Últimas indefectivações

sexta-feira, 4 de março de 2011

"Glorioso"

"Vale uma aposta em como Fernão Lopes, caso tivesse nascido na última centúria, seria adepto do Benfica? Os seus 'ventres ao sol', a sua 'arraia miúda', as suas crónicas deliciosas só poderiam ter o vermelho, só poderiam ter o vermelho da bola. 'Esta Lisboa prezada, mirá-la e deixá-la'. Este Benfica prezado, mirá-lo e acompanhá-lo. O Benfica com mais de um século no destino de quem ama.
O BENFICA não é a saudade aflita, é o amanhã que canta. É o cheiro a antigas primaveras, é o saibo de modernas façanhas. Com certeza febril, é a visão das futuras gestas. O autismo benfiquista resulta da ideia de que foi a mais conseguida das ideias, a mais justa das razões, a mais alucinante das quimeras. O Benfica é subsídio, o Benfica é fundamento, o Benfica é auxílio, o Benfica é emenda. O Sport Lisboa e Benfica é avanço. O Benfica conquista.
O BENFICA diz de gente protagonista de sucesso, diz do que se viu. Diz também de gente intérprete de mística, diz do que se sentiu. Diz de gente, diz de sentimento, diz de acometidas, diz de festins. Diz do que diz porque muitos disseram Benfica. Porque muitos fizeram Benfica.
O BENFICA é plural de glória, é verdade eterna. Não tem matemática deprimente, tem prosa entusiástica. Tem porque é Benfica. E porque o Benfica foi, nos últimos 107 anos, a mais bela das coisas belas.
PS - por ocasião de mais um aniversário, reproduzo este texto em homenagem aos meus amigos Alhinho, Bento, Caiado, Cavém, Corona, Enke, Féher, Fernandes, Germano, Jacinto Marques, José Águas, Julinho, Neto, Messias, Torres, Vítor Baptista e Zeca, companheiros de tantas e tantas jornadas."
João Malheiro, in O Benfica

Gigantes

"Gostei muita da vitória sobre o Sporting, na Taça da Liga. Gostei por ser sobre um rival de respeito, gostei por este ter feito um bom jogo, e por, ainda assim, o Benfica ter sido superior. Mas gostei sobretudo porque foi a vitória de uma equipa que quis ganhar a Taça da Liga.
Ao colocar os melhores jogadores, o Benfica respeitou o Sporting, prestigiou a competição e sobretudo mostrou respeito pelos adeptos e pela sua história.
Jorge Jesus não será benfiquista desde pequenino, mas é seguramente um profissional que honra o clube, e dele tem a ideia mais correcta e próxima daquilo que os benfiquistas esperam. Mais vitórias e menos justificações. A próxima final em Coimbra será, pois, mais uma oportunidade de somar títulos e prestígio.
Arsène Wenger não deixou de exclamar que tinha um balneário destroçado por perder a Final da Taça da Liga Inglesa no último domingo.
Lembro apenas que o Arsenal ainda pode ganhar o campeonato, a taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões, mas não justificou nem relativizou a tristeza da derrota.
São assim os clubes grandes quando servidos por profissionais de topo.
É óbvio que chegará o momento em que iremos interromper esta série de vitórias verdadeiramente espectacular que Jorge Jesus e os seus rapazes nos vêm oferecendo, mas quando chegar esse momento bateremos palmas de pé porque sentimos que foram até ao fim das suas forças e com toda a sua alma.
Gostava muito de disputar com o PSG uma eliminatória muito difícil, em condições físicas e com os melhores recursos. Gerir tantos jogos e algumas lesões não vai ser fácil mas acredito no treinador e nos jogadores do Benfica.
A forma como os vi festejar os golos para além do minuto 90 com Marítimo e Sporting mostram que a vontade deles de vencer é igual à minha e isso dá um conforto de gigante. Como gigantes têm sido treinador e jogadores."
Sílvio Cervan, in A Bola

Intensidade dramática

"Há dias assim, dias em que a realidade se parece com um filme escrito e realizado a pensar na comoção dos espectadores. Dá-se a inversão dos princípios e o verdadeiro, de tão incrível e recambolesco, acaba por assemelhar-se e uma telenovela ou a uma fita de Hollywood. Tal como quando Roberto, vindo do banco, substituindo o expulso Júlio César, defendeu o penálti de Hugo Leal e com isso conquistou em definitivo o carinho dos adeptos, no passado domingo, o Sport Lisboa e Benfica assinou uma obra de enorme intensidade dramática. Parecia ficção, da melhor que se pode escrever. A perder em casa frente ao Marítimo, os jogadores, orientados pelo sempre inconformado Jorge Jesus, superaram-se e venceram as imperfeições de juízo do árbitro e respectivos auxiliares, venceram a descrença e a partida, somando mais três pontos.
Vinte valores, após muitas rasteiras e manobras sujas. Vinte valores para os quase 55.000 espectadores que apoiaram a equipa até ao final. Vinte valores para o golo de Fábio Coentrão no derradeiro minuto do jogo, a esgotar o tempo de compensação. Vinte valores para os que lutaram em campo e para os suplentes não utilizados. Só a força conjunta tornou possível esta reviravolta épica, só a energia e o optimismo de todos nos trouxe a este desfecho feliz, capaz de provocar ataques cardíacos no meio dos inúmeros gritos, protestos e impropérios de vária ordem. É muita competição num mês, à média de dois encontros por semana, e que mantém um SLB em forma em todas as frentes, com o Marítimo derrotado na Luz à 21.ª jornada, segui-se o Sporting para a Taça da Liga novamente perante o nosso público. O mesmo público que vai guardando alegrias e pedaços de memória inesquecíveis. O mesmo público que incondicionalmente apoiará a sua equipa em todas as ocasiões. Vinte valores!"
Ricardo Palacin, in O Benfica

Acreditar

"O Marítimo, certamente acreditou que poderia surpreender o Benfica na Luz. O árbitro, provavelmente, acreditou que o resultado não passaria do empate, depois de anular muito perto do fim o golo limpo que daria a vitória ao Benfica. Mas os benfiquistas, que acreditaram até ao derradeiro segundo que o Benfica poderia e acabaria por vencer, foram quem teve razão: a 30 segundos do apito final, o Benfica resolveu.
Um Clube Glorioso faz-se também com muita fé, dos dirigentes, dos jogadores e dos adeptos. E domingo passado, na Luz nova enchente de dezenas de milhar puxou pelo Benfica até ao último segundo e até à vitória.
Poderia compreender-se que a equipa apresentasse sinais de fadiga, ao quinto jogo, e quinta vitória, em 15 dias. Mas a verdade é que o Benfica até poderia ter goleado uma equipa organizada e aguerrida como a do Marítimo. Ou poderia, simplesmente, fazer um resultado tranquilo. Mas as coisas complicaram-se - o árbitro ajudou à complicação - e o Benfica viu-se a perder a alguns minutos do fim. Confesso-me, humildemente, homem de pouca fé, naqueles minutos finais. A minha condição humana pesou mais que o meu benfiquismo. E, assim, alimentei mais esperança num volte face do que verdadeira confiança na possibilidade da equipa dar a volta ao resultado. Mas foi isso que aconteceu: o Benfica venceu uma arbitragem incompetente, venceu os seus próprios limites e venceu o jogo.
E esta vitória deu aos benfiquistas, mesmo aos temerosos, razões para acreditar. Venha quem e o que vier: calendário, adversários e até gestões habilidosas de quintos amarelos, e de outros cartões. O Benfica está um vencedor."
João Paulo Guerra, in O Benfica

Grande Capitão

"1. Mário Coluna recebeu no passado sábado a Águia de Ouro, distinção máxima do Clube. O nosso 'Grande Capitão' mereceu-a amplamente. E, a propósito, mais uma vez volto a referi-lo: perdeu-se no Benfica, muito por culpa das últimas Direcções, o bom hábito de se distinguirem aqueles que mais fizeram pelo Clube. Para além das (justíssimas) Águias de Ouro aos dois últimos presidentes, foram também homenageados, com o galardão máximo, Mário Dias, o 'homem do estádio', e Mário Coluna, neste caso por iniciativa de um grupo de sócios. De resto, na última década (pelo menos) não houve novos Águias de Prata nem de Bronze (há muito esquecida) e muito menos simples Sócios de Mérito - e tantos haveria a distinguir. Era altura de se retomar este processo, começando por se eleger uma comissão de benfiquistas que regulamentasse, minimamente, a atribuição de distinções e, depois, desse pareceres sobre os nomes que fossem surgindo, de forma a melhor habilitar os sócios na hora da votação em Assembleia Geral.
2. Grande exibição em Estugarda! Começo a sonhar com novas grandes jornadas europeias...
3. Muito sofrida (mas justíssima) a vitória sobre o Marítimo, arrancada 'a ferros' por uma equipa que nunca deixou de acreditar e foi apoiada por 55 mil adeptos que não caberiam em qualquer outro estádio em Portugal. Isto estando o Benfica a (muito injustos) oito pontos do líder, o que torna muito difícil (mas ainda não impossível) a renovação do título. Faria, se estivéssemos à frente...
4. O caso dos novos estatutos da Federação já cansa... há muito. Agora, a FIFA e a UEFA deram a devida resposta às associações golpistas que primeiro garantiram que aceitavam o que as duas entidades decidissem e, depois, face às claras respostas destas (reafirmando nada haver contra o que está regulamentado), tentaram atrasar ainda mais o processo, pretendendo, elas próprias, ser recebidas naquelas instâncias internacionais. Levaram 'sopa', claro, apesar da paciência (exagerada...) de Gilberto Madail. Será que agora vão dizer que não estão esclarecidas e, por isso, continuarão a manter o boicote?"
Arons de Carvalho, in O Benfica

Coluna e o bom espírito

"Este sábado, Coluna, esse nome maiúsculo do futebol português, do futebol mundial - e reza a lenda que, já nos dias gloriosos do amor à camisola, Eusébio o tratava com um respeitinho à parte, “Senhor Coluna, posso marcar o penálti?” -, recebeu a águia de ouro. De corações levantados, a nação benfiquista aplaudiu com a alma toda; um aplauso espontâneo, genuíno, fortíssimo.
No domingo, esse espírito deu-nos a vitória contra o Marítimo. Uma vitória épica e lírica, dramática e mais que merecida, um conseguimento histórico todo apontado ao futuro.
É essa a grande notícia, caros amigos. Podemos não ganhar o campeonato este ano, mas já ganhámos este espírito de nunca-descrer, de vamos-vencer-e-vamos - e isso vale os mil e um campeonatos de amanhã. O treinador até pode errar (como errou o treinador do Benfica ao tirar Aimar, partindo a equipa, retirando-lhe inteligência e visão; como errou Jorge Jesus ao perder a cabeça nos protestos do fim do jogo...), mas o espírito pode mais. A má sorte pode enervar (como enervou no domingo: bolas ao poste, bolas por um triz, um golo que afinal não valeu...), mas este espírito vale muito mais.
Um estoiro de adrenalina, aquele golo de Coentrão com o pé menos famoso. No último dos últimos segundinhos dos descontos. Para aquilo nem há palavras de dicionário: douraltidência, imensartismo, inesquecidade. Que tiraço - a matéria de que se fazem os sonhos e as histórias mais verdadeiras.
Antes, caíra um frio de proporções nórdicas na Catedral: Djalma (que nome maravilhoso) salta na nossa área e, com um simples virar de cabeça, muda em golo um pontapé de canto. Cinquenta e cinco mil pessoas em silêncio na Luz, um suspiro de milhões por esse Mundo. O relógio apertava, agigantava-se o problema. Mas baixámos os braços, entristecemos, desanimámos? Nem sombra de nada disso, caros amigos. Fomos logo lá para a frente fazer pela vida - de novo, sempre.
De costas para a baliza, Cardozo, o nosso paraguaio melancólico, junta quatro ou cinco madeirenses à sua volta e solta a bola para a esquerda; Fábio “Super-craque” Coentrão lança o mais venenoso dos esféricos, um passe diagonal, rasteiro, a cruzar a área, baralhando defesas e guarda-redes; e, do outro lado, como que aterrando de uma viagem transatlântica, aparece Salvio, a tocar para dentro. Com este espírito, é para a glória, não é, senhor Coluna, só pode ser para a glória, não é?"
Jacinto Lucas Pires, in Jornal de Notícias

A pastilha elástica

"Passam os anos mas ninguém me tira da cabeça que o antigo árbitro Francisco Silva, único a sofrer um castigo de irradiação no futebol português (cadê os outros?, perguntariam os nossos irmãos brasileiros...), foi, no seu tempo, uma espécie de pastilha elástica para o sistema dirigente do futebol de então. Ou seja, primeiro mastigado, depois deitado fora. Literalmente sem apelo nem agravo.
Francisco Silva, para os menos recordados, árbitro e chefe de família algarvio, foi apanhado numa célebre noite fria de Penafiel, na sua cabina do Estádio 25 de Abril, ainda antes de entrar em cena para dirigir um Penafiel-Belenenses. Em cima da mesa, Francisco Silva tinha um envelope e dentro do envelope estaria um cheque.
O 25 de Abril de Francisco Silva foi-lhe tudo menos gratificante, além de nada democrático, pois os então dirigentes da sua classe irromperam-lhe pela cabina e condenaram-no sumariamente. Se tinha um cheque, Francisco Silva fora corrupto. Sem direito a uma palavra. Sem defesa possível.
Ninguém me tira da cabeça: como a pastilha elástica, era chegada a hora de deitar fora Francisco Silva. O bode expiatório que o próprio sistema implorava ver encontrado para que tudo pudesse continuar na mesma no mundo da arbitragem: as observações, as classificações, as internacionalizações, as promoções e despromoções, enfim, o regabofe em que o futebol português chegou a parecer tornar-se muito forte nos últimos 25 anos.
Vem este exemplo de pastilha elástica (coisa que nos vêm à cabeça, sabe-se lá porquê...) a propósito de cabinas, túneis e de verdadeiras pastilhas elásticas, tão do agrado, entre outros, de figuras como o velho treinador do Manchester United, sir Alex Ferguson, ou do ainda recente treinador do Benfica, armado cavaleiro logo na sua primeira época na Luz, que dá pelo nome de Jorge Jesus. Tal como o sábio treinador escocês tão campeão pelos ingleses, também o inconstante treinador português do tão campeão clube encarnado de Lisboa não dispensa a pastilha.
Elástica das boas, daquelas densas, cheias de goma, tipo Gorila ou mesmo Super-Gorila, capaz de se ver esticada sem partir, eis a favorita de Jesus, que parece gostar delas resistentes, e passa os 90 minutos de um jogo (mais o respectivo tempo de compensação e não de descontos, como muitas vezes por aí se diz e escreve) a mascá-las com a experiência e o empenho de um autêntico cowboy.
Tem, porém, o treinador do Benfica o curioso cuidado de tirar a pastilha da boca para se atirar em campo aberto, por exemplo, à confusão de uns empurrões e muitos impropérios com adversários - de calções, fato de treino ou mesmo engravatados - no final de um qualquer jogo muito emotivo como foi o que a sua equipa disputou com o Marítimo.
Inequivocamente contra um total desrespeito pelas pastilhas elásticas parece realmente ser Jorge Jesus, nada dado a mastigá-las e a deitá-las fora, como se viu depois do triste espectáculo em pleno relvado das águias, após o apito final do tal encontro Benfica, 2 - Marítimo, 1.
Logo que acalmaram os ânimos daquela súbita investida de personagens de ambas as cores, em torno do árbitro ou de adversários, foi possível descortinar a decisão do treinador encarnado de recolocar a pastilha no seu devido lugar, passando-a de novo - num acto não muito higiénico, é verdade, mas sempre muito dedicado - da mão direita para a boca.
Acto pouco higiénico mas honesto, esse, de quem preza a pastilha elástica e a considera companheira inseparável nas horas boas e nas horas más, e é incapaz de a ver transformada numa espécie de Francisco Silva das chicletes.
Noutros tempos, a pastilha elástica no futebol tinha, pois, um significado bem mais de acordo com a sua própria origem. Era mesmo só para mastigar e deitar fora. Nestes tempos, a muitos nem era dada a oportunidade de terem a dignidade da pastilha elástica de Jorge Jesus. Depois de usados - como o bom do antigo e pobre árbitro algarvio - corriam mesmo o risco de ser deitados fora, o que alguns até mereciam dada a sua apaixonada dedicação a causas pouco nobres.
Nesses tempos, aliás, a pastilha elástica era realmente um hino à metáfora do lado mais escuro do futebol, quando se vivia, ao mesmo tempo, o tempo de grandes confusões nos túneis de alguns estádios, criadas por quem hoje tem a distinta lata de querer atribuir a sua autoria a responsáveis da Luz como Jorge Jesus e Rui Costa, lamentavelmente exaltados em dois ou três jogos episódios nada edificantes, é certo, na sua luta por uma verdade que nem sempre sabem construir e muito menos defender. Mas hoje, pelo menos todos podemos ver às claras a pastilha na boca de Jesus ser mastigada e nem sempre deitada fora, e a irreflexão (sempre criticável) ser obra do acaso e não de um sistema.
Mas é a vida. Continuo, porém, a ter pena dos que jamais saberão perder. Porquê? Saberão esses alguma vez ganhar?"

João Bonzinho, in A Bola

O Benfica é do Mundo!

"Uma vez mais, nem o frio nem a chuva, nem a crise económica foram capazes de afugentar o enorme contingente de emigrantes lusos, residentes no centro da Europa, que voltaram a dizer 'PRESENTE', agora em Estugarda, numa inequívoca demonstração de amor clubistico que se renova a cada jogo na Europa do Futebol.
Como qualquer adeptos, o emigrante Benfiquista torce pela vitória do seu Clube, sendo que essa vitória extravasa o vermelho do Campeão Nacional, tornando-se qualquer jornada gloriosa numa inebriante celebração de portugalidade.
Na verdade, basta olhar para os rostos daqueles benfiquistas residentes por toda a Alemanha, Suíça e Luxemburgo - que fizeram centenas e centenas de quilómetros para estarem presentes - para perceber que o resultado, embora importante, nem é o que mais os motiva. Importante para eles, e isso comprova-o o brilho nos olhos e o embargo na voz, é a oportunidade de ver 'ao vivo e a cores' as suas 'papoilas saltitantes'. Estar no centro do relvado da Catedral com mais de 50.000 pessoas na bancada, minutos antes do início de 'jogo grande' é uma experiência fantástica; ver o Benfica, fora de Portugal, é uma experiência única. Sentir o amor pelo Clube de mais de 4.000 pessoas que, normalmente, não o podem acompanhar de perto, e que colocam naqueles 90 minutos todo o apoio e todo o querer de uma ou duas épocas futebolísticas, é uma dose extra de reforço de benfiquismo. Sentir aquela devoção incondicional reforça a minha ideia de que benfiquista algum tem o direito de assobiar a sua equipa na Catedral, mesmo nos piores momentos, pois existiriam milhares de outros benfiquistas que muito dariam para estar no seu lugar apoiando-a.
O Benfica nunca ganhara na Alemanha? Não precisava sequer de ganhar e ganhou... O desejo dos seus adeptos era que a equipa lhes oferecesse uma exibição sólida, inteligente, de muito trabalho, polvilhado de criatividade que servisse o objectivo de seguir em frente na Liga Europa... foi o que fez. A festa para depois do jogo, essa, estava garantida fosse qual fosse o resultado, porque o amor a este Clube não precisa de resultados para ser celebrado... É-o a cada partida, jogue-se a mesma onde for, contra quem for."
Sérgio Berenguer, in O Benfica

Enguiço quebrado

"O Benfica fez história na deslocação a Estugarda, ao vencer pela primeira vez em território alemão e ao fazê-lo de forma inequívoca e brilhante, sem esquemas tacticistas ou mero calculismo em relação ao resultado. De resto, o que, como benfiquista, mais me fascina na actual fase da equipa é justamente a capacidade de entrega plena que tem demonstrado, revelando uma energia, uma vitalidade e uma vontade de vencer e de convencer absolutamente assinaláveis.
É num Benfica assim que vale a pena acreditar e pelo qual vale a pena torcer, porque sintetiza tudo aquilo que nos faz ter o coração sintonizado com esta forma de sentir e de viver o futebol. Neste grande espectáculo de emoções, a alegria e a vontade, individual e colectiva, são determinantes e mobilizadoras.
Em Estugarda voltámos a ver um Benfica veloz, criativo, coeso, determinado e com indiscutível capacidade de concretização. Voltámos a ver, como tem acontecido há quase dezena e meia de jogos, um verdadeiro Benfica 'à Benfica'.
Ao alcançar o resultado conhecido e ao vencer a eliminatória, o Benfica encheu de alegria, não só os adeptos que o acompanharam na deslocação, mas também um número apreciável de portugueses radicados na Alemanha. Como nenhuma outra equipa, Benfica tem uma implantação junto das comunidades portuguesas que é invulgar e até comovente.
Em Estugarda quebrou-se o enguiço e ficou demonstrado que os relvados alemães não estão vedados aos triunfos benfiquistas.
Mas existe uma razão adicional para que eu me sinta feliz com este resultado. Numa época em que a Alemanha impõe, no quadro da União Europeia, as suas regras e interesses, subalternizando de forma ostensiva parceiros em crise como a Grécia, a Irlanda ou Portugal, dá gosto ver que dois golos sem resposta também ajudam a estabelecer outros equilíbrios europeus. É certo que o Futebol não resolve as crises, mas ajuda a dar força anímica a quem precisa de as superar. Belo Benfica europeu!"
José Jorge Letria, in O Benfica

Benfica vs. Bayern. Uma passadeira vermelha para o árbitro

"Há 35 anos, o escocês John Gordon precisou de dois batedores da polícia para chegar a tempo de apitar o jogo dos quartos-de-final da Taça dos Campeões.
Com o técnico jugoslavo Milorad Pavic ao leme, o Benfica recupera a hegemonia perdida (para o Sporting) e ganha o campeonato nacional em 1974-75, que lhe garante o acesso directo à Taça dos Campeões da época seguinte. Aí o Benfica já é outro, com Mário Wilson a substituir Pavic, de malas aviadas para o Málaga.
A pré-época começa na Indonésia, com um empate (0-0 com a selecção de Jacarta) e uma vitória (2-1 aos argentinos do Rosario Central). Segue-se França, onde o Benfica perde 2-0 com Humberto Coelho. "Serão quatro longos anos fora de casa, mas já sonho com o regresso ao Benfica", desabafa o defesa-central português, transferido nesse Verão para o Paris SG. Que não estava qualificado para nenhuma das três competições europeias. O Benfica, esse, sim. E as primeiras duas eliminatórias na Taça dos Campeões são esquisitas. Na primeira, 7-0 ao Fenerbahçe na Luz e 0-1 em Istambul, onde Jordão recusa dar a bola ao árbitro no final do jogo e é suspenso um jogo pela UEFA por comportamento incorrecto. Curiosamente, da Hungria viria o adversário seguinte do Benfica. Na Luz, 5-2. Em Budapeste, está 2-0 para os magiares aos 51 minutos. Mais um golo e adeus Europa para o Benfica. Para agravar a situação, o médio Vítor Martins é expulso aos 60 minutos. Com menos um, o Benfica sofre o 3-0 de Dunai II aos 65'. Com calma, Nené faz o 3-1 (73') e silencia o Ujpest Stadion.
Garantido o apuramento para os quartos-de-final, ao Benfica resta esperar pela sorte no sorteio. Pela frente tem St. Etienne, Bayern Munique, Dínamo Kiev, Hajduk Split, Real Madrid, Borussia M'Gladbach e PSV Eindhoven, que eliminara os encarnados na época anterior (0-0 na Holanda e 2-1 na Luz). Ao Benfica sai-lhe a fava do Bayern Munique de Die Katz (o gato) Maier, Kaiser (imperador) Beckenbauer e Der Bomber (bombardeiro) Müller, entre outros artistas fisicamente superiores aos outros, e tecnicamente também, razão pela qual são bicampeões europeus. Na Luz, o Benfica de Mário Wilson trava os bávaros (0-0). À falta de golos, sobram elogios para os guarda-redes Bento e Maier. "A nossa táctica foi não perder mas ainda tivemos uma ou duas oportunidades de golo bem salvas pelo vosso guarda-redes", sintetiza Diettmar Cramer, treinador dos alemães. Já Mário Wilson deixa escapar: "O grande culpado deste zero a zero foi Maier."
A tudo isto contrapõe o árbitro escocês John Gordon, encantado com a luz de Lisboa e o caminho para a Luz. Duas coisas diferentes, atenção. "Precisei de dois batedores da polícia para chegar a horas ao estádio. Lisboa é encantadora, tem muita luz, porque os prédios são claros e basta um raio de sol para iluminar a cidade. E depois aquela multidão na rua a puxar pelo Benfica." O i fala então com Artur Correia, o ruço, lateral-direito do Benfica desse tempo, que nos confirma a "viagem" do árbitro. "Estagiávamos sempre na Linha e a viagem do hotel para o estádio era um caos. Às vezes ficávamos uma hora presos no autocarro, à espera que a polícia desbloqueasse a situação. Porque as pessoas faziam cordão humano, puxavam por nós, gritavam os nossos nomes. Aí já começávamos a ganhar o jogo." À excepção deste: 0-0. Na RFA, 5-1 para o Bayern, que se sagraria tricampeão europeu."

Rui Tovar, in ionline

O último minuto

"Cinco segundos para o tempo se escoar. Coentrão teve o engenho que compensou a falta de sorte durante o jogo. Assim se chutou direito (com o dito pé) por linhas oblíquas! Cinco segundos, uma eternidade diante de um computador, um ínfimo nada perante uma baliza!
A alegria explosiva de um destes golos tem tanto de orgasmo futebolístico, como tem, de tragédia shakespeariana, um golo sofrido no último momento.
O tempo é uma das magias do futebol. Fisicamente objectivo, não o é dentro de nós. O tempo, no futebol, está entre a nossa medida e a do relógio do árbitro. Dez minutos são uma hora quando ganhamos, e um instante, que se escapa à velocidade da luz, quando buscamos um golo. Uma pressa fora do tempo e um tempo dentro da pressa.
A magia está, também, na hierarquização dos tempos. Um golo aos 20 segundos não é um golo a 20 segundos do fim. Ou um golo ao cair do intervalo não é um golo no reatamento. Um golo nos descontos (como gosto de dizer, em vez da tecnocrata «tempo de compensação») soa sempre a algo fora do tempo. Porque o minuto final é diferente de todos os outros, como se a probabilidade de um golo fosse inferior à de um golo antes. É a expressão da nossa subjectividade face à teoria das probabilidades. É como, no fim de uma viagem, acharmos que o último quilómetro, já nada nos pode acontecer.
Por tudo isto, me divido entre o tempo ao sabor do juiz ou a introdução do tempo útil. Por um lado, evitar-se-ia a batota de queimar tempo, por outro retiraria a sedução do jogo em que também contam os erros, as hesitações e as imprecisões, continua a não haver melhor juiz do que o tempo."
Bagão Félix, in A Bola

Era disto que o Couceiro estava a falar?!!!


Uma coisa eu tenho a certeza, o Director Geral dos Lagartos, desta vez está em sintonia com o Treinador!!!