"Quando a oportunidade de a nossa selecção competir numa fase final de um Mundial ou de um Europeu - o que tem acontecido sempre neste século! - a fase que os antecede é objecto de 'não notícias', reportagens, entrevistas e análises fastidiosas e repetidas ad nauseam.
Não havendo verdadeiramente nada para dizer, gramamos sessões televisivas, onde há desde imagens de pseudotreinos e de brincadeiras de pessoas crescidas sem qualquer interesse, até reportagens sobre a potência e cavalos dos bólides dos craques ou o modo como matam o tempo (curioso... matar o tempo!) nas longas horas em que o tempo quase os mata. E ouvimos, até à exaustão, adjectivações prolixas sobre as vidas de artistas transformados em ídolos endeusados e inacessíveis...
O supra-sumo destas enfadonhas sessões são as entrevistas e as pomposamente referenciadas conferências de imprensa quotidianas. Aí os protagonistas desfilam todos os lugares-comuns que já não se podem ouvir, tais como «vamos dar o melhor», «temos de acreditar», «iremos jogar para chegar o mais longe possível», «já interiorizámos que cada jogo vale 3 pontos», etc., etc. Uf! Façam o favor de se preparar no treino e não nessas conversas moles onde, aliás, não se marcam golos.
Mas para isto, as televisões têm todo o tempo do mundo. Ás vezes para elucidar aspectos importantes para a vida das pessoas comuns, um segundo a mais é quase pecaminoso.
Sei que o que hoje escrevo não é «politicamente correcto». Anseio pelo primeiro dia em que Portugal vai jogar. Porque é de futebol que eu gosto e do meu País que eu amo. O resto dilui-se no vazio do antes..."
Bagão Félix, in A Bola
PS:Ricardo Araújo Pereira partilha as preocupações do Bagão:
"Muitos portugueses ficaram chocados com as revelações de Scolari sobre a responsabilidade do afastamento de Vítor Baía da Selecção Nacional em 2003. Alguns foram mesmo levados a assumir que o Sargentão, orador convidado em workshops sobre a arte da liderança, não passara afinal de mais um aríete do sistema a baixar-se às conveniências de uma determinada corrente dominante.
Os factos relatados, porém, não encerravam grande surpresa. De posse de informações sobre a relação do jogador com a Selecção, inatacável desportivamente mas com alguns pontos de fricção, como a recusa ao Mundial de juniores, a perturbação do Euro’96 ou tomada de lugar na Coreia, e também da promiscuidade de alguns dirigentes de clubes em plenos estágios e viagens da equipa nacional, o treinador brasileiro viu duas soluções na mesma medida: abrir uma frente de conflito capaz de delimitar espaços e despertar apoios, ao mesmo tempo que tornava reféns da sua vontade os adversários mais perigosos.
Ao longo de décadas a Selecção Nacional tem sido um espaço de vaidades saloias e de frequentes abusos de confiança. Em nome do país e com mandato oficial, dirigentes desqualificados, treinadores sem personalidade e jogadores oportunistas passaram por inúmeras situações negativas e inadmissíveis, traindo a solidariedade incondicional da maioria dos adeptos e cidadãos. Usaram e abusaram da Selecção e muitos até a renegaram quando ela deixou de lhes servir.
Quando chegou Scolari, recentemente consagrado campeão mundial, era evidente que Portugal há muito precisava de um treinador estrangeiro, o mais distanciado possível das miseráveis lutas de poder que dirigentes associativos e outros figurões há tanto tempo mantinham em torno da equipa nacional. Sem ter de recuar a Saltillo ou às guerras de Pedroto, inspirou-se nas porcarias de Queiroz, na tibieza de Artur Jorge, no Ferrari de Humberto Coelho e, claro, no fresquíssimo relatório Boronha sobre as noites de Macau, para eleger Baía como a vítima ideal.
Scolari é muito esperto, um manipulador de consciências. O mais interessante após esta aparição surpreendente é a reacção de alguns franco-atiradores, cuspindo fogo contra o homem que, afinal, era tão fraco, tão fraco, que só tomava decisões polémicas porque tinha bênção superior, directamente emanada do homem mais poderoso.
Depois de Otto Glória, conduziu Portugal às melhores classificações de sempre, incluindo um 4.º lugar num Mundial que os portugueses ainda não aprenderam a realçar, como se ficasse algo a dever ao 3.º de 1966. Pinto da Costa muito cedo viu nele uma personagem de outro gabarito e rendeu-se à suprema provação de ficar seis anos à margem – o melhor e mais longo período de estabilidade na vida da Selecção.
Esta força, esta independência, este poder estão de novo sob escrutínio quando a equipa nacional se apruma para mais uma fase final. Não há conquistas sem rupturas, sucesso sem riscos, selecção sem injustiçados – o mais importante legado de Scolari, que nos tornou tão indulgentes para as decisões controversas de Paulo Bento."
"Senhor embaixador da República Popular de Angola, permita-me que lhe dedique as minhas primeiras palavras, não só para lhe agradecer a presença num acto tão significativo para nós, mas que é igualmente – estou certo – de enorme emoção e relevância para o povo de Angola, mas principalmente para dizer-lhe que o Benfica em Angola sente-se em casa e que voltaremos a Angola sempre e sempre que nos quiserem lá.
Angola faz parte da história do Benfica.
Basta lembrar a imagem de José Águas a levantar a nossa primeira Taça dos Campeões Europeus.
Ele que nasceu em Luanda, que cresceu no Lobito, mas que ficará para sempre na nossa história como símbolo do primeiro título europeu do Benfica.
A presença do senhor embaixador nesta sala confirma por isso a boa cooperação e o excelente relacionamento que temos sabido manter e que queremos continuar a ter com a República de Angola.
O futebol é bonito quando tem os melhores.
O futebol teve dias inesquecíveis quando o Pedro Mantorras passou por ele, e a grande tristeza que hoje sinto é a de ver o Pedro fora do futebol.
Sempre pautei a minha vida por procurar no futuro aspirar sempre ao melhor, por dar, no presente, o máximo que posso.
Mas a tudo isto, nunca esqueci de honrar o passado e de ser grato com todos aqueles que nos ajudaram a chegar até aqui.
Já o disse e volto a repetir, sinto hoje a tristeza de estar aqui para homenagear alguém que com a sua simplicidade e o seu talento nos marcou para sempre.
E sinto tristeza porque esta homenagem significa o adeus definitivo do Pedro ao futebol.
O futebol merecia ter tido o Pedro durante muito mais tempo e o Pedro merecia ter podido confirmar a nível mundial o jogador que era.
Este é o capítulo triste desta etapa.
O Pedro foi um exemplo de entrega, de sacrifício, de superação.
Foi – e continua a ser - um exemplo de optimismo e de persistência.
Alguém que nunca deixou de lutar, que sempre superou as dificuldades porque passou.
Acompanhei a sua luta, sei da sua capacidade de resistir, de nunca deixar de acreditar.
Foi por isso que, apesar de tudo, se conseguiu manter no futebol quando outros teriam desistido.
Mesmo para quem estava de fora, foi doloroso ver o Pedro lutar contra o sofrimento, contra as dores e contra as limitações físicas que o impediram de ser o que ele merecia e podia ter sido.
Sei o que tu viveste e tudo o que deste ao Benfica.
Chegou agora o tempo de retribuir, de dizer a todos os benfiquistas e a todos os angolanos que devem ter muito orgulho na pessoa, no carácter e no profissionalismo do Pedro.
É evidente que nunca deixarás o Benfica, porque fazes parte desta casa.
Fazes parte da nossa história e encarnas os valores que fazem do Benfica o Clube que todos conhecemos.
Tenho orgulho no apoio que o Benfica te deu – como já deu a outros jogadores no passado – porque isso diz muito do nosso carácter e confirma que o nosso passado nos honra, mas também nos obriga para com todos aqueles que serviram o Clube.
