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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

TV ao poder

"Se dúvidas houvesse sobre o tema do momento, as eleições no Benfica eliminaram as derradeiras reservas: o negócio dos direitos de transmissão televisiva do futebol profissional. A recente denúncia pela Liga, junto da Autoridade da Concorrência, das ilegalidades dos contratos dos clube profissionais com a PPTV/Olivedesportos, por um lado, e a posição da SAD benfiquista em não renovar contrato com o detentor do monopólio actual (com posição formalizada junto da CMVM), por outro, constituem duas realidades que prenunciam o futuro: avançar para a centralização dos direitos televisivos na Liga ou, em alternativa, num “cartel” concertado de clubes (fora da Liga).
Este último cenário só é possível com um ou mais dos três clubes grandes a liderar e a oferta de uma plataforma audiovisual multinacional; no presente momento histórico, esse clube grande só pode ser o Benfica, mas só o será se outros clubes e SAD virem nesse processo uma emancipação rentável em relação ao sistema actual. Nesta circunstância, parece que os outros dois clubes grandes perderam todo e qualquer protagonismo quando renovaram os seus contratos e se encostaram ao monopolista. À Liga, para o primeiro dos caminhos, cabe convencer o Benfica – ou qualquer outro dos grandes – que essa “segmentação” do mercado tira valor ao produto e todos os que sobram da Olivedesportos se devem juntar na associação da Rua da Constituição. À Olivedesportos, para combater qualquer dos dois caminhos, compete capitalizar o “direito de preferência” em relação a outras ofertas futuras e mostrar que tem capital (ou crédito) para ainda ser o único “player” que se chega à frente com dinheiro e paga.
Não é difícil prever que a questão dos direitos televisivos será a pedra de toque da reconfiguração das estruturas de poder no seio do futebol. 1) A Liga, ao montar a guerra contra o monopólio, joga muito do seu futuro enquanto entidade agregadora dos clubes sem dinheiro. 2) A Federação mostra-se bipolar, apostada que está em asfixiar economicamente a Liga, enquanto gere (ou desperdiça?) o cofre cheio de Madaíl. 3) O “mapa” da rede de interesses entre os grandes e os restantes clubes pode mudar radicalmente. A televisão, capaz de “mudar o Mundo”, pode impor novas “leis”, em nome do respeito pelas leis da concorrência. Cá estaremos para ver os próximos episódios.

Objectivamente (Oliveiras)

"A entrevista de António Oliveira, antigo seleccionador nacional e treinador de FC Porto e Sporting, à Bola TV, é profundamente esclarecedora e retira todas as dúvidas sobre a responsabilidade do que se passou de grave no Futebol português nos últimos anos.
Oliveira não tem dúvidas da força do chamado Sistema que comandava (e ainda comanda em parte) a organização do Futebol português, quanto a títulos, transferências, transmissões, horários, participações nas campanhas europeias, etc, etc.
E diz que o Benfica tem oportunidade soberana de acabar com isto de vez.
Acreditamos que o presidente do Benfica já tenha pensado em tudo isto e saiba qual a melhor estratégia a seguir. Não precisa dos conselhos do «mano» Oliveira para decidir sobre a melhor solução. Mas não deixa de ser curioso que durante anos e anos Oliveira estivesse, quer na Federação - onde a Olivedesportos domina nas transmissões, etc, etc como se viu há pouco tempo sobre a entrega de carros em nome da empresa e funcionários da FPF - quer no FC Porto onde sempre se jogou com o privilegiado tratamento da Olivedesportos, não tenha denunciado esta situação de forma tão clara e combativa como o está a fazer agora.
As zangas familiares não dizem respeito ao Benfica nem à orgânica do futebol português! Oliveira saiu bem e a tempo da Olivedesportos. Recebeu grande indemnização (ainda bem para ele, sem qualquer cinismo...) e agora fala de cátedra. É bom, tem o bolso cheio e ri-se dos que foram na conversa...
Pode até ter muita razão, mas este discurso já deveria ter sido feito há mais de dez anos atrás na hora da saída da sua ex-empresa. Aí é que era. Porque acredito que, apesar de tudo, ele tenha beneficiado muito do domínio do Sistema."

João Diogo, in O Benfica