"Já lá estamos
1. Já estamos! Depois da Polónia, nas grandes penalidades, seguiu-se o País de Gales, com uma grande exibição! Agora, venha o Diabo e escolha!
Independentemente da sorte que nos tem acompanhado, Portugal era claramente favorito, frente ao País de Gales, que se estreou neste Europeu e que, por isso, já fez história.
Não querendo menosprezar as várias proezas alcançadas por Bale & C.ª neste Europeu, a verdade é que só Portugal poderia ganhar (e já nem falo nos dois jogadores fundamentais deles, que, sabia-se, não iriam jogar, por acumulação de amarelos). Até porque, como «uma andorinha não faz a primavera», também um grande jogador não faz uma equipa campeã.
Ontem ganhámos porque, para além de termos melhores jogadores, demonstramos ter, também, uma equipa coesa, respeitando sempre o adversário. Sabíamos que nos faltava apenas um jogo, para que pudéssemos estar na final, em Paris, que será - espero - o da concretização do nosso sonho.
Para além disso, numa demonstração de que não há jogadores indispensáveis, ninguém deu pela falta de Pepe (pese embora ter tido uma grande participação neste Europeu), face à grande exibição de Bruno Alves (que eu, na passada segunda-feira, tinha antecipado como podendo ser efectivo neste jogo, com a surpresa e alguma discordância de muita gente).
Foi apenas e tão só um jogo, que acabou como seria suposto acabar. Com a equipa surpresa da prova a terminar onde terminam, por tradição, todas as que assumem essa condição: nas meias-finais. Foi assim, connosco, em 66 e em 84, lembram-se?
Por nós, está na altura de nos assumirmos como uma grande selecção. Parece que nos custa reconhecer o que é óbvio: que Portugal é uma das melhores selecções do Europeu e que está frequentemente nos dez primeiros lugares do ranking da FIFA.
Somos um grupo em crescimento, que tem sido capaz de lutar até ao fim, com um grande compromisso colectivo e com uma grande estratégia de comunicação. Finalmente - com essa grande mudança de paradigma - assumamos que faltando, ainda, uma final, falta, apenas, um jogo.
Agora - e porque há justiça no Olimpo do futebol - e para que, juntos, possamos dar «novos mundos ao Mundo», confiemos que estamos a 90 minutos de sermos CAMPEÕES EUROPEUS.
A inveja de uns
2. Portugal tem sido alvo de críticas, muito particularmente da imprensa francesa. Fala-se muito na «sorte» - qual «fado» ou «destino» - que temos tido, por, alegadamente, não jogarmos nada, ou muito pouco, ... e irmos passando! Fala-se, aliás, em injustiça e em milagre.
Já sabemos que a imprensa francesa não gosta da nossa selecção. Mas o respeito pela liberdade de expressão, valor e princípio supremo de qualquer estado de direito democrático, não pode por em causa o respeito por um País, por um Povo.
A imprensa francesa está a travar uma clara guerra psicológica, atacando a seleção portuguesa... talvez por «inveja» - curiosamente, a última palavra de Os Lusíadas.
A muito lusa «inveja» a que se opõe a sempre esquecida «sorte», última palavra de A Portuguesa, na sua versão completa.
De facto, Portugal não é a melhor selecção - até porque aqui ninguém é chauvinista -, mas também não é tão má quanto escrevem. Não temos feito grandes exibições, é certo, mas temos sido eficazes, pragmáticos, com uma equipa sólida e compacta, que não comete muitos erros.
E unida!
Mas independentemente disso, e de opiniões alheias, o importante é ganhar, seja como for, no tempo regulamentar, no prolongamento ou nas grandes penalidades.
Não deixa, contudo, de ser curiosa a inexistência de crítica à selecção francesa, que só agora começa a aparecer, ... sem entusiasmar!
Mas não se acanhem, continuem a provocar e a tentar humilhar ferozmente a selecção portuguesa. Depois perceberão o erro (grave) que cometeram. Lembrem-se de que a final poderá ser um Portugal-França. E lembrem-se que temos a capacidade de alcançar determinadas proezas,sobretudo quando são... Impossíveis!
E a sorte (ou lotaria) de outros
3. Até ontem, Portugal empatou todos os jogos. Ainda assim, atingiu, a esse ritmo - criticável especialmente para os franceses - as meias finais do Europeu. Para tal, bastou gerir cada jogo e ter alguma sorte, de que se fazem os campeões. E quanto aos penalties, será, apenas e só, uma questão de sorte?
Há quem defenda que sim, que se trata, efectivamente, de uma «lotaria». De um caso de sorte ou de azar. Mas não! Trata-se, antes, de grande competência na conversão (e defesa) das mesmas. Aliás, dizia-me, um dia, Humberto Coelho, numa conversa de intervalo de um qualquer jogo, na Luz, que o penalty é um gesto técnico e, como tal, se bem treinado e bem executado, é indefensável. Por vários motivos.
Como escreveu o Professor José Neto, neste jornal, seja pela própria «dinâmica do Futebol e o seu grau de exigência para o sucesso», seja pela necessidade de «obtenção de níveis elevados de rendimento».
Sabendo-se, por diversos estudos realizados, que os guarda-redes têm de se antecipar à partida da bola, estes terão de se treinar física (para que estejam em boa forma) e psicologicamente (ao nível da capacidade sensitiva e da concentração, essencialmente) para isso, para além do estudo pormenorizado, nas vésperas de cada jogo, dos possíveis marcadores e da atenta observação dos mesmos, na devida altura.
Já o marcador do penalty, para além de igual capacidade de concentração, tem de ignorar os factores momentâneos de adversidade e criar confiança no êxito e de tudo o que lhe está subjacente. Tudo isso terá de ser muito trabalhado em cada treino.
E Portugal conseguiu-o!
Contra o «fado» e o destino! E até pode ser que venha a ser Campeão Europeu por causa desse mesmo treino específico. Por mim, não me importaria!
Renato Sanches
4. Exemplo desse trabalho, mas essencialmente dessas capacidades de concentração, de frieza e de classe, foi a maneira como Renato Sanches enfrentou e bateu a segunda grande penalidade, frente à Polónia, nos quartos de final.
O miúdo de 18 anos, que tem mostrado à Europa (e ao Mundo) garra e confiança nas suas capacidades e que nunca vacilou perante nada, incutindo maior intensidade ao jogo e assumindo-se como um factor de grande desequilíbrio.
Como tenho vindo sistematicamente a defender... contra o lobby anti-Benfica.
Mas o mais curioso é que há 2 meses discutia-se se devia ser convocado ou não. Muitos defenderam que não. Há 1 mês estava por favor na selecção e, por isso, não devia jogar. Há 15 dias passou a ser uma alternativa semi-válida, mas não poderia, nunca, jogar de início. Hoje, é uma referência incontornável da seleção portuguesa.
Sendo disso reconhecimento a eleição, pela UEFA, pela segunda vez consecutiva, como o melhor jogador em campo. Com o apoio de várias figuras do futebol mundial.
Van Hooijdonk fez-lhe rasgados elogios, defendendo, inclusivamente, a sua titularidade na selecção nacional e comparando-o a Seedorf, um dos ídolos de Renato Sanches, tanto pela maneira de jogar, como pela intensidade que impõe no jogo.
Já Carlo Ancelotti afirmou que Renato Sanches é o melhor jogador do europeu, tratando-se de um fenómeno.
Por isso, não vale a pena desvalorizarem... Porque - já o sabemos - maior que a vossa inveja, só a nossa GRANDEZA!"
Rui Gomes da Silva, in A Bola