Últimas indefectivações

domingo, 23 de junho de 2019

Campeãs da II Divisão

Benfica 0 - 0 Braga B


Depois do 9-0 do primeiro jogo, hoje tudo estava preparado para a festa... Só faltou um golinho (até não faltou, mas...), mas nada pode retirar o sentimento de obrigação cumprida...

Agora, para o ano será diferente... e se tivermos arbitragens como a de hoje, as coisas não serão fáceis!!!

PS1: Parabéns à nossa secção de Atletismo, que hoje se sagrou Campeão Nacional de sub-23, em Masculinos e Femininos, numa prova disputada em Vagos.

PS2: Parabéns às nossas meninas Juniores do Futsal, que ontem (sem jogar) se sagraram Bicampeãs Nacionais, e hoje celebraram o título com uma vitória sobre o Modicus por 4-0.

PS3: Parabéns aos nossos Juvenis do Futsal, que após a vitória de 3-5, em Vila do Conde, sobre o Caxinas Poça Barca, se sagraram Campeões Nacionais.

PS4: Em Minsk, nos Jogos Europeus, a Barbara Timo, no Europeu de Judo, acabou por perder no 2.º combate, ficando aquém das expectativas...

PS5: Ontem decorreu no Pavilhão da Luz, a 37.ª edição do Gimnáguia, mas um exemplo de vitalidade do Clube...

Juvenis - 9.ª jornada - Juvenis

Guimarães 1 - 5 Benfica


Já Campeões, e com algumas alterações, nova goleada, desta vez na sempre difícil deslocação a Guimarães...

João Félix e outras notas soltas

"O que vale é o talento de um jogador, a firmeza de uma SAD e a sagacidade de um agente reconhecida nesta atractiva indústria do futebol

1. Terminei o artigo do passado domingo falando de David Banda, um dos filhos de Madonna. E que leva a Mãe a «não deixar Lisboa». Por jogar no Benfica e aproveitar a excelência da Academia do Seixal. Início o artigo deste domingo falando de João Félix que, em razão da eficiência, eficácia e sagacidade da mesma Academia, vai deixar o Benfica e a troco da efectivação de uma fantástica cláusula de rescisão vai rumar a Madrid e, em concreto, ao Atlético de Madrid. O que lemos é que o Atlético quer o jogador, o seu dinâmico treinador o aceita e, decerto, o deseja, e o clube de Madrid só espera receber alguns milhões de transferências já concretizadas e de outras cláusulas de rescisão já anunciadas para entregar a João Félix a verba contratualizada, ser notificada a nossa CMVM - a Comissão de Mercados - e o Benfica ter, em definitivo, consciência da rescisão unilateral de contrato. Sem prejuízo de sabermos que o jogador já esteve em Madrid, já fez exames médicos e ao que se diz, todo o merchandising do Atlético estar pronto para, mal ocorra a apresentação, começar a facturar, e acredita que bastante bem. Sempre são 120 milhões de euros por um talento jovem - e que talento! - e de dezanove anos. Por mim fico contente pelo valor que Benfica arrecada e também pelas contrapartidas financeiras que João Félix irá receber. Também reconheço a capacidade e sedução negociais de Jorge Mendes - e um negócio, qualquer negócio, tem de ser bom para as partes envolvidas! - e acompanhando, aqui, uma efectiva e substancial revolução no plantel que ocorre no Atlético de Madrid e num momento em que os grandes da Europa não ignoram, cá como lá, as mudanças significativas que se vão concretizar nas competições europeias de clubes. Direi, tão só, com a ousadia de ter opinião - e só os homens (ou mulheres) calados é que não erram - que gostaria que o João Félix ficasse mais uma época na Luz e no Seixal e que fosse um elemento importante na reconquista europeia que este concreto Benfica ambiciona e pode (deve) potenciar. Mesmo, renovo a ousadia, que a parcela destinada a Jorge Mendes fosse, naturalmente, diferente. Já que, em razão da visibilidade, daquela sonhada reconquista, o valor de João Félix seria um pouco (bem) superior. Mas recordando Martin Luther King, nestas como em outras matérias, digo que «o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio do bons»! E, nestes dias, há tantos e tantos gritos. Que vão de inveja (e até ciúme) à extrema desconfiança. Mas o que vale é o talento de um jogador, a firmeza de uma SAD e a sagacidade de um agente que é reconhecido nesta atractiva e sugestiva indústria do futebol. Onde a intermediação é uma realidade. Como em todas as outras actividades, importa não ignorar ou até fingir que se minimiza ou, mesmo, desconhece!

2. Li que a equipa feminina do Stuart (Carvalhais) Hóquei Clube de Massamá, actual vice campeã nacional, não vai participar no próximo Nacional. Conheci o arranque desta experiência rica e única e, nela, a concretização do sonho do Professor João Campelo. Ultrapassou dificuldades e vicissitudes e a escola, com a especificidade da utilização pavilhão, que dá e deu nome ao clube passou a ser uma referência no hóquei feminino português. Agora com a chegada das grandes marcas do desporto nacional às diferentes modalidades, e também no âmbito feminino, estes clubes perdem treinadoras e jogadoras. Agora foi o Sporting fazer uma verdadeira OPA - operação privada de aquisição sobre jogadoras da equipa principal da Stuart e, também, sobre quatro jogadoras sub-17. Como, é justo dizer, o Benfica e o Campo Ourique contrataram respectivamente a Sofia Contreiras e a Adriana Costa. Acredito que este clube vai continuar a formar jogadoras e que o espírito inicial - onde os Pais tiveram um papel importante - se vai continuar a afirmar. Mas este ataque mostra que importa reflectir acerca dos clubes de formação, na necessidade de mecanismos de apoio e suporte e, também, assumo-o de uma reflexão, no topo e nas grandes marcas, acerca desta tirania de títulos que perturba e afecta o tecido associativo português. O que fica, aqui, é o registo de um clube que construiu e se constituiu como uma referência no hóquei de patins feminino em Portugal.

3. Arrancaram ontem na capital da Bielorússia, Minsk, os segundos Jogos Europeus. A primeira edição decorreu, quase ao lado, em Baku há quatro anos. Esta nova competição, para além dos recentes Jogos do Mediterrâneo, continua a seduzir muitos atletas e daí que, apesar das especificidades de algumas modalidades - como o atletismo -, todos os países participantes integram as suas principais referências, como acontece com Portugal. Na canoagem e no futebol de praia, no judo e no ténis de mesa, no tiro, nos trampolins ou na ginástica artística estão os principais nomes da respectiva Federação. Mas importa não ignorar a lucidez do Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, que nos avisa, face à criação por algumas modalidades dos Campeonatos Europeus - concorrentes destes Jogos Europeus! - que há, em diferentes realidades internacionais, uma clara tensão que «tem a ver com interesses que, antes de serem desportivos, são comerciais e com os direitos sobre um produto e a forma de o repartir!» Palavras lúcidas e que ajudarão a perceber as razões da natação não ir a Minsk e o voleibol viver uma atractiva Liga das Nações!

4. Na verdade esta nova competição do voleibol - a VNL - é um verdadeiro Campeonato do Mundo. Sucede à denominada Liga Mundial e obriga a viagens intercontinentais e a 15 jogos num mês! Hoje Portugal joga no Irão - em Ardabil - e no fim da semana - entre 28 e 30 de Junho - estará na Alemanha, em Leipzig. E já esteve na Argentina - em Mendonza - no arranque deste mês, seguiu para a Rússia e na semana passada, como vimos e lemos, jogou em Gondomar. É uma competição exigente e cada vitória proporciona nove mil dólares por vitória e quatro mil em caso de derrota. Também nas modalidades o quatro competitivo está a mudar. E a exclusividade - e a unicidade - das competições federativas a ser posta em causa. Como se sente e pressente na natação. Daí que importe acompanhar estas novas realidades como bem adverte o Presidente do Comité Olímpico de Portugal!

5. Vivemos nos últimos dias momentos singulares. Intensos e vibrantes. Não dão audiências, dirão alguns gestores, angustiados, de certas televisões. Mas os momentos de fair play no final da final de futsal - entre Benfica e Sporting - e no final da final de basquetebol entre Benfica e a Oliveirense deveriam ter sido repetidos em alguns programas de desporto que certos canais de informação diariamente produzem e emitem. Grandes momentos e instantes intensos. Como deveriam mostrar - uma e outra vez - a página inteira de publicidade que os Golden Stade Warriors, a equipa vencida na final da NBA, publicou no jornal Toronto Star, um dos jornais de referência da cidade da equipa não americana - os Toronto Raptors - que, pela primeira vez, conquistou uma das competições emblemáticas desta aldeia global desportiva. Recordo, no final destas notas soltas, Winston Churchill: «No desporto, na coragem e à vista do céu, todos os homens se encontraram em termos de igualdade»!

6. Hoje o Estádio Nacional a final do Campeonato de Portugal. Vilafranquense e Casa Pia disputam o troféu mas com a alegria de terem conquistado, em diferentes relvados, o acesso às competições profissionais. Sentido, agora, dificuldades acrescidas. E obrigando a jogarem fora dos respectivos estádios, seja em Rio Maior seja em Mafra! E percebendo todos nós que estes clubes, que tiveram uma vitória desportiva, merecem uma compensação financeira imediata por tal conquista. E esta compensação deve ter um impulso da Liga e da sua nova estrutura directiva. Não pode ser apenas para os que descem da primeira à segunda liga. Deve ser para aqueles dois que sobem da competição federativa à competição profissional. Também aqui «todos os homens se encontram em temos de igualdade»!"

Fernando Seara, in A Bola

O adepto desolado

"Simeone já tem o brinquedo: João Félix. O João Félix já tem o brinquedo: 7 milhões de euros.

O Benfica aguarda telefonema do Banco por causa do seu brinquedo: 120 milhões de euros.
Jorge Mendes, o da ideia de duplicar os 60 milhões de pães também vai receber brinquedo: 12 milhões.
Até o FCP vai ter brinquedo. É fartar, vilanagem!
O Simeone tem uma tarefa simples e fácil que é estar obrigado a ganhar a Liga espanhola. ‘Mestre-escola’ de João Félix, acredita que ninguém o verá, a ele Simeone, a fugir em triunfal galope pela Puerta del Sol, já que com as suas aulas o miúdo Félix vai garantir a Liga e o que só Deus sabe.
Ao professor insigne teria eu aconselhado que já agora devia ter mandado contratar o resto da equipa do Benfica porque o rapaz já está habituado a brilhar com aqueles; não aconselharia contratar a Selecção porque isso dá menos jeito ao João.
Ficamos, portanto, a saber que o Félix só poderá evoluir com o Simeone e nunca avançaria nada com o Lage, o que deixou ficar este adepto com tristeza súbita e alma pesarosa.
Por cá, teremos transmissão em directo de todos os jogos do Atlético de Madrid, mesmo com o Lepe para a Taça del Rey, Rey que está mesmo doido por convidar o puto para ir lá jantar a casa.
Também por cá assistiremos à pescadinha de rabo na boca que é a nossa Liga, o Porto, o Sporting, o Benfica, o Braga, o Braga, o Benfica, o Sporting, o Porto, tudo numa rodinha de mão dada, tipo Matisse.
Entretanto, o Simeone que vai fazendo do João Félix um jogador a sério, e sabendo que o Messi não dura sempre, mandará recado ao Jorge Mendes dizendo que o jovem já está pronto para o Barcelona e como foi ele da ideia também quer 10%.
Passados muitos anos, e já em final de carreira, o João Félix regressará finalmente à casa-mãe – o FCP – para jogar à baliza.
Nem tudo me agrada nesta minha previsão, mas eu sou hoje, sem tirar nem pôr, um adepto desolado."

Objectividade e outras invenções

"A ideia de objectividade é muitas vezes usada para impedir que o outro nos contradiga

Objectividade
1. «A minha análise ao jogo é objectiva», eis o que se ouve. A palavra objectividade não sai do centro da linguagem e das discussões. Palavra que parece ser uma espécie de abracadabra. Ser objectivo tornou-se no objectivo. O objectivo de um analista é ser objectivo.
A objectividade tem vários sentidos: por um lado é aquilo a que se quer chegar (o objectivo) e, portanto, reflecte alguém que vai directo ao assunto.
Por outro lado, pessoa objectiva parece ser aquela que não coloca opiniões pessoais a sujar a limpeza da observação pura, aquela que não é influenciada pelo coração, digamos assim, em fala popular.
Mas sejamos claros: não há análise objectiva de um acontecimento humano; tal como, claro, não há análise objectiva de um jogo. E evidentemente não há opinião objectiva. Opinião objectiva é uma contradição nos termos; é até um paradoxo. Divertido.
Objectividade vem de objecto: é assunto, pois, entre objectos, coisas neutras. Subjectividade vem de subjectam, sujeito.
Um objecto assume a sua objectividade, um sujeito a sua subjectividade. E está bem assim. Objectividade há nas ciências exactas, não nas actividades bem humanas.
Na verdade, a ideia de objectividade é muitas vezes usada para impedir que o outro nos contradiga. Quando alguém afirma, de modo assertivo:
- O que eu digo é objectivo,
Está, afinal, no fundo, a afirmar:
o que eu digo é verdadeiro, o que eu digo não pode ser contrariado ou não pode receber contra-argumentos.
Em síntese, quando alguém diz:
a minha opinião é objectiva
está a impedir que o outro continue, está a terminar o diálogo.
Pelo contrário, quem afirma:
- O que eu digo é subjectivo
está a assumir que há a possibilidade de contraditório, está a permitir a continuação da conversa.
Historicamente, a objectividade esteve muitas vezes ao lado da violência e das ditaduras políticas porque precisamente não permite o contraditório. O poder usa muito a objectividade.

Cinco minutos
2. Há numa frase brutal do cineasta Godard, um dos gigantes do cinema, que, numa entrevista, quando lhe perguntaram sobre a objectividade ou não dos seus filmes, respondeu:
«Objectividade? Objectividade são 5 minutos para Hitler e cinco minutos para os judeus».
Uma frase terrível que simplesmente está a dizer isto: tudo depende do lado em que estás, tudo depende do ponto de vista humano.
A objectividade não é uma questão que diga respeito aos humanos. Mas apenas às máquinas e aos deuses, bons e maus.

A palavra jornalista
3. A palavra jornalista segundo parece, claro, tem origem no francês. A «palavra anglo-francesa jornal, no século XIV, designava um livro que ficava nas igrejas, no qual se faziam registros dos serviços ali prestados» (Gabriel Perissé). No século XVI, jornal, «era um livro usado no comércio para registro de operações de compra e venda». Mais tarde, jornal recebeu o significado de diário, relato do dia individual.
Neste sentido, um jornalista que trabalhe num jornal semanal ou numa revista mensal pode ser considerado uma contradição e ir contra a velha origem da palavra. Alternativa para jornalista que trabalha com outros tempos que não as vinte e quatro horas: semanista, mensalista, enfim as opções são péssimas. Fiquemos com jornalista.
A jorna é o dia de trabalho. Jornalista, neste sentido, seria aquele que relata o dia de trabalho de outros. Mas não se confunda isso com o homem preguiçoso; o jornalista, etimologicamente, é aquele cujo o trabalho era relatar a jorna; a sua jorna seria o relato da jorna.

O que fazer?
4. Um jornalista deve ser objectivo? Não, um jornalista deve tentar usar a sua subjectividade mais verdadeira. E é só. Um jornalista deve, no fundo, ser um sujeito sério. E isso é já imenso. É o imenso a que um humano pode chegar.
Mas, claro, tudo isto é um pouco subjectivo."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

O caso Yedlin

"O Regulamento da FIFA sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores (RSTP) obriga - para além da compensação por formação, em certos casos - ao pagamento de uma taxa ao abrigo do mecanismo de solidariedade, sempre que um jogador é transferido para outro clube antes no final do seu contrato, e essa transferência envolveu a mudança para outra federação.
A Federação dos EUA não implementa, em toda a linha, o RSTP, porquanto é entendido que o mecanismo de solidariedade, tal como ele está previsto nas regras da FIFA, pode colocar em causa as regras da concorrência em vigor nos Estados Unidos, entre outros argumentos.
Assim, quando Yedlin foi transferido dos Seattle Sounders para o Tottenham Hotspur, este último clube contactou o Crossfire Premier - clube onde o jogador tinha treinado enquanto jovem - para lhe pagar o valor correspondente ao mecanismo de solidariedade. O valor acabou por ser entregue à Liga norte-americana - a MLS. O Crossfire levou o caso à Câmara de Resolução de Disputas (DRC) da FIFA, que decidiu recentemente, rejeitando a queixa do clube.
O DRC diz, em primeiro lugar,que o clube tinha direito a receber pagamentos de solidariedade. Porém, rejeita o pedido em que o Tottenham já havia pago o valor total da taxa de transferência à MLS, conforme indicações da própria MLS e da Federação norte-americana, tendo assim agido de boa-fé.
A decisão tem outros elementos relevantes para esta importante discussão sobre a aplicabilidade dos Regulamentos da FIFA pelas várias federações nacionais, podendo fundamentar uma revisão da situação dos pagamentos referentes ao mecanismos de solidariedade nos EUA."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Grandes eventos desportivos, mediatização e espectáculo

"Como poucas actividades, o desporto tem explorado desde o início o potencial da globalização. Neste âmbito, importa realçar os grandes eventos desportivos, sobretudo os Jogos Olímpicos e os Campeonatos Europeus e do Mundo de Futebol. Estes eventos maiores assumem um interesse económico, político, comunicacional e turístico.
Os Jogos Olímpicos, “ressuscitados” por Pierre de Coubertin, em 1894, são um grande evento internacional, com desportos de Verão e de Inverno, em que milhares de atletas participam em várias competições. Os primeiros Jogos Olímpicos Modernos foram celebrados em Atenas, em 25 de Março de 1896, com a presença de milhares de espectadores. Os Jogos Olímpicos assumiram uma grande notoriedade entre as duas Guerras Mundiais, com o aumento constante do número de atletas e de nações participantes. O Olimpismo tornou-se uma filosofia de vida, que combina um conjunto equilibrado de qualidades do corpo, de vontade e de espírito. Aliando desporto, cultura e educação, o Olimpismo pretende criar um estilo de vida.
No caso do futebol, ele é o “estádio supremo da mundialização”. O seu império não conhece fronteiras nem limites. É a “futebolização” da sociedade. Nem todas as modalidades desportivas conseguem vingar no mercado do espectáculo desportivo. De sublinhar também que os meios de comunicação modificam a relação de tempo e de espaço. De fato, os médias, em primeiro lugar a televisão, oferecem o acesso ao desporto a um grande público e, por esta via, assegura o sucesso comercial das competições e a notoriedade dos desportistas e dos clubes. No entanto, a retransmissão do espectáculo desportivo pelos canais privados, depois de uma longa época do “desporto público”, construiu uma obrigação de resultados que reforça a lógica de concorrência entre os diferentes canais (tipo de emissões desportivas, horas de difusão, exclusividade dos direitos de retransmissão). O surgimento de novos média, a multiplicar as possibilidades de retransmissão em directo dos eventos desportivos, com os satélites, contribuíram amplamente para ajudar na globalização do desporto.
O espectáculo desportivo tem uma antiguidade secular. No entanto, ele apresenta nas sociedades contemporâneas desenvolvidas uma singularidade. Os megaeventos assumem uma importância considerável em termos de trocas, transferência e difusão de informação, valores e tecnologias. Na pré-era da televisão, eram o principal veículo da globalização da cultura. Os megaeventos, na sua argumentação, exibem simultaneamente três características principais. Eles são “modernos e não modernos”, “nacionais e não nacionais”, “locais e não locais”."

Para uma ética pós-moderna no futebol

"Correndo embora uma aragem de inquietação nesta (quase) Republica dos Corvos (lembram-se d’A República dos Corvos do José Cardoso Pires?), desde a Educação e a Saúde até às Forças Armadas e à Segurança Social, no futebol corre dinheiro aos milhões, o que me deixa tenso e retenso de inquietação e surpresa. Talvez só a mim e a muitos poucos mais, pois que não oiço um tropel de vozes guturais, trazidas pelo espanto, ou até pela indignação, a questionar por que, nesta Europa cristã, há tanto dinheiro para umas coisas e falta para outras.
Se aqui estivesse um dos corvos de São Vicente, remataria sempre do mesmo modo: “Deixe lá, isto já não tem conserto e, mais dia menos dia, todos os males da gente têm o mesmo fim”. Mas eu, como o Santo António (não quero comparar-me, em capacidade retórica, a este santo que, exceptuando o padre António Vieira, é incomparável na história da oratória nacional) – mas, como ia dizendo, eu, como o Santo António, não sou pessoa, para deixar azedar, dentro de mim, o que tenho para dizer. Procuro ser educado, polido, cortês, mas não escondo o acordo ou o desacordo, diante dos “vencedores” que fazem a História. Até no tempo do “Dinossauro Excelentíssimo” o fiz, mas com um cuidado tal que chego a ter vergonha das minhas infidelidades à ideologia “estadonovista”. No entanto, é da minha autoria o primeiro livro, editado pela Direcção-Geral dos Desportos, em Junho de 1974, depois da Revolução dos Cravos portanto, intitulado Para uma nova dimensão do desporto onde reuni textos escritos por mim, entre 1964 e 1974. O livro jazia escondido, numa gaveta da secretária do director-geral e esclarecia, no prefácio, que “o título Para uma nova dimensão do desporto quer dar o tom a uma iniludível maneira de ver o desporto (…) como prática medial ao serviço do Homem. Visão, por isso, tributária de uma tomada de posição do autor que, em primeiro lugar, significa ruptura com o complexo ideológico que informa o desporto português”…
Max Weber incitava os seus alunos e os seus inúmeros leitores, em Le Savant et le Politique, a “estarmos à altura do quotidiano”. Ora, o que para mim me parece mais evidente, no mundo de hoje, é a relativização dos valores. E porquê? Faço minhas as palavras de Miguel Real, na sua obra Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa (Quidnovi, Maio de 2008), porque 
1. Nada de exterior e transcendente (Deus, Sociedade, Humanidade, Razão, História, Inconsciente, Classe Social…) é superior e determinante, face à consciência singular do sujeito.
2. Nenhum valor em si e nenhuma escala axiológica encontram legitimação universal, fora da sua instauração epocal, social e histórica, ou seja, civilizacional e, por isso, uma consciência individual pode ou não segui-los, sendo sempre legítima, seja seguindo-os, seja não os seguindo.
3. Nenhum código linguístico e nenhuma substância de linguagem podem dar conta da realidade em si, da sua essência, senão fragmentaria e incompletamente; apenas uma fortíssima linguagem emotiva, exterior à razão, como a poesia, subvertendo as conexões semânticas da língua, nos pode aproximar e revelar a essência do homem e do mundo.
4. Nenhum corpo doutrinal (Filosofia, Teologia, Religião, Ciência, Ideologia…) é intrinsecamente capaz de espelhar com realidade o movimento e a substância do Ser.
5. Finalmente, nenhuma acção colectiva ou individual, nenhuma palavra colectiva ou individual são capazes de preencher, senão ilusória e efemeramente, o vazio de absoluto que se instaurou no coração do homem, nestes momentos terminais de uma civilização que, tendo conhecido o paraíso da crença inocente, se oferece hoje a si próprio o inferno de uma aceleração histórica, tão feita de presente fugaz quanto de um futuro sem sentido” (pp, 377/8).
O relativismo axiológico não significa relativismo epistemológico, mas implantação de um fundo agnosticismo na mais funda raiz do nosso ser. Um relativismo onde o “espírito de geometria” prevalece sobre o “espírito de finura”. Onde a quantidade reina e a demagogia se perfila como um dos fatores essenciais do sucesso do relativismo axiológico.
Aprende-se, na fenomenologia: “Toda a consciência é consciência de alguma coisa”. Ou seja, a consciência procura algo ou alguém que não é ela e, portanto lhe é transcendente (no sentido de exterior). Assim, a consciência define-se como intencionalidade. Por outras palavras: qualquer coisa, qualquer pessoa são “fenómenos” para a consciência. O lema do existencialismo: “a existência precede a essência” é assim explicado, precisado por Sartre: ”significa que o homem primeiro existe, descobre-se, surge no mundo e só depois se define. O homem (…) primeiro não é nada. Será apenas depois e será exactamente o que tiver feito de si próprio”. O sujeito sartriano não possui essência, não possui natureza, todo o seu ser radica na ação, na práxis, na criação. Se bem penso, o espaço onde se situa o pensamento de Sartre é o ético ou moral. Vejamos o que ele nos diz, no L’Existentialisme est un Humanisme: “O homem será, antes do mais, aquilo que projectou ser”. E recorrendo ainda ao mesmo livro: portanto, “o homem está condenado a ser livre”. O ser humano é livre e, se é livre, é responsável. Para mim, em Sartre, o ser humano é um sujeito eminentemente ético, por esta razão óbvia: porque se faz, fazendo. Na motricidade humana, que eu defino como “o movimento intencional e solidário da transcendência”, também o atleta, o bailarino, etc. se fazem, fazendo. E, pela transcendência, são projectos que assumem uma situação, para superá-la, ininterruptamente, até ao Absoluto… sempre desejado e sempre inalcançável! Toda a prática desportiva, designadamente a altamente competitiva, vive em êxtase do possível. Conheci um treinador de futebol que me dizia, com as pupilas a destilarem gotas de malícia: “Um jogador profissional de futebol tem de tê-los no sítio. Caso contrário, tem de mudar de profissão”. E sublinhava: “A coragem é das primeiras qualidades, na alta competição. Vê o Maradona? Faz coisas lindas com a bola. Mas leva porrada e não desiste e não se atemoriza. Sem coragem, ele não faria a maioria dos golos que faz”.
Já aqui lembrei a teoria dos três infinitos de Teilhard de Chardin: existe o infinitamente grande dos espaços siderais. Diante deles, cada um de nós nem um grão de areia parece. Mas também existe o infinitamente pequeno dos micro-organismos, que só máquinas potentíssimas podem descortinar. Mas, além de tudo isto, uma outra grandeza se descobre: o infinitamente complexo da consciência humana, com uma nobreza e uma beleza e uma grandeza moral inimagináveis. “Um único ato de amor, notava, com argúcia, Blaise Pascal, vale mais que o universo físico inteiro”. E eu, na sequência de Pascal e de Teilhard de Chardin, costumo dizer: “vale mais uma lágrima humana do que todas as taças e todos os campeonatos do mundo”. Oxalá João Félix aprenda a ser mais homem, no seu novo clube, o Atlético de Madrid, que dele mais não quer do que fazer dele um grande jogador de futebol. Diego Pablo Simeone, o treinador dos colchoneros, afirmou em entrevista à Imprensa: “Historicamente, o Atlético é uma equipa que compra jogadores jovens, para evoluírem. Como aconteceu com o Oblak que, quando chegou, não era o jogador que é hoje. Do João Félix esperamos que seja um rapaz com talento e que possa absorver as nossas ideias. Estamos a trabalhar, no seio do corpo técnico, para criar, para ele, as situações necessárias à sua evolução como jogador de futebol”. No entanto, também de sólida e solidária afectividade é demasiado importante, na evolução de um jogador profissional de futebol, para ser esquecida. Concordo que o futebol seja, para algumas pessoas, cada vez mais, um jogo de números, centrados que estão na análise estatística. Mas nem o futebol (nem o desporto) é matemática tão-só. O Messi é um exemplo a ponderar. “Parece incrível que, 132 jogos depois, Messi continue sem encontrar lugar na selecção” (Valdano, in A Bola, de 2019/6/22). Por falta de tecnologia, ou de ciência físico-matemática, ou de números?... O ser humano distingue-se, pela sua qualidade. Quantitativamente, é um “bicho fraquinho”."

