"A extraordinária proeza do jovem adepto que desceu o Tejo em dois bidões, para ir assistir a um Benfica-Sporting
Vem de longe a velha máxima 'ser do Benfica não se explica, sente-se', e a verdade é que, ao longo dos tempos, os periódicos registaram ecos desse amor incondicional, dessa entrega total ao Clube.
A história que hoje se resgata do anonimato das páginas de jornais amarelecidos pelo tempo é provavelmente uma das mais singelas provas de tenacidade e amor ao Clube, protagonizada por Augusto Manuel Carlota, um ribatejano de 31 anos.
Estávamos em Fevereiro de 1969, quando o nosso protagonista resolveu descer o Tejo até Lisboa em cima de dois bidões, envergando uma camisola das águias, com o propósito de assistir ao dérbi entre o Benfica e o Sporting. Carlota percorreu o trajeto em 27 horas e 30 minutos. Diga-se, em abono da verdade, que não era nenhum novato nestas andanças. No ano anterior tinha tentado efetuar esta mesma proeza com uma simples boia, mas as coisas não lhe correram de feição.
Homem decidido e de rija têmpera, partiu ao meio-dia de domingo, dia 23, da sua Coruche natal, tendo chegado a Benavente pelas 21 horas, onde o esperava uma multidão que muito o aclamou. No dia seguinte rumou até ao Porto Alto, onde chegou pelas 17 horas.
A terceira etapa foi feita a dois tempos. Ao final da manhã, Carlota atingiu sem grandes problemas a Ponta da Erva e, da parte da tarde, aproveitando as correntes do Tejo, atingiu a doca dos Olivais pelas 19:30. Na fase final do trajeto, contou com a ajuda da sempre flamejante chaminé da SACCOR, sinalizando-lhe o local da chegada.
A última etapa, dos Olivais ao Cais das Colunas, apesar de ser a mais curta do longo périplo, acabou por ser também a mais exigente e penosa. Nessa manhã, o Tejo estava picado, e a forte corrente levou Carlota a desvia-se da sua rota e embater num portão. Valeu-lhe o rápido auxílio dos tripulantes de um navio, que lhe lançaram uma corda, permitindo ao nosso herói encontrar novo rumo. Ao longo do percurso, foram muitos os que o incitaram até ao Cais das Colunas, gritando vivas ao Benfica. Ali chegado pelas 14:30, foi saudado por muito público que o aguardava. Era visível, porém, o cansaço de Augusto Carlota.
Fisicamente debilitado, foi transportado para o Estádio da Luz, onde recebeu mensagens e foi o alvo de todas as atenções. Dedicou a proeza ao Clube do seu coração, mas optou por não estar presente no jogo, tendo regressado de autocarro a Coruche, onde uma multidão o esperava, orgulhosa do seu feito.
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Ricardo Ferreira, in O Benfica
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