Últimas indefectivações

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nada poderia derrotar o Benfica! - Nem o Barça, nem os ursos, nem o passarinho...

"Foi há 50 anos que o Benfica espantou o mundo do Futebol ao conquistar a Taça dos Campeões Europeus. Uma vitória frente ao poderoso Barcelona catapultou Costa Pereira, Mário João, Ângelo, Neto, Germano, Cruz, José Augusto, Santana, José Águas, Coluna e Cavém para a fama.

BERNA é uma cidade pequena, medieval. Foi, no passado, terra de ursos: Bär é uma palavra alemã para urso e diz-se que foi o Duque Berthold V de Zähringen que lhe deu o nome depois de aí ter matado um urso.
Ainda hoje há ursos perto de Berna: em Nydeggbrüke, na Fossa dos Ursos. Por causa de Berna e dos ursos, no ano seguinte, em Amesterdão, na final da Taça dos Campeões frente ao Real Madrid, o Benfica seria presenteado com um urso bebé. A mascote seria, depois entregue ao Jardim Zoológico.

Foi no Wankdorf Stadium que a Alemanha bateu a invencível Hungria (3-2) na final do Campeonato do Mundo de 1954. Um estádio fadado para surpresas.

O Benfica parecia condenado a ser Campeão Europeu desde aquele dia, em finais de Setembro, no qual batera o Hearts, em Edimburgo, por 2-1. Daí até à final, seis vitórias, um empate e uma derrota, vinte e três golos marcados e oito sofridos. Impressionante!

No «Tribune de Lausanne» escreveu-se: «Nada poderia derrotar o Benfica. Mesmo que houvesse um 'penalty', marcado por Kubala, certamente um passarinho voaria sobre a área dos portugueses e levaria a bola, afastando-a da baliza...»

Kubala, Suarez, Evaristo, Koczis e Czibor. Provavelmente a melhor linha avançada do Mundo.


O Barcelona

Ladislao Kubala: conhecido por «Grande Lazlo»; nascido em 1927, em Budapeste, era de origem eslovaca; joga no Ganz e no Ferencvaros; em 1945, após a morte do pai, vai viver com a mãe para Bratislava e joga no Slovan; regressa à Hungria no ano seguinte para jogar no Vasas; a situação política empurra-o para Itália em 1948 e, daí, segue para Espanha e para o Barcelona onde joga até final de 1961; foi 6 vezes «internacional» pela Hungria, 10 pela Checoslováquia e 19 pela Espanha; excelente rematador, hábil, atlético, era famoso pela forma como surgia na grande-área adversária nos lances de conclusão.

Luisito Suarez: nascido na Corunha em 1935; começou no Desportivo, passando depois para o Barcelona; Bola de Ouro do «France Football» em 1960, transfere-se nesse ano para o Inter de Milão; dez anos depois terminaria a carreira na Sampdoria; 31 «internacionalizações» pela Espanha, sendo Campeão da Europa em 1964.

Evaristo de Macedo: nascido no Rio de Janeiro, em 1933; jogou no Madureira e no Flamengo antes de se transferir para o Barcelona em 1957; em 1963, trocou o Barça pelo seu grande rival, Real Madrid, onde ficou até 1965; acabou a carreira no Flamengo e foi «internacional» brasileiro por 14 vezes; goleador temível fez 173 golos em 219 jogos pelo Barcelona.

Sandor Koczis: nascido em Budapeste, em 1929; conhecido pelo «Cabeça de Ouro» pela qualidade do seu jogo aéreo; formava com Czibor a dupla de pontas-de-lança da famosa selecção húngara de 1954; jogou no Honved e no Young Boys de Berna antes de se transferir para o Barcelona em 1958 na companhia de Czibor; em 68 jogos pela Hungria marcou 75 golos.

Zoltán Czibor: nascido em Budapeste, em 1929; o seu feitio excêntrico, dentro e fora do campo, valeu-lhe a alcunha de «Passáro Louco»; ponta-esquerda de drible imprevisível; após a invasão soviética da Hungria, em 1956, fugiu para Itália com alguns dos seus companheiros do Honved; foi suspenso por dois anos pela FIFA; em 1958, por influência de Kubala, assinou pelo Barcelona; jogou 43 vezes pela selecção da Hungria e marcou 17 golos.


O 'Monstro Sagrado'

Mas o Benfica tem Coluna, o 'Monstro Sagrado', nascido em Lourenço Marques, Moçambique, no dia 6 de Agosto de 1935. Mário Esteves Coluna: muito provavelmente a mais carismático jogador da história do Futebol português. Grande «capitão» do Benfica durante sete épocas (sucedeu a José Águas), o seu estilo calmo e a sua figura imperial fizeram dele um jogador profundamente respeitado, tanto por colegas como por adversários e árbitros. Era dono de um Futebol elegante e muitas vezes explosivo na forma como rematava de longe à baliza adversária com força e eficácia. Mário Coluna somou 525 jogos oficiais pelo Benfica, marcando 127 golos. Dois deles foram marcados em finais da Taça dos Campeões Europeus: em 1960/61, frente ao Barcelona, aos 55 minutos, fazendo o 3-1 (resultado 3-2), e em 1961/62, frente ao Real Madrid, aos 50 minutos, fazendo o 3-3 (resultado final 5-3). Jogaria ainda mais três finais da Taça dos Campeões, frente ao Milan (1-2), ao Inter (0-1) e ao Manchester United (1-4), tendo cumprido nessa final o seu 50.º jogo para as taças europeias.

E tem José Augusto, ponta-direita, chegado ao Benfica em 1959, pela verba de 350 contos para o Barreirense e 130 contos para o jogador. Dinheiro bem empregue. Mas suas 11 épocas pelo Benfica, José Augusto foi 8 vezes Campeão Nacional, venceu 3 Taças de Portugal e 2 Taça dos Clubes Campeões Europeus. Fez parte das suas famosas linhas avançadas do Benfica, primeiro com Santana, Águas, Coluna e Cavém, depois com Coluna, Eusébio, Torres e Simões. Em 11 épocas no Benfica, José Augusto somou 369 jogos oficiais, marcando 175 golos, José Augusto jogou 5 finais da Taça dos Campeões. Foi «internacional» por Portugal 45 vezes, marcando 9 golos, e sendo um dos famosos «Magriços» que em 1966 tanto brilharam no Campeonato do Mundo de Futebol em Inglaterra.


O polivalente Cavém

E tem Cavém: Dominicano Barrocal Gomes Cavém nascido em Vila Real de Stº António no dia 21 de Dezembro de 1932. Esteve no Benfica de 1955 a 1969. Foi 9 vezes vencedor do Campeonato Nacional, venceu 2 Taças dos Campeões e 5 Taças de Portugal, uma delas com um golo seu aos 15 segundos, frente ao FC Porto (1-0). Fez 420 jogos com a camisola do Benfica, marcando 104 golos. Foi defesa direito, defesa central, defesa esquerdo, médio direito e médio esquerdo, sempre com a mesma pendular eficácia.

E tem Germano: Germano Luís de Figueiredo nascido em Lisboa, no dia 23 de Dezembro de 1932, considerando por muitos como o melhor defesa-central do Futebol português de todos os tempos.


O 'Matador' José Águas

E tem José Águas, o «capitão» avançado-centro finíssimo, nascido no dia 9 de Setembro de 1930, em Luanda, e descoberto em Lobito pelos olheiros do Benfica.

Goleador felino, com um jogo de cabeça temível, somou 379 golos em 384 jogos oficiais pelo clube da águia. Foi 5 vezes campeão nacional, venceu 7 Taças de Portugal e 2 Taças dos Campeões. Somou 25 «internacionalizações» por Portugal e marcou 11 golos.

E tem Costa Pereira e Mário João; e tem Ângelo, Neto e Cruz e Santana.

E tem, sobretudo, uma raça impressionante que resiste e se sobrepõe à soberba catalã.



Foi de Kocsis o primeiro golo do jogo, marcado ao minuto 20. O Benfica treme por momentos. Czibor e Evaristo estão à beira do 2-0. Mas, dez minutos depois, um lance de Cavém e um erro do guarda-redes Ramallets deixam a bola à mercê de José Águas sobre a linha de golo: 1-1. Mais dois minutos e Vergés, de cabeça desvia um centro de Neto para dentro da sua própria baliza: a bola bate no poste, Ramallets ainda desvia com as mãos, mas o árbitro Gottfried Dienst não tem dúvidas: 2-1.

O Barcelona força. Lança-se em desespero sobre a área de Costa Pereira. Os minutos finais da primeira parte e os primeiros dez minutos da segunda são terríveis para a defesa do Benfica.

Ao minuto 55, Coluna, a uns trinta metros da baliza, acorre a uma bola que pinga na sua frente e dispara com potência junto ao poste esquerdo de Ramallets: 3-1.

Atordoados, os catalães demoram a reagir. Mas a sua revolta é tremenda. Marcam o segundo golo a quinze minutos do final do jogo, por Czibor. E é então que a palavra sorte entra no dicionário dos grandes momentos da história do Benfica: Kubala remata, a bola embate no poste direito de Costa Pereira, rola sobre a linha de golo, bate no poste esquerdo e lança-se nos braços do guarda-redes encarnado; Czibor chuta à trave; Czibor, isolado, tem um pontapé fortíssimo mas à figura de Costa Pereira.

Três lances que os «culés» do Barça nunca esquecerão.

Dienst apita: uma, duas, três vezes.

Os adeptos portugueses invadem o relvado e transformam o Wankdorf Stadium num pandemónio. Os jogadores correm na sua frente, tentando manter as camisolas, os calços, as meias.

É ao «capitão» Águas que cabe levantar a Taça dos Campeões Europeus. O seu sorriso atravessará décadas.

O regresso a Lisboa é apoteótico. O aeroporto da Portela está entupido de gente. Dirigentes, jogadores, simples adeptos: todos esperam pela chegada dos Campeões Europeus. Uma história que fica para a história!"


"Béla Guttmann deu a táctica: 'Entrem tranquilos porque vamos ganhar'"


Afonso de Melo, in O Benfica

O ponta-de-lança elegante

"No ano em que se comemoram 50 anos da conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus, recordamos José Águas, em dos melhores pontas-de-lança da história do Benfica e o capitão que ergueu o primeiro troféu europeu da história do futebol nacional.

Nasceu em Luanda, em 1930, mas três décadas depois viria a ficar imortalizado em imagem. José Águas, o capitão benfquista que em 1961 ergueu a Taça dos Campeões, num momento que nunca os amantes do desporto-rei, em Portugal, esquecerão. Ele que nessa mesma final, diante do Barcelona (vitória 'encarnada' por 3-2), marcara aos catalães. O marco numa carreira de um ídolo que nunca marcou menos de 18 golos por época ao serviço do Benfica. De 'águia' ao peito, ganhou cinco campeonatos (1955, 1957, 1960, 1961 e 1963), sete Taças de Portugal e foi o melhor marcador do campeonato em cinco ocasiões. Mas dois golos ficarão decerto na sua memória. O primeiro da equipa frente ao Barcelona, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1961, e, igualmente, o primeiro apontado frente ao Real Madrid, em nova final, um ano depois. Foi, portanto, decisivo também quando mais a história exigia.

Herança de golos

Estreou-se ao serviço da Selecção Nacional a 23 de novembro de 1952, no empate a uma bola frente à Áustria. Totalizou 25 internacionalizações, marcou 11 golos. Despediu-se a 17 de maio de 1962, na derrota por 1-2 frente à Bélgica. Depois de ter abandonado o Benfica, aos 33 anos, representou o FK Austria Wien, retirando-se um ano depois. Faleceu em Lisboa, aos 70 anos, já depois de ter assistido à evolução do seu próprio filho, Rui Águas. O habitual 'nove' benfiquista, no final dos anos 80 e inicio dos 90, herdou do pai a capacidade de cabecear, sendo também ele um goleador no clube da Luz, assim como na Selecção Nacional. Foi mesmo protagonista no apuramento para uma final europeia, em 1988, quando marcou os dois golos com que o Benfica eliminou os romenos do Steaua de Bucareste na meia-final da Taça dos Campeões Europeus. O Benfica perdeu a final frente ao PSV Eindhoven no desempate por grandes penalidades. Mas, quando passam 50 anos da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus do futebol português, ninguém esquece a imagem daquele elegante goleador que, em 1961, abriu o caminho para a vitória sobre o Barcelona e ergueu ele mesmo o mais cobiçado dos troféus.

Chamava-se José Águas..."

Ricardo Soares, in Mística

Recordar 61

"Na terça à noite, exultei e emocionei-me a assistir à reposição, na Benfica TV, do quinto episódio de “Vitórias & Património” (um programa que, se passasse na Porto TV, intitular-se-ia “Vitórias & Aumento do Património dos Árbitros” e, se estivesse na grelha da Sporting TV, chamar-se-ia apenas “Património”), a propósito do cinquentenário da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus.

Antes de mais, é necessário ter presente que, em 1961, o futebol era muito diferente daquilo que é hoje em dia, nomeadamente porque havia, pelo menos, uma defesa contra a qual o Barcelona não fazia farinha. Outros tempos. Mas o ataque do Sport Lisboa e Benfica não ficava atrás: tinha jogadores com tanta qualidade, que o Eusébio nem era convocado.

Regressando ao documentário, há vários momentos assinaláveis. A saber: José Águas, na segunda mão das meias-finais contra o Rapid de Viena, implora ao árbitro inglês que assinale uma grande penalidade a favor dos adversários (“Marque o penálti, senhor, para ver se saímos todos daqui vivos!”); Mário João declara que, hoje em dia, senta-se a ver a final contra o Barcelona todas as semanas; vê-se o lance em que a bola bate num poste da baliza de Costa Pereira, atravessa a linha, bate no outro poste e sai (é curioso como a do Isaías, contra o Milan na Luz, já não tem tanta graça); vê-se o golo monumental, a partir do qual o Sr. Coluna devia ter passado a ser tratado por Dr. Coluna; nos últimos 15 minutos, perante a pressão do Barcelona, o Benfica estaciona o autocarro (o que, na altura, significava passar-se a jogar com quatro defesas); no final dos 90 minutos, o presidente do Benfica, Maurício Vieira de Brito, decide celebrar a vitória, tendo um AVC – ao seu lado, os funcionários do clube que estavam a saltar, todos nus, e a beber champanhe da garrafa sentem vergonha por, comparativamente, estarem a festejar de forma tão contida. Mais tarde, já recuperado, o presidente diria aos jogadores, no balneário: “Morrer ali, a ver o meu Benfica campeão europeu, não seria assim tão terrível.”"


Vitrine

"From: Domingos Amaral
To: Fábio Coentrão

Caro Fábio Coentrão

Esta semana tivemos um exemplo perfeito e refinado de como se pode, na praça pública, pressionar dois clubes para que um jogador se transfira de um para o outro. De um lado, um dos melhores jogadores do Mundo, Ronaldo, e um dos melhores treinadores do Mundo, Mourinho, lançaram-te inúmeros elogios, dizendo que eras um jogador fantástico e uma “mais-valia” se fosses para o Real Madrid. Na prática, e no meu ponto de vista de benfiquista, essas foram pressões boas. Mourinho e Ronaldo, com os seus elogios, estão a valorizar-te, e ao mesmo tempo a pressionar o Real para te comprar. Se um ativo é assim tão bom, o seu preço sobe, e quem o quer terá de pagar mais. O meu obrigado público aos dois pelas suas palavras, que ajudam a posição negocial do Benfica.
Infelizmente, o mesmo não posso dizer das tuas declarações. Depois de meses a dizeres que estavas feliz no Benfica, e que por ti até assinavas um “contrato vitalício”, de repente mudas radicalmente o discurso, dizendo que adoravas ir para o Real, “o melhor clube do Mundo”, para ser treinado por Mourinho, “o melhor treinador do Mundo”. Não duvido que penses isso, mas dizê-lo em público prejudicou a posição negocial do Benfica, e foi uma pressão a roçar o inaceitável. Se um ativo se quer ir embora para outro clube, o seu preço desce imediatamente.
Desceste na minha consideração, tanto por esta razão, como pela aparição patética ao lado de José Sócrates. Foram dois momentos péssimos. Mas nem tudo é mau, pelo menos não disseste que o Benfica era uma “boa vitrine”, como disse um jovem brasileiro que para o ano virá jogar para o FC Porto. Ele lá sabe por que o diz…"