"1. Já o escrevi: tenho pena que Cardozo deixe o Clube. Mas parece que será assim (na altura em que escrevo ainda não havia certezas). Independentemente da forma, mais ou menos infeliz, como sai, o seu abandono não pode prejudicar ainda mais o Benfica do que já o fez. E nem pode criar mais divisões para além das que resultam de simples divergências de opiniões. Cardozo saiu, ponto final. É de muito mau gosto - por prejudicial à equipa - os gritos recordando-o quando não marcamos golos. Nessa altura, quem precisa de apoio é quem lá está dentro. O Benfica não jogou bem frente ao São Paulo e perdeu. Paciência. Na última vez em que fomos Campeões também tivemos uma pré-época menos feliz. A partir da próxima semana é que todos os resultados serão importantes. E a nós, cá fora, independentemente de gostarmos deste ou daquele jogador, treinador ou dirigente, cabe-nos ser o 12.º jogador e apoiar sempre a equipa. Sem divisões.
2. Tenho-o referido várias vezes ao longo deste interminável 'defeso': não gosto nada deste período. E a semana passada reforçou esta minha sensação. São mais jogadores que saem (ou 'ameaçam' que saem), são acordos que se fazem ou quase estão feitos, são jogadores que se valorizam ou desvalorizam (e não deveriam desvalorizar-se...), são jogadores que se contratam para logo serem emprestados (e alguns nada baratos...), são negócios que se realizaram mas depois não são bem assim. Enfim, uma confusão de notícias e de comunicados, em que cada vez é mais difícil destrinçar entre o que é verdade e não passa de boatos, entre o que é a realidade e aquilo que nos querem fazer crer. Quando tudo isto toