, sancionou o Benfica com um jogo à porta fechada, ainda que com pena suspensa.
Esses acontecimentos ensombraram um dos momentos mais relevantes do Benfica europeu, nos últimos anos.
Depois de Liverpool, em 2006, onde eliminamos o campeão europeu em título, voltamos a ser notícia, agora ao termos vencido o finalista de Lisboa, da Liga dos Campeões, em 2014.
Mas o que a Europa tentará recordar será o episódio das tochas.
Compete-nos fazer com que se lembrem, isso sim, da nossa vitória.
Dando razão à aplicação, agora, de uma mera pena suspensa.
Trata-se de uma decisão com bom senso, sentido de justiça, e adequação da pena aos incidentes em causa.
Ainda assim, quando todos os que não são do Benfica queriam que fossemos forte e exemplarmente castigados - seja por inveja, perseguição, ou até pequenez... -, sendo o mínimo que nos vaticinavam. O ódio e a inveja do Benfica - como sempre - turvaram-lhes a vista e a lucidez para nos desejarem tanto mal.
Não sejamos nós, agora - e adaptando a célebre frase de Thomas Hobbes «o Homem é o lobo do Homem» - os lobos de nós próprios...
Ser do Benfica é apoiar de forma incondicional e apaixonada o nosso clube, é sofrer e não desistir porque temos a certeza da vitória, é estar (sempre) presente, faça chuva ou sol, frio ou calor.
Essa forma desmedida de apoiar uma equipa faz com que, desde sempre, sejamos qualificados - nunca será de mais repeti-lo - como uma grande, incomparável e extraordinária massa associativa.
Assim, e por maioria de razão, apoiar o Benfica não pode significar prejudicar o Benfica.
Até porque não há - entre adeptos do Benfica - destinos diferentes, sejam quais forem as razões da nossa diferenciação!
Ou, para usar uma frase bem conhecida: todos diferentes, todos iguais!
Encontremos, por isso, um caminho para apoiar e festejar, mas sem recurso a objectos que estragam o espectáculo de futebol, de forma a evitar incidentes como os recentemente ocorridos em Madrid.
Apoiar não significa lançar tochas e petardos. Não queremos ser os maus da fita, nem queremos ser iguais aos outros. Não queremos, ainda, manchar os festejos das nossas vitórias, nem queremos, tão-pouco, ficar fora de jogo.
Os sócios que festejam dessa forma são tão sócios e tão do Benfica como eu.
Confesso que não sei, sequer, se naquelas condições e naquele ambiente, eu não poderia vir a cometer o mesmo erro.
Mas com a distância de dirigente, e sobretudo com a legitimidade de 57 anos de idade e 57 anos de sócio, a sofrer, desde que me lembro de mim, pelo Benfica, acho que me sinto com o à-vontade para pedir que isso não se repita.
Por nós, mas, sobretudo, pelo Benfica!
A não ser assim, haverá alguém que, um dia destes, apenas para vingar na política, fará dos nossos adeptos uma arma de arremesso contra o futebol.
Será uma medida populista, de fácil concretização, mas será uma medida, aviso-vos, contra os que só querem o Benfica campeão. Ou seja, uma medida contra todos nós!
Não podemos, também por isso, fazer-lhes a vontade!
Não podemos dar-lhes razões para fazerem carreira política contra nós!
Não podemos, ainda, deixar mal e prejudicar o nosso grande amor, o Sport Lisboa e Benfica!
Porque ser grande é também dar o exemplo enquanto adepto!
Porque ser grande é evidenciar o adicional de alma, de paixão e de mística que, modéstia à parte, nos distingue.
Por isso, e partindo de um denominador comum - a paixão pelo Benfica - e dos valores que sempre nos transmitiram, de respeito e de solidariedade, mas sempre num ambiente de grande alegria, vamos apoiar de forma exemplar o nosso Benfica.
Se todos pensarmos e reflectirmos sobre isso, não será difícil continuarmos a ser os adeptos mais fervorosos e mais apaixonados, dando o exemplo que muitos teimam em achar que não somos capazes de dar.
Teremos de ser, à semelhança do próprio clube, adeptos lutadores, com fervor, emoção e mística... e sempre com um único fim em mente: ganhar... à Benfica.
Vamos começar já a sê-lo no próximo dia 25?
Pelo Benfica!"
Rui Gomes da Silva, in A Bola