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segunda-feira, 25 de março de 2019

A 'chicologia' como guia espiritual...

"A 'chicologia', segundo Valter Ferreira, é a «ciência do chico-esperto», uma forma de estar que continua a dominar o nosso futebol

A questão parecia pacífica. E pública. Há muito que tinha sido anunciado urbi et orbi, gerando um aparente consenso. Mesmo aqueles que não se tinham conformado com os pressupostos, acabaram nem por se rebelar contra a arquitectura jurídica da solução, nem contra os timings propostos. Quando começou a temporada de 2018/2019 toda a gente sabia que iam ser três os clubes a retroceder ao segundo escalão, por forma a abrir espaço ao Gil Vicente, que se somaria aos dois primeiros da Liga 2 na aventura da ascenção.
O processo do Gil Vicente - que povoa a imaginário do futebol português desde o tempo em que o veterano Mateus, agora no Boavista, era um jovem jogador, e que, por si só, daria para uma série televisiva de calibre de A Guerra dos Tronos - parecia estar à beira de uma merecida e pacífica reforma.
Certo? Errado!
Como estamos a falar do futebol português, onde o Chicologia continua a ser a principal fonte filosófica (Chicologia era a ciência do Chico Esperto, plasmada na doutrina do futebolês por essa figura ímpar que dava pelo nome de Valter Ferreira), era certo e sabido que alguém haveria de querer agarrar-se ao primeiro destroço que encontrasse a boiar, para não ir ao fundo. Assim, pelo que tem sido possível perceber em declarações cabalísticas e numa ou noutra citação sem citado, parece estar a formar-se uma tempestade que ameaça a homologação da presença edição da Liga e a integridade da edição que se segue.
Aquele clube que acabar a Liga de 2018/2019 na 16.ª posição, a que chamaremos o lugar do morto-vivo, irá fazer tudo e mais alguma coisa para reverter a decisão de integração do Gil Vicente no convívio com os maiores.
Do ponto de vista jurídico, sabendo-se que onde está um advogado há pelo menos duas opiniões, todos os cenários são admissíveis. Porém, numa perspectiva ética, as coisas mudam de figura. A integração do Gil Vicente foi decidida e assumida às claras, e quando se iniciou a Liga de 2018/2019 toda a gente sabia quais eram as regras do jogo, quantos subiam e quantos desciam.
Quando, por vezes, nos interrogamos por que razão ninguém, para lá do Badajoz, liga ao nosso campeonato, a resposta está na forma como quem nele participa o vê. Sem sentido de bem comum e à revelia do interesse da indústria do futebol. Uma coisa menor...

Ás
Martim Aguiar
O râguebi português, perdido no terceiro escalão europeu, luta arduamente para regressar às Seis Nações B, de onde nunca devia ter saído. No sábado, os Lobos esmagaram a República Checa por 93-0, estabelecendo um novo recorde nacional. Este resultado dá alento, mas não chega. Há que vencer o play-off com a Alemanha.

Ás
José Ribeiro
Andar no desporto de forma civilizada, em Portugal, não devia ter custos, mas tem. Que o diga o presidente do núcleo do Sporting em Castelo Branco, que cometeu a heresia de felicitar a filial albicastrense do Benfica pela passagem do 95.º aniversário! Mas, não se preocupe, está no caminho certo. Rivais sim, inimigos nunca...

Duque
LeBron James
É preciso recuar a 2004 para encontrar um play-off da NBA sem King James. A aposta nos Lakers não foi feliz porque, para além da lesão prolongada que afastou LeBron dos pavilhões, viu-se uma equipa sem cultura de vitória, a entregar-se ao destino sem dar luta. Se continuar em Los Angeles, James precisa de outro tipo de companhia.

O futebol como arma ao serviço da demagogia
«Autoridades portuguesas esmifram-se para prender Rui Pinto mas deixam à solta criminososo do gabarito de Ricardo Salgado»
Ana Gomes, Eurodeputada do PS
Ana Gomes, que está nos finalmentes de uma passagem truculenta pelo Parlamento Europeu - um caso flagrante em que pode dizer-se que saiu do MRPP há muitos anos, mas o MRPP nunca saiu dela - assumiu a causa do hacker Rui Pinto e não teve pudor em deitar mão de mais desbragada demagogia, confundindo alhos com bugalhos. Só engana quem quiser ser enganado.