Quando um caminho acaba, há sempre uma outra opção, um outro caminho que se descobre e esse é o capítulo feliz que aqui quero assinalar.
O Pedro vai ser “embaixador do Benfica”, vai continuar a representar o nosso Clube nos quatro cantos do Mundo.
Mas o Pedro Mantorras não é um embaixador do Benfica por qualquer acto formal ou contratual, ele é embaixador do Benfica porque pelo seu carácter e pela sua entrega ganhou direito a isso.
Ele é “embaixador” do Benfica porque os benfiquistas reconhecem nele esses valores.
Todos os benfiquistas terão a oportunidade de ver o Pedro em campo uma última vez.
Será no próximo dia 18 de Julho, no nosso estádio, no jogo que a Fundação Benfica vai organizar com o ACNUR e com a Fundação Luís Figo.
Uma oportunidade para todos lhe expressarmos a nossa gratidão e o nosso reconhecimento por tudo quanto o Pedro nos deu e nos vai continuar a dar.
Uma palavra, ainda, de agradecimento ao Presidente do Sindicato de Jogadores, Joaquim Evangelista, e já agora, ao Dr. Pedro Nogueira da Rocha, que nos apoiaram – e apoiaram o Pedro - em todo este processo.
A eles o meu reconhecimento e justo agradecimento.
Permitam-me a terminar, que o faça como comecei, com uma palavra ao embaixador da República Popular de Angola.
Uma palavra de esclarecimento que é devida ao embaixador e ao povo de Angola.
A convite do Governo português, o Benfica deu o seu acordo e consentimento para participar num torneio em Angola, neste verão.
Mas também disse, meses mais tarde, que não estaria disponível para fazer essa viagem.
A nossa recusa não teve nada a ver com qualquer problema com o povo ou com o Governo de Angola.
Nada disso! O nosso relacionamento com Angola é tão forte e tão saudável que poderíamos viajar todos os meses ao encontro dos angolanos.
O que já não podemos aceitar é que o Governo português – o mesmo que nos convida pela nossa história a viajar até Angola – permita que elementos desse mesmo governo tratem o Benfica sem o respeito e a dignidade que Benfica merece.
Isso, como podem compreender, é totalmente inaceitável!
O Benfica foi e continua a ser, uma das principais bandeiras do país em todo o Mundo e qualquer bandeira tem nome, identidade e orgulho na sua história.
Nós não somos “o outro clube”. Porque se querem convidar “o outro clube” então enganaram-se na porta.
E quem se engana na porta, só pode esperar que a porta seja fechada!
Desde Março que esperávamos por um pedido de desculpas. Foi tempo a mais!
Cansamo-nos de esperar e fizemos o que tínhamos a fazer: recusar o convite.
Mas isto – que fique bem claro - não tem nada a ver com o povo ou o Governo de Angola.
Senhor embaixador, termino como comecei: o Benfica em Angola sente-se em casa e voltaremos a Angola sempre e sempre que nos quiserem lá."
PS2: No dia em que se homenageou um ex-jogador e um ex-treinador do Glorioso, o Benfica renovou o contrato com um jovem jogador, da equipa de Juniores, que tem um enorme potencial. André Gomes, chegou esta época do Boavista e rapidamente tornou-se o Capitão da equipa (devido a lesões graves nos jogadores mais 'velhos'!!!), jogador com muita classe, que com a bola nos pés faz-me recordar o nosso Maestro Rui Costa (cabeça levantada), apesar de jogar um pouco mais recuado... Este Verão vai comandar a Selecção Nacional no Europeu de Sub-19, com o objectivo de qualificar a Selecção para o Mundial de Sub-20 de 2013... Acredito que temos aqui jogador...!!!
Adenda: Aqui fica a explicação para as criticas ao Governo do País, mais exactamente ao Secretário de Estado da Cultura: