Últimas indefectivações

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Orientação para resultados


"A cada ano letivo que passa, o projeto Para ti Se não faltares! continua a ajudar centenas de jovens, quase meio milhar, em oito escolas do Porto, Ponte de Sor, Montargil e Lisboa. Os resultados sucedem-se há mais de uma década com estes jovens, sinalizados pelas escolas pelas suas problemáticas, a surpreenderem tudo e todos com taxas de sucesso escolar acima dos 90% e chegando a atingir 95%. Parece magia, mas não é!
É apenas trabalho, muita dedicação e muita crença no potencial e qualidades destes jovens. Ambição e rigor, superações e incentivos são os ingredientes desta poção que é alimentada pela chama benfiquista e cozinhada, com paixão e perseverança, por todos e cada um dos jovens do projeto. Claro que no mundo do futebol nós sabemos que tudo é possível e que ninguém está condenado à partida pela sua fragilidade ou condição. Mesmo estigmas como a cor da pele, etnia ou religião minoritária esbatem-se perante o irromper dos valores individuais e arrebatamento dos adeptos. O Benfica é disso mesmo um exemplo bem vivo, por isso criou a Fundação para colocar todo esse potencial transformador ao serviço das pessoas na sua vida real. As pessoas agradecem e, quando sentem a firmeza da nossa mão, erguem-se e acreditam, para logo adiante se agigantarem pelo seu pé e conquistarem a sua realização pessoal. É o caso destes jovens que, ao longo dos três anos de projeto, começam por comparecer nas aulas, atrás dos prémios da Fundação, e acabam a correr pelos resultados porque querem, e na maioria, conseguem, ser cada vez melhores. Mas isso nós já sabíamos à partida que ia acontecer, pois cá em casa é 'De todos, um'."

Jorge Miranda, in O Benfica

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"3
Foi longo o jejum de golos de Gonçalo Ramos no Campeonato, mas agora marca há 3 jornadas consecutivas. Só ao 11.º jogo se estreou a marcar no Campeonato na primeira época e esteve em branco nas 3 partidas seguintes, mas o golo voltou a encontrá-lo: marcara 4 golos em 5 jogos na prova nas 2 épocas anteriores, marcara por 11 vezes em 12 jogos pela equipa B em 2020/21 e fora autor de 8 golos em 9 jogos na UEFA Youth League em 2019/20;

7
Grimaldo e Everton (2) fizeram as assistências para golo em Tondela, passando a ocupar a 2.ª posição ex aequo neste item estatístico, em 2021/22, entre os membros do plantel. O líder destacado, com 15, é Rafa. De resto, considerando as últimas 10 temporadas, e a saída de Pizzi confirmada, Grimaldo é o 2.º com mais assistências (45), Rafa é o 4.º (40), e Everton já é o 11.º (17);

21
Darwin chegou aos 21 golos na presente temporada com um magnífico remate colocadíssimo ao ângulo superior direito da baliza. Já tem, ao fim de 26 jogos disputados, mais 50% do que os golos conseguidos na época de estreia, totalizando 35 (14-21) em competições oficiais desde que representa o Benfica. A enorme evolução do jovem jogador uruguaio é notória e confirmada pelos números. Em 2020/21, Darwin necessitou de 2893 minutos em campo para marcar 14 golos (207 minutos por golo), enquanto nesta época é autor de um golo a cada 81 minutos (21 golos em 1707 minutos);

360
A época não correu de feição a Pizzi, e o empréstimo não surpreende (30 'jogos oficiais', 2 golos, 4 assistências, apenas 986 minutos). Foi 4 vezes campeão, os números não mentem: é um dos grandes jogadores da história do Benfica. Em competições oficiais, 18.º em jogos (360) e 23.º em golos (94, os mesmos que o 22.º, Simão, mas mais 130 jogos)."

João Tomaz, in O Benfica

Estreia nacional à chuva


"A primeira deslocação do voleibol do Benfica para fora do distrito de Lisboa decorreu debaixo de chuva torrencial

Em 1947, a fundação da Federação de Portuguesa de Voleibol permitiu a criação do Campeonato Nacional e, sobretudo, pôr as equipas do Norte e do Sul em confronto, a nível oficial.
A competição reuniu os campeões e vice-campeões de Lisboa e do Porto, em sistema de poule. As duas primeiras jornadas ficaram definidas para os dias 1 e 2 de Dezembro de 1947, a serem disputadas no Norte, em terras onde o voleibol, então como hoje, era uma tradição desportiva muito mais enraizada que na zona do Tejo.
O Benfica jogava a sua nona época desde a criação da secção, encontrando-se numa fase de crescimento, mas já com posição importante no panorama voleibolístico nacional. Como vice-campeão nacional de 1947, conseguiu o acesso ao Campeonato Nacional juntamente com o Instituto Superior Técnico, campeão de Lisboa entre 1939 e 1954.
O jogo da 1.ª jornada, em Espinho, foi o 120.º da equipa de honra benfiquista e a primeira vez que a equipa principal de deslocou para fora da zona de Lisboa.
A partida decorreu com entusiasmo, equilíbrio e, como referiu a imprensa, 'heroísmo' por se levarem os encontros até ao fim, pois caíam 'fortes bátegas de água' que obrigavam a múltiplas interrupções. As equipas do Sul foram as que mais se ressentiram, habituadas 'a actuarem em recintos cobertos, devidamente protegidos contra as intempéries'. O Benfica, ainda assim, acabou por ser superior ao SC Espinho, por 15-8 e 15-12, estreando-se da melhor forma no Campeonato Nacional. Os sets terminavam, então, nos 15 pontos. Jogava-se à melhor de três, e a negra decidia-se nos 21 pontos, sempre com a diferença de dois.
Depois do jogo, foi servido um beberete na sede do adversário. Aos encarnados, os benfiquistas de Espinho, ofereceram um barco de cerâmica, espelho de arte xávega da vila.
No dia seguinte, no campo do Leixões SC, o Benfica entrou da melhor maneira (15-6), mas o campeão do Norte, acabaria por levar a melhor, vencendo por 2-1. Nas duas partidas, o capitão Fernando Ferreira e Joaquim Pereira Duarte foram os mais destacados benfiquistas.
Na segunda volta, em Lisboa, o Benfica teve uma boa prestação. Estabelecendo-se em 2.º lugar, atrás dos universitários que se sagraram os primeiros campeões nacionais, deixaram clara a superioridade de Lisboa face às equipas nortenhas.
Descubra outros momentos da história do voleibol benfiquista na área 3 - orgulho Eclético, do Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

'is' !!!

O Brinco do Baptista #92 - Reserva para três

Falar Benfica #49

Aula: Como não pagar o que se deve...!!!

Modalidades #72: Semanada...

Lacuna no Corredor Central do Benfica


"O jogo com o Gil Vicente e a aposta no modelo de 4x3x3, mostrou-nos mais uma vez que aquilo que era uma estratégia para se tornar uma força do coletivo do Benfica através do preenchimento da zona central com mais um médio, é na realidade inconsequente. Tudo porque prova uma das maiores debilidades que a equipa tem… a falta de agressividade.
No primeiro terço do campeonato o Benfica tentou sempre pressionar e condicionar o adversário através da marcação a referências individuais no momento da construção do adversário, contudo após o jogo com o Sporting ficou exposto como tal cenário poderia ser facilmente contornado e daí para cá a equipa do Benfica tem-se deparado com imensos problemas para suster as construções adversárias.
É já sabido que a equipa do Gil Vicente está recheada de bons valores e a jogar acima de todas as expectativas. Aburjania, Pedrinho e Fujimoto, auxiliados por Lino e Leautey e Navarro conseguiram ultrapassar o meio campo do Benfica com relativa facilidade até porque muita vez existiu indefinição de quem acompanhava quem.
Paulo Bernardo estava a pressionar muito à frente, várias vezes a par de Gonçalo Ramos e isso retirava a critério sempre que o Benfica recuperava a bola e queria construir. Meité sempre mais perdido até porque não é um jogador que decida rápido a ação a tomar e Weigl muita vez sozinho a tentar ocupar espaços deixados para trás.
Este era um problema já com Jorge Jesus e que se mantém com o Nélson Veríssimo.
Pedrinho e Fujimoto, muitas a descair nas alas para libertar espaço interior que iria ser aproveitado para lançar no espaço entre o central e o lateral a ser atacado pelo avançado do respetivo lado (Samuel Lino ou Leautey).
Uma vez que os médios encarnados eram arrastados para fora das zonas interiores através das movimentações dos gilistas, era então Navarro muita vez a baixar para também ele levar os centrais a subir no terreno e assim a bola seguinte entrar nas costas.
Este parece ser um problema que o Benfica não consegue resolver seja em 5x3x2, 5x4x1, 3x4x3 ou 4x3x3… O sistema não será o problema mas sim a ausência de processos alternativos que permitam alternar em caso do adversário optar por estas estratégias."

Força da Tática | Dinâmicas à Esquerda. E Rafa?


"A Análise Tática Às Novas Dinâmicas No Jogo Das Águias

Uma das coisas mais apontadas a Nelson Veríssimo desde a sua chegada é o aumento de rendimento de Grimaldo e Everton, assim como o consequente desaparecimento de Rafa. O modelo de Veríssimo utiliza os extremos mais abertos e menos por dentro, ao contrário do que Jorge Jesus exigia.
Como em tudo, há o bom e o mau. E se por um lado estamos a ver um Everton decisivo como nunca, conseguimos ver também um Rafa com muito menos protagonismo. A qualidade individual não está em questão. O que está em questão é um modelo de jogo que potencia mais as características da sociedade Grimaldo-Everton.
Outra das dificuldades passa também pela instabilidade da lateral direita do SL Benfica. Rafa raramente tem feito três jogos seguidos com o mesmo lateral nas suas costas e isto é um aspeto importante quando falamos na ausência de dinâmicas nesse corredor.
Aliás, se estivermos atentos, o jogo da equipa do SL Benfica passa muito mais pela ala esquerda do que pela ala direita. Contudo, isso acontece pelo facto da equipa também sentir que, para avançar, a esquerda neste momento é mais favorável.
Rafa tem por hábito vir para dentro e desocupar o corredor direito, pelo que Gilberto, Almeida e Lázaro ainda não conseguiram ser regulares. Tudo isto torna complexa a incursão ofensiva por este lado.
Já na esquerda, a equipa tem em Vertonghen o indicador para iniciar as movimentações. Sempre que a bola chega ao internacional belga, Grimaldo desloca-se no sentido de ocupar zonas interiores e Everton abre para receber. Este tipo de dinâmica já rendeu alguns golos aos encarnados, nomeadamente frente ao CD Tondela.
Não obstante, nem tudo é linear. Se a regra é dar o espaço interior para Grimaldo funcionar praticamente como um médio interior pela esquerda e fazer par com Paulo Bernardo ou João Mário (no 4x4x2 do último jogo) e assim aumentar o número de soluções no ataque, também é certo que se Everton avança no um para um na procura pela linha de fundo, Grimaldo tem como preocupação dar a cobertura no corredor esquerdo para reagir a uma possível perda de bola.
Apesar de tudo, Grimaldo e Everton são duas peças constantes no onze do SL Benfica na última época e meia, por isso também a nível de química de entendimento estarão no patamar superior aos colegas da ala oposta.
Se Grimaldo tem muita capacidade para se associar em progressão – e no corredor central isso é ouro para libertar colegas (golo de Everton frente ao Tondela) -, já Everton adora vir da linha, onde tem mais espaço para decidir a melhor ação a tomar e onde consegue enfrentar de frente o opositor direto.
Poderemos esperar que a partir do momento que a ala direita esteja a funcionar de forma semelhante à esquerda a equipa da águia fique mais forte? É apenas uma suposição. Contudo, o SL Benfica precisa urgentemente de colocar todos os setores a funcionar no sentido de enfrentar o que falta da restante época."

A Identidade de Nelson Veríssimo


"A alteração no comando técnico do Benfica ocorreu há já dois meses e depois de duas alterações de sistema e de alguns resultados menos animadores pelo meio, a identidade de Nelson Verissimo parece começar agora a revelar-se.
O 442 que implementou quando assumiu o cargo de treinador da equipa principal do clube deu lugar ao 433 que já utilizava desde início na equipa B encarnada. Ao longo destes 8 jogos, a equipa apresentou regularmente posicionamentos e comportamentos ofensivos audazes e que demonstravam que Nelson traria um melhor jogo posicional, mais jogadores entre linhas e maiores envolvimentos em criação face ao que havia sido comum até à sua entrada.
Na vitória sobre o Tondela ficaram visíveis várias intenções do novo 433 encarnado:
- Jogo posicional. Numa zona mais baixa a equipa apresenta-se em 4+1 na construção, com interiores dentro, extremos fora e o 9 na frente. Já instalados em meio-campo contrário, a construção transforma-se em 2+1, os laterais projetam-se empurrando para dentro os extremos e aumentando o número de jogadores entre linhas e em criação. Paulo Bernardo goza de maior liberdade de movimentos, podendo por vezes baixar para construir.
- Triângulos de corredor lateral em criação. Apesar dos muitos jogadores por dentro, lateral, interior e extremo formam sempre triângulos em corredor lateral para combinar e entrar em zonas de último passe ou remate. Tanto de um lado como de outro, a rápida formação deste triângulo em criação facilita a obtenção de contextos favoráveis para acelerar.
- Sociedade Grimaldo e Everton. Já aqui foi mencionada uma dinâmica habitual do corredor esquerdo do Benfica e o crescimento de Everton com o novo treinador (ver aqui). A verdade é que o brasileiro se posiciona muitas vezes por fora e oferece a possibilidade do espanhol se movimentar com e sem bola para dentro, algo que favorece as características de ambos. A relação entre os dois está a crescer e com a sua qualidade individual e entendimento, o Benfica pode criar muito a partir do seu corredor esquerdo.
- Movimentos de Darwin. Bastante mais forte na profundidade que em apoio ou na área, Darwin tem a missão de esticar o jogo encarnado e a liberdade para o fazer em qualquer corredor. O uruguaio é forte a abrir no corredor lateral, principalmente quando aí encontra espaço para receber e acelerar. Este movimento está acautelado pelo movimento rápido do interior desse lado em acelerar para zonas de finalização. Com este comportamento de Darwin em cair no corredor lateral, a importância de Gonçalo Ramos como interior aumenta, ele que é um jogador com bastante chegada à área e que mantem a presença nesse espaço mesmo sem o 9.
- Preparação da perda. Numa equipa com tantos jogadores a “correr para a frente” em criação ou finalização, bons posicionamentos na preparação de uma possível perda tornam-se fundamentais. Quando instalados em meio-campo contrário e com a entrada da bola em zonas de criação, o lateral contrário junta-se ao 6 numa primeira linha de equilíbrio, com os centrais atrás, conferindo equilíbrio à equipa e coberturas ofensivas em posse.
Ainda que o Benfica não atravesse um momento animador e que a época esteja longe de ser de sucesso, Nelson Verissimo vai continuando a fazer crescer o seu modelo e o nível de jogo parece ir paulatinamente melhorando. Veremos até onde podem crescer os encarnados."

BI: De volta ao Vietname?