Não correu bem
Portugal tem, esta noite, uma boa oportunidade de se redimir da anémica e timorata exibição que lhe custou dois pontos no jgo de abertura da defesa do título europeu, frente a uma organizada mas limitada Ucrânia. Fernando Santos, que não precisa de provar competência a ninguém, lidera um grupo talentoso, onde não faltam soluções para todos os gostos, e só precisa de acertar com a tecla, colocando mais ousadia na equação, em detrimento da previsibilidade exasperante que marcou os 90 minutos, na última sexta-feira, na Luz.

A piela a 'vinotinto' pregou à Argentina
Quando se pensa que a selecção da Argentina bateu no fundo, novo episódio vem desmentir esta ideia. O regresso de Messi à albiceleste ficou marcado por uma humilhação, em Madrid, frente à Venezuela, conhecida como Vinotinto. Salva-se a alegria de milhões de venezuelanos. Bem precisam..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Seixal no centro do Mundo

"Os números não mentem: o futebol de formação do Benfica é, desde a época 2010/11, a principal fonte de alimentação das diversas selecções nacionais. Há quase uma década que o talento produzido no Seixal vem contribuindo de forma decisiva para os excelentes resultados dos diversos onzes de Portugal. O que representa, para nós, uma enorme satisfação.
Foi a chegada do Caixa Futebol Campus, em 2006, a marcar o início do novo paradigma: o Benfica passou a ser, em pouco tempo, o clube mais representado nas convocatórias das Selecções Nacionais, com natural impacto, já hoje, na equipa A. No total das chamadas, o nosso Clube chega, sozinho, a ter mais convocados do que os dois principais rivais em conjunto.
Os méritos do Caixa Futebol Campus – que já foi distinguido como melhor Academia do Mundo nos ‘Globe Soccer Awards’ – voltaram recentemente a merecer elogios ao mais alto nível. O ‘Fenómeno CFC’ justificou a atenção da UEFA, que através do seu magazine reconheceu a excelência do ‘laboratório’ de talentos que existe no Seixal: um exemplo no contexto do futebol mundial.
O mesmo reconhecimento foi feito na semana passada por um dos principais diários desportivos da Europa, o ‘Tuttosport’, que dedicou ao Benfica toda a sua primeira página, preenchida com fotos de Luís Filipe Vieira e João Félix. No interior, em grande entrevista, o presidente do Benfica e também o CEO do Grupo Benfica (Domingos Soares de Oliveira) explicaram o segredo do sucesso, com João Félix a ser apontado como um dos maiores talentos depois de Ronaldo.
O Seixal, como se vê, está cada vez mais no centro do Mundo. É ali que vamos continuar, todos os dias, a construir o futuro do Benfica e do futebol português.

PS: A Selecção não teve uma estreia feliz na qualificação para o Euro’2020, mas dispõe hoje de nova oportunidade para dar uma alegria a todos os portugueses. Acreditamos que esta noite, na Luz, a qualidade da nossa equipa terá o desfecho que merece. Uma palavra final para o futebol feminino e para o jogo de ontem entre o Benfica e o Sp. Braga. Independentemente do resultado da 1.ª mão da meia-final da Taça de Portugal, importa destacar que se tratou, acima de tudo, de uma excelente jornada de promoção para a modalidade. Pena foi a qualidade da arbitragem não ter estado ao nível do jogo praticado pelas duas equipas."

Gobern... e o Félix

Cadomblé do Vata (Sina...!!!)

"Eu queria-me sentir surpreendido por um jogador do SL Benfica se ter lesionado ao serviço dessa tal de “equipa da FPF”, mas não consigo. Tentei também ficar espantado por a vítima ser aquele que é apontado como a coqueluche da equipa Gloriosa, mas novamente, falhei nos meus intentos. Bem sei que falar agora é fácil, mas posso-vos garantir que se há uma semana me perguntassem “o que tem mais probabilidades de acontecer: João Félix lesionar-se nessa tal de “equipa da FPF” ou o Natal ser no dia 25 de Dezembro”, eu pensava duas vezes antes de responder e ficava muito inclinado para a primeira hipótese.
João Félix ter-se-á lesionado sozinho. Foi essa a explicação oficial e não tenho razões para dela duvidar. Fernando Santos, talvez por ter poucos anos nessa tal de “equipa da FPF”, não pareceu muito crédulo na baixa do Benfiquista. Pelo contrário, a mim todo o desenvolvimento da história bate certo com a História: ele estava bem no dia anterior, sentiu desconforto a bater uma bola e os médicos disseram que era uma inflamaçãozita. Escalar daqui para entorse, baixa para a Sérvia e dúvida para o Tondela é apenas lógico. Aliás, o seguimento da coisa deverá apontar para intervenção cirúrgica e regresso aos relvados perto do Natal. Admito que possa estar a exagerar no pessimismo, mas já sigo a carreira de Benfiquistas nessa tal de “equipa da FPF” há uns bons anos e sei que quando de lá vêm atacados por maleitas, só voltam a aparecer de colete no treino, no Dia do Pai do ano seguinte."

De onde vem então este sentimento um tanto rupestre, primitivo e tribal?

"Foi numa manhã de Agosto de 1984. A vizinha do terceiro andar entrou-nos em casa com a notícia: Carlos Lopes tinha conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. A minha avó reagiu com costumeiro desinteresse. Jogos e desportos eram coisas do diabo. Eu fiquei maravilhado. Uma medalha de ouro. O primeiro lugar. Um português.
Naquele verão, os mais velhos, inspirados pelo que acontecia em Los Angeles, organizaram provas em que nós, os mais novos, competíamos. Como recompensa recebíamos umas caricas espalmadas e cobertas com a prata dos maços de tabaco: eram as nossas medalhas olímpicas. Mas a medalha de Carlos Lopes era a sério. Não era brincadeira de crianças.
À noite, no telejornal, vi a notícia, as imagens do atleta português a cortar a meta, a subir ao pódio, a ouvir o hino, a bandeira no mastro mais alto, e chorei. Ainda hoje, quando vejo aquelas imagens, quando oiço a música de Alfredo Keil, sinto um arrepio de emoção e é como se eu próprio estivesse a subir ao pódio e a receber a primeira medalha de ouro olímpica do desporto português.
Isto para dizer que é uma grande injustiça que só os desportistas tenham direito a ouvir o hino e a ver a bandeira içada com aquela lentidão solene que embriaga até o espírito do mais cínico e universalista dos cidadãos. A professora que aguenta décadas de alunos irrequietos merecia um prémio e a bandeira a drapejar lá no alto, o polícia que prende um facínora deveria ser recebido na esquadra ao som da Portuguesa, o agente imobiliário que faz a venda de uma vida devia subir ao lugar mais alto do pódio e, com um bouquet na mão e a medalha ao pescoço, acenar aos compatriotas o contentamento pelo seu feito.
Quem nunca, no sossego doméstico, se perfilou e entoou altissonantemente a letra de Lopes Mendonça de mão no peito ao ver os jogadores da selecção a fazerem o mesmo no estádio? Eu não, mas conheço muita gente que o faz.
De onde vem então este sentimento um tanto rupestre, primitivo e tribal? Não vou agora recuperar as teorias das comunidades imaginadas e da invenção das tradições, mas admito que, para além desses sentimentos inoculados pela cultura que nos rodeia, haja uma reverberação interior, uma predisposição inata para nos diluirmos numa emoção colectiva que, anulando uma parte da nossa individualidade, nos eleva enquanto membros de um grupo.
Será esta predisposição inócua? Nem sempre. Basta pensar no aproveitamento que dela fizeram os regimes totalitários e como, mesmo em democracia, os políticos procuram retirar dividendos das nossas tendências gregárias. O mesmo acontece em grandes ajuntamentos, sejam manifestações de protesto, concertos de rock, celebrações religiosas. Todos vivem do fascínio irracional da pertença à multidão. De alguma forma sentimo-nos protegidos e integrados. As nossas emoções particulares alimentam-se das emoções dos outros que, por sua vez, se alimentam das nossas, num jogo de espelhos voyeurístico e exibicionista.
Há uns anos, aquando da participação da selecção de râguebi no campeonato do mundo, causou impacto a forma como os “Lobos” entoavam o hino, à beira da apoplexia, como se estivessem prestes a entrar num campo de batalha e, do outro lado, uma horda de guerreiros inimigos os aguardasse para os chacinar. Aquilo, dizia-se, era a demonstração de um vivo sentimento patriótico que os jogadores de futebol, demasiado profissionais e ricos, já não tinham. Era a pátria de chuteiras e calções, para usar uma expressão de Nelson Rodrigues. Aqueles homens, quase todos amadores, tinham um orgulho transcendental por representarem o país, por vestirem a camisola das quinas.
Mas será necessário esse sentimento? Não basta que se empenhem e deem o seu melhor? É preciso cantarem o hino como se a sobrevivência da nação dependesse do nível dos decibéis? Em parte, sim. Como já ninguém exige dos jogadores o mítico amor à camisola nos clubes, as selecções nacionais são o último refúgio dos românticos. Ali espera-se que os atletas, seja em que desporto for, descalcem os sapatos do profissional e calcem as sandálias humildes do patriota. Exige-se que cantem o hino com fervor e comprovem perante os concidadãos que são dignos de vestir aquela camisola. Admite-se que, nos clubes, se comportem como mercenários, mas, na selecção, não se lhes exige menos que a pureza de intenções, o espírito de sacrifício e, talvez, a disponibilidade para o martírio.
Isto para chegar à convocatória de Dyego Sousa, cidadão português nascido no Brasil há 29 anos. Sendo o sétimo jogador naturalizado a representar a selecção, o caso de Dyego Sousa nem devia ser um caso. Um seleccionador deve escolher os jogadores que considera mais aptos e que mostrem disponibilidade para representar a selecção, independentemente do lugar onde nasceram, da sua história pessoal, da ligação íntima ao país. Pode chocar os puristas (e chocará, certamente, outras categorias menos ilustres de cidadãos), mas é assim. Não cabe a um seleccionador aferir os níveis de “portugalidade” dos jogadores, nem escolher atletas em função de sentimentos ou de uma escala de orgulho que irá de um mínimo de Pichardo a um máximo de Lobos.
Isto não impede os jogadores naturalizados de se sentirem na obrigação de provar o seu amor à camisola. Aliás, é mesmo provável que, como os convertidos a qualquer religião, sintam uma maior necessidade de demonstrar publicamente o apego à nova fé. O central Pepe será o expoente dessa exuberância e, enquanto tal, o mais habilitado a validar novas adesões ao culto. Por isso, em conferência de imprensa, convidado a falar sobre Dyego Sousa, afirmou: “Ele está completamente integrado na cultura portuguesa.” Um jornal diário também adiantava, para que não subsistissem dúvidas sobre o compromisso sentimental do avançado do Braga, que “é casado com uma portuguesa e a filha também é portuguesa. Quando soube que estava convocado para a selecção nacional chorou.” Meses antes, o próprio já tinha afirmado sonhar jogar pela selecção portuguesa, pois sentia-se mais português do que brasileiro.
Também Deco, outro jogador naturalizado que representou a selecção portuguesa, explicou ao Expresso a sua decisão: “Joguei na selecção por sentimento, ainda demorei quase um ano até tomar a decisão, era uma escolha de vida, até por saber que tinha qualidade para jogar na Selecção brasileira, foi uma questão pessoal, de sentimento, não de passaporte.”
Porém, todas estas declarações demonstram que a selecção é, e talvez assim se mantenha, uma questão de passaporte. Não falo do documento com fotografia que se apresenta às autoridades alfandegárias, mas do passaporte sentimental que garante a entrada numa comunidade tão imaginária e tão real como as lágrimas e os uivos dos Lobos a cantarem o hino ou a emoção de uma criança a ver a bandeira içada no mastro mais alto no outro lado do mundo."

O desporto e a desportivização

"Entendido como sendo todas as formas de actividades físicas que, através de uma participação organizada ou não, têm por objectivo a expressão ou o melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis, o desporto não está à margem do processo de globalização. O desporto adquire um importante estatuto como fenómeno de globalização e, como diria Lipovetsky (2007), de “hipermodernidade”.
Pelas paixões que suscita, pelas identidades que mobiliza, pelas estratégias que reflecte, bem como pelos interesses económicos, o desporto constitui-se como uma importante dimensão da sociedade, que, nas suas formas modernas, se procurou instituir e afirmar como uma linguagem universal e como um modelo cultural adoptado internacionalmente. Um tal modelo tornou-se, pelo seu modo de difusão, numa das formas mais “visíveis” ou um dos principais “motores” da mundialização.
O desporto é talvez a forma mais popular e universal de participação cultural, na medida em que anula barreiras culturais (a língua, a religião, o sistema político, as fronteiras geográficas, etc.). Lipovetsky (2007) não está, certamente, a exagerar quando sublinha que, num contexto de paixão pelo desporto, as competições, sobretudo as de alto nível, despertam um grande entusiasmo e fervor colectivo e que, dificilmente, se encontra noutra esfera da vida social.
O aumento dos tempos livres e a diversificação do mercado dos consumos culturais vieram produzir alterações nos estilos de vida nas sociedades mais industrializadas (Horne, 2006). O lazer, apesar de ter sempre existido de uma forma directa ou indirecta, tornou-se reconhecido como um direito por parte da população, especialmente após a Revolução Industrial e, principalmente, após a II Guerra Mundial. O desporto constitui um espaço compensatório das tendências à rotinização do quotidiano, construído pelos actores no decurso de estratégias visando a expressão de “emoções fortes” – a busca da excitação (Elias & Dunning, 1992).
A compreensão da globalização no desporto remete-nos para as origens do desporto moderno, que nasceu no século XVIII, em Inglaterra, no contexto da Revolução Industrial e de um capitalismo emergente. Para além de um passatempo dos “gentlemen-farmers”, onde a prática física não era esquecida, numa ascese de preparação de caça à raposa e de corridas a cavalos, a génese do desporto em Inglaterra desenvolve-se entre 1820 e 1860 no seio das public schools, privilegiados estabelecimentos, que agrupam os filhos da alta sociedade, assegurando uma forte homogeneidade da elite social.
O processo de “desportivização” (expressão introduzida pelo sociólogo Norbert Elias) designa a transformação das formas de organização e desenvolvimento das práticas físicas em Inglaterra, assim como a sua generalização às restantes sociedades ocidentais, tal como a “industrialização” designa idêntico processo relativamente às formas de produção e trabalho). Este processo desenvolveu-se, grosso modo, em cinco fases.
Numa primeira fase (séculos XVII e XVIII) surgiram o críquete, o golfe, as corridas de cavalos e o boxe. Numa segunda fase (século XIX) o futebol, o râguebi, o ténis e o atletismo. Uma terceira fase (finais do século XIX e princípios do século XX) engloba a disseminação das formas de desporto “inglesas” na Europa continental e nas colónias britânicas e está associada à emergência de intensas formas de nacionalismo e à institucionalização da maioria dos desportos a nível internacional. Uma quarta fase (dos anos 20 aos anos 60 do século XX) é marcada por “lutas” entre as nações ocidentais e não ocidentais para a sua afirmação no desporto. Uma quinta fase (desde finais da década de ‘60) caracteriza-se por um crescente protagonismo de nações não-ocidentais, contestando a hegemonia ocidental no desporto. A emergência e difusão das modernas formas desportivas à escala global de uma forma mais vasta com o “processo civilizacional” (Elias, 2006).
O arranque do processo de globalização no desporto está associado à terceira fase do processo de desportivização. O último quarto do século XIX testemunhou a disseminação do desporto, o estabelecimento de organizações desportivas internacionais, a aceitação mundial de regras de governo de desporto, a multiplicação de competições entre equipas nacionais e o estabelecimento de competições globais, como os Jogos Olímpicos e os campeonatos do mundo em muitos desportos. 
Nesta fase da desportivização, os ocidentais e em particular os ingleses, foram os “jogadores” dominantes. O Reino Unido era, então, o poder hegemónico e os seus desportos (futebol, críquete, atletismo) proliferaram pelo mundo, diminuindo o espaço de influência dos jogos nativos tradicionais. Mas não estiveram sozinhos. Os ginastas suecos (método Ling, 1776-1839) e dinamarqueses, o movimento do Turnverein alemão, são exemplos da fase europeísta no desenvolvimento de um desporto global (Chamerois, 2002).
A luta pela hegemonia, que começou nos anos ‘20, não ocorreu apenas entre o Ocidente e o resto do mundo, mas também dentro do próprio mundo ocidental. De uma forma crescente, o desporto norte-americano começou a disputar a supremacia inglesa. Nos anos 1920 e 1930 práticas desportivas como o basebol, o basquetebol e o voleibol foram difundidos nas partes do mundo onde era maior a influência americana – Europa, América do Sul e partes da Ásia-Pacífico.
Após a II Guerra Mundial, os EUA assumiram uma hegemonia imperial, que resultou na expansão dos desportos “americanos” no mundo. O desporto tornou-se então um idioma global entre os anos ‘20 e o final da década de ‘60. Desde os finais da década de ‘60 alteraram-se os equilíbrios do poder. Em desportos como o badminton, o críquete, o ténis de mesa, o futebol e o atletismo, cresceu a influência de asiáticos (com especial destaque para as designadas “artes marciais”: karaté, judo, aikido, kung-fu, taekwondo, etc.), sul-americanos e africanos. O controlo das organizações desportivas internacionais e do movimento olímpico começou a escapar, embora devagar, das mãos exclusivas do Ocidente."

Conteúdo e qualidade numa modalidade desportiva - que relação?

"1.ª Parte
O sucesso de uma modalidade desportiva mede-se pela capacidade de:
1 – Atrair público à instalação desportiva, isto é, levar ao consumo do evento/jogo de basquetebol (ou outra modalidade) por parte de adeptos e fans e a capacidade de os tornar promotores da marca.
Este é o verdadeiro propósito de uma marca (organização que gere a competição), que tem um produto para vender (evento/jogo), que, neste caso, é de uma modalidade desportiva, o basquetebol. 
As modalidades desportivas estão inseridas na designada indústria desportiva, a que eu gosto de juntar a palavra espectáculo, sendo que assim a expressão fica a ser indústria desportiva e do espectáculo.
2 – Atrair o interesse dos diferentes meios de comunicação social (jornais, rádios e televisão) para divulgar a informação do jogo/evento ou individualidades da modalidade desportiva junto dos seus leitores, ouvintes ou espectadores televisivos, devido ao sucesso que a modalidade evidencia, levando a pensar que o produto é capaz de gerar audiências e, como tal, permita justificar o espaço que lhe é dedicado.
3 - Apoio das marcas patrocinadoras como forma de promover os seus produtos, devido à exposição que a modalidade possui junto do público consumidor que lhes interessa (o target de cada marca), através de diferentes meios de comunicação.
4 - Um quadro competitivo interessante, dinâmico e onde o equilíbrio e a incerteza do resultado sejam uma constante de acordo com os princípios do marketing desportivo.
Assim, podemos afirmar sem hesitações que sem público (adeptos e fans) nas bancadas não é possível considerar uma modalidade desportiva como uma modalidade de sucesso.
Qual é então o problema do basquetebol para atrair público, adeptos e fans?
Tudo começa com uma análise e um diagnóstico correto e eficaz a que deverá corresponder um plano estratégico que envolva, especialmente, os dirigentes e os treinadores, unindo-os à volta de uma visão, submetendo-os a um alinhamento de procedimentos e uma finalidade na gestão das diversas áreas do basquetebol.
E estes dois agentes da modalidade porquê?
Porque são eles que estão no centro das decisões! Uns tomam as decisões referentes à área da gestão desportiva e os outros tomam decisões na área do jogo, nomeadamente na gestão do grupo de trabalho (equipa), tendo ambos grande impacto no produto final que é o jogo de basquetebol.
É por isso que precisamos de dirigentes com uma visão clara daquilo que deve ser a competição/espectáculo de basquetebol e que compreendam nitidamente aquilo que o público (adeptos e fans) querem ver. E de treinadores que compreendam e escolham modelos de jogo que promovam aquilo que o basquetebol significa: espectáculo. Ou seja, modelos de jogo que permitam captar o interesse do público (adeptos e fans), comunicação social e patrocinadores, sem descurar aquilo que todos ambicionam que é a vitória.
O basquetebol sempre foi sinónimo de espectáculo e um bom exemplo são os Harlem Globetrotter. Quantas pessoas conhecem os nomes dos seus jogadores? Eu diria que muito poucos ou quase ninguém, mas isso não impede que o público se desloque ao pavilhão para ver um espectáculo de entretimento através do jogo de basquetebol, tendo-se tornado numa marca de referência.
Podíamos colocar a mesma questão noutras áreas.
Qual a razão das pessoas verem um filme, uma série de televisão, um documentário ou um debate?
A resposta é simples. Porque o conteúdo é interessante e a comunicação à volta destes produtos desperta o interesse dos consumidores.
Nesta matéria, qual é o ponto da situação do basquetebol português?"

Benfiquismo (MCXXX)

Obras!!!!