A posição assombrada: a saga de defesas esquerdos

"De há uns anos a esta parte, o Sport Lisboa e Benfica conseguiu, finalmente, colmatar a lacuna na lateral esquerda com a contratação de Álex Grimaldo.
Numa altura em que o plantel dos encarnados valorizou consideravelmente e, tendo em conta as exibições do lateral espanhol ao serviço das águias, até quando conseguirão os dirigentes benfiquistas manter Grimaldo?
Cobiçado por várias equipas de renome internacional, entre elas o seu antigo clube, o Barcelona, Grimaldo é visto como um bem valioso no plantel do Benfica. Assim, surge, entre os adeptos, o receio de se voltar a ter o grande problema da história recente do Benfica: a “falta” de defesas esquerdos.
Desde a saída de Fábio Coentrão na temporada de 2011/12, para o Real Madrid, os laterais esquerdos sempre foram mal amados no Benfica.
Joan Capdevilla, Carole, Luís Martins, Emerson, Melgarejo, Luisinho, Bruno Cortez, Guilherme Siqueira, Eliseu e Benito. Uns com mais sucesso que outros, mas todos com uma algo em comum: não eram bons o suficiente na perspectiva dos adeptos. Grimaldo chegou, enfim, na época de 2015/16 e, embora não tenha sido titular de imediato, conseguiu ocupar o lugar que era, até então, do campeão europeu Eliseu.
O actual suplente de Grimaldo é Yuri Ribeiro, internacional português de 22 anos, no entanto, bem que podia integrar o lote de defesas esquerdos supramencionados, uma vez que não é visto como uma opção válida para o sector defensivo das águias.
Conseguirá a SAD encarnada manter a jovem promessa espanhola? Entrará o SL Benfica no mercado por uma alternativa a Grimaldo? Será este o lugar assombrado do plantel dos atuais campeões nacionais? As questões levantam-se e as respostas não aparecem."

Benfiquismo (MCCXV)

O prolongamento não correu bem...

Sabe que é? Até contra insulto treina - Raúl de Tomás

"Com treinador privado voltou ao destino que Zidane lhe pusera à janela; Dominicano, não quer que lhe digam que é

1. Amiúde o afirmou: «Vários vezes, ao ver resumos na televisão, o ouvi: Golo do dominicano... Boa jogada do dominicano. Não me sentia mal, mas não gostava, não era assim porque eu não sou dominicano, nasci em Madrid, joguei por todas as selecções de Espanha até aos sub 19». Sim, nasceu em Madrid (em Outubro de 1994) e a «confusão» tinha uma razão: «Da República Dominicana é a minha mãe. Veio para Espanha, conheceu o meu pai, logo começaram a trabalhar juntos numa escola de condução».
2. O pai jogara futebol e, chamando-se Raúl como ele, também era avançado. Não passou, porém, de equipas da segunda B: o Yeciano, o Tomelioso, o Torrevieja - e ao abrir a sua própria escola de condução em Algete colocou o filho no CD San Roque EFF, escolinha de futebol na zona de Barajas. Dois anos após a sua chegava ao CD San Roque EFF, o olheiro que se aventura-se a partida contra o Alameda, convidou-o a ir a um teste ao Real. Estava a caminho dos 9 anos - e jogava como médio, tentando imitar seu ídolo: o Zinedine Zidane.
3. O Real pô-lo a estudar num colégio interno e mudou-lhe a posição: para ponta de lança. «A cada ano que passava, via 10 jogadores a saírem, 10 novos a chegarem - e só pensava: não quero que isso me aconteça». E não, não aconteceu: ainda júnior saltou para o Real Madrid B, o Castilla (a estreia foi por Abrl de 2012, contra o CF Pozuelo de Alarcón, na III Divisão). Desatou a marcar golos - só saiu da equipa por causa de cartão que o levou a suspensão: «Puseram um brasileiro, o William José, no meu lugar, ele fez hat-trick e a partir daí tudo se torceu para mim». Pior foi, contudo, lesão num ombro que o atirou, por semanas, para o estaleiro. Voltou ao seu furor (e aos golos) na temporada de 2013-2014.
4. Ancelotti levou-o à pré-época do Real nos Estados Unidos e, em Outubro de 2014, chamou-o a jogo com o EU Cornellà para a Taça do Rey (e entrou a substituir Benzema): «Foi sensação incrível. Como fora o ter entrado pela primeira vez no balneário da equipa principal, estar entre todas as estrelas, ali onde qualquer jogador gostaria de estar - e ir lá mais duas vezes para ser suplente com Celta e Real Sociedad».
5. Com a época de 2014-2015 à vista, passou-lhe pela cabeça pedir que o emprestassem, mas ao soltar-se a notícia de que Zidane passaria a ser treinador do Castilla - tirou de lá a ideia: «Pensei que seria grande ano para mim. Zidane, deu-me confiança extrema - não lha retribui, as coisas não me saíram como tanto queria».
6. Como se o tivesse decepcionado, assumiu-o, amachucado: «Uma das janelas da sua sala no Castilla dava para o campo de treinos da primeira equipa do Real - e um dia em que fui falar com ele, Zidane, apontado para lá, disse-me: Quero ver-te ali em baixo! Meti esse papel em mim - e o ano não me sair bem. De qualquer forma, nunca esquecerei o que Zidane me disse ao despedir-me dele: És um grandíssimo jogador, centra-te nisso e verás que te correrá bem...»
7. Deixou o Castilla emprestado ao Córdoba - e para regressar ao futuro contratou Pablo Arias, PT que para além de lhe dar treino privado de ginásio todas as tarde, lhe criou uma dieta especial: «Também se tornou psicólogo: motivando-me, ensiando-se a suportar a pressão, a ignorar até insultos e ataques nas redes socais».
8. Do Córdoba foi para o Valladolid - e não tardou que se desatassem a notar-se os efeitos da transformação a que Pablo Airas o atirou: «Fui ficando com o corpo cheio de músculo, sem perder rapidez. Pelo contrário - ganhei a velocidade que, em dois ou três metros, pode fazer a diferença entre um golo ou não». Se sou capaz de correr os 100 metros em 11 segundos? Não sei, nunca corri numa pista, mas a velocidade encanta-me, dela vivo também no meu trabalho...»
9. Largou o Valladolid - e no Rayo Vallecano começou a tocar o paraíso (sempre com Arias a seu lado): fez 24 golos e foi determinante para a vitória no campeonato da II Divisão. Lopetegui não quis de volta ao Real (que lhe prolongara contrato até 2023) - e, ao sabê-lo, Sousa Cintra lançou-lhe, em vão, canto da sereia. Na época passada continuou de fogacho no pé no Rayo Vallecano, Zidane ainda cogitou abrir-lhe o plantel do Real - e o Benfica dispôs-se a dar 20 milhões de euros para o ter na Luz."

António Simões, in A Bola