A lei da mordaça


"Rui Costa, cansado de ver o Benfica altamente prejudicado dentro de campo, decidiu - e bem – falar. Como temos vindo a denunciar, o facto de a equipa apresentar índices de qualidade exibicionais mais baixos não confere qualquer legitimidade de sermos sistematicamente roubados pelos árbitros. E se os adeptos têm o dever de criticar a equipa quando esta se apresenta mal, também o devem fazer relativamente às péssimas prestações dos árbitros.
Chama-se coerência.
Logo após as críticas mais do que merecidas – e até algo brandas face ao descalabro a que temos assistido jogo após jogo -, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, sem demoras nem vergonhas, imediatamente tentou impor a “lei da mordaça”, colocando um processo contra o Benfica e o seu presidente após denúncia da APAF. E quem é o presidente da Mesa de Assembleia Geral da APAF? Artur Soares Dias. O mesmo que não viu um penálti a favor do Benfica na final da Taça da Liga, nos minutos finais, e não viu uma entrada para vermelho de Matheus. Premiado pelo roubo nesse jogo, foi nomeado para o jogo seguinte do Benfica como árbitro principal. Novo roubo, impedindo o Benfica de ganhar e anulando de forma escandalosa um golo limpo. Como não gostou das críticas, fez “queixinhas” à Federação.
O Conselho de Disciplina é uma anedota. É um dos órgãos mais podres e mais parciais do futebol português. A perseguição ao Benfica é por demais evidente e nem sequer o escondem, pois fazem-no a bel-prazer.
Em fevereiro de 2021, Pinto da Costa, numa declaração na sala de imprensa após o Braga-FC Porto, da Taça de Portugal, repetiu por diversas vezes a palavra "basta". Dias depois, surgem tarjas com a palavra “basta” no estádio do Dragão - chegou igualmente às redes sociais do clube azul e branco. Processo disciplinar? Nenhum! Em janeiro deste ano, o diretor de comunicação do Sporting, Miguel Braga, criticou duramente a arbitragem no Sporting-SC Braga (1-2). Processo disciplinar? Nenhum! Mal o Benfica “abre a boca” para expor os roubos de que foi alvo, é alvo de processo, numa tentativa desesperada de silenciar o clube.
Pois nós dizemos: NÃO SE CALEM! Que paguemos as multas, que enfrentemos os bois pelos cornos. Estes ladrões têm de ser chamados pelos nomes e esta bandalheira tem de ser exposta jornada após jornada! Só assim o futebol português poderá sofrer as reformas necessárias para um dia ficar limpo.
APERTEM-NOS, que eles logo saem da toca! É assim que se faz com as baratas e com as ratazanas de esgoto."

Coincidência?!


"Morre enquanto investigava o telemóvel de um dos principais arguidos e é logo autopsiado e cremado após autópsia.
Fenómenos estranhos acontecem no Porto."

Rui Costa alvo de processo disciplinar por denúncia da APAF


"Em causa estão as posições recentes do presidente do Benfica relativamente às arbitragens.
Adivinhem quem é o Presidente da Assembleia Geral da APAF."

O canto nómada de Jerry Jerome


"Primeiro aborígene campeão da Austrália, Jerry ganhava dinheiro suficiente para provocar a irritação de certos brancos

Por causa de Bruce Chatwin e do seu Canto Nómada deixei-me fascinar pela cultura aborígene. Só gente de um desprendido bom senso de um profundo romantismo é capaz de defender com unhas e dentes que os caminhos percorridos pelos habitantes originais da Austrália pré-colonial deixavam no rasto de cada um que passava por eles um fio da memória dos seus ancestrais, as songlines, uma espécie de mapa musicado onde fixavam as novas paisagens e os novos trilhos pelos quais se aventuravam.
A ideia, por si só, é maravilhosa, bem digna de outra daquele que se tornou no maior viajante e escritor de viagens do nosso tempo, A Anatomia da Errância, que explica como depois de deixar de ser um animal nómada, seguindo os passos das manadas que lhe serviam de alimento, obedecendo ao calendário das seivas, o homem caiu na sedentarização, a principal causa da depressão de todos os distúrbios emocionais que surgiram durante a modernidade. Restlessness, chamou-lhe Chatwin. Palavra definitiva.
Há quem diga que os aborígenes australianos são descendentes dos primeiros humanos a saírem de África para Oriente e que tal migração se deu à cerca de 70 mil anos. Só isso lhes daria uma sensação de posse do território, algo que o homem branco e a sua ideia de supremacia rácica tratou de arrasar desde que os ingleses tomaram posse da ilha que é tão grande que se recusa a ser tratada como ilha e prefere a designação de continente. Quando tomaram conta da Austrália, parece que foram encontrar várias comunidades aborígenes com mais de 300 mil autóctones, divididas em cerca de 500 grupos étnicos e falando 200 línguas diferentes. Nada que encaixasse com o feitio concentracionista de um britânico.
O Império deu caça ao aborígenes, e quando digo caça, digo caça mesmo, com muitos deles a serem abatidos como dingos ou cangurus. Depois, a Austrália já independente, avançou com uma política de assimilação, roubando mais de cem mil crianças aborígenes aos país e internando-as em centros educativos para que absorvessem a cultura ocidental, condição indispensável para que pudessem fazer parte da nova sociedade. Nos anos 60, restavam apenas 40 mil aborígenes na orgulhosa Austrália Branca. E não tinham qualquer tipo de direitos.
Voltemos atrás no tempo. No dia 24 de maio de 1874, Wollon Charlie e a sua mulher Guli, um casal de agricultores aborígenes de Jimbour Station, não longe de Daly, na província de Queensland, trouxeram ao mundo um rapaz que levou o nome de Jerry Jerome. Viviam-se os dias do Control of Aboriginal Protection Act, o que significava que todos os aborígenes, fossem de que tribo fossem (Wolloon e Guli eram yiman), estavam sob o poder de um Chefe Protetor designado pelo governo.
Jerry cresceu bem, para o alto e para o lado, tornou-se num calmeirão assustador e num magnífico cavaleiro e praticante de boxe. Sobre ele ergueram-se toda a espécie de lendas. Tinha um movimento de pernas meio dançante que alegrava os espetadores e ele garantia que bateria qualquer cavalo da região numa corrida de 200 metros. Chamaram-lhe o Ciclone de Warra. Mas tanta exposição teria, inevitavelmente, de esbarrar com a irritação de um branco mais poderoso.
Esteve preso. Finalmente, um grupo de habitantes de Dalby conseguiu fazer aprovar um documento no qual era considerado de half caste, ou seja, mestiço, retirando-lhe a terrível designação de aborígene. A partir daí pôde subir aos ringues e bater descansadamente nos seus adversários.
As vitórias de Jerry, sobretudo sobre o francês Ercole de Balzac e sobre o campeão inglês Jim Sullivan, valeram-lhe bom dinheiro. Suficiente para viver à vontade e até comprar um automóvel. Foi-lhe atribuído o título de campeão australiano de pesos-médios e dava tanto nas vistas que irritou de sobremaneira um canalha chamado J. W. Bleakley que reportou às autoridades financeiras que Jerome tinha aberto uma conta bancária de mais de mil libras esterlinas.
Além disso, acrescentou uma nota que poderia ter sido humorística se não fosse velhaca: «This moneyed gentleman ‘took a ‘ean advantage’ to obstruct discipline and defy authority». Basicamente, ofendia-se pelo facto de Jerry gastar o dinheiro com ele próprio e a sua família, aproveitando-se dos lucros do seu trabalho. Ainda por cima, o boxeur tivera o descaramento de lançar um apelo a todos os aborígenes para se recusarem a trabalhar gratuitamente, algo que se tornara bastante vulgar.
O Ministério das Finanças levou a sério o relatório de Bleakley. Ordenou que se criasse um gabinete de aconselhamento com poder para controlar o dinheiro de Jerry e indicar o tipo de investimentos que devia fazer. Quando morreu, em setembro de 1943, na missão de Cherbourg, Jerome era um velho de cabelo branco e sem qualquer dente na boca. Tal como as gengivas, os seus bolsos estavam vazios."