"Cinco segundos para o tempo se escoar. Coentrão teve o engenho que compensou a falta de sorte durante o jogo. Assim se chutou direito (com o dito pé) por linhas oblíquas! Cinco segundos, uma eternidade diante de um computador, um ínfimo nada perante uma baliza!
A alegria explosiva de um destes golos tem tanto de orgasmo futebolístico, como tem, de tragédia shakespeariana, um golo sofrido no último momento.
O tempo é uma das magias do futebol. Fisicamente objectivo, não o é dentro de nós. O tempo, no futebol, está entre a nossa medida e a do relógio do árbitro. Dez minutos são uma hora quando ganhamos, e um instante, que se escapa à velocidade da luz, quando buscamos um golo. Uma pressa fora do tempo e um tempo dentro da pressa.
A magia está, também, na hierarquização dos tempos. Um golo aos 20 segundos não é um golo a 20 segundos do fim. Ou um golo ao cair do intervalo não é um golo no reatamento. Um golo nos descontos (como gosto de dizer, em vez da tecnocrata «tempo de compensação») soa sempre a algo fora do tempo. Porque o minuto final é diferente de todos os outros, como se a probabilidade de um golo fosse inferior à de um golo antes. É a expressão da nossa subjectividade face à teoria das probabilidades. É como, no fim de uma viagem, acharmos que o último quilómetro, já nada nos pode acontecer.
Por tudo isto, me divido entre o tempo ao sabor do juiz ou a introdução do tempo útil. Por um lado, evitar-se-ia a batota de queimar tempo, por outro retiraria a sedução do jogo em que também contam os erros, as hesitações e as imprecisões, continua a não haver melhor juiz do que o tempo."
Bagão Félix, in A Bola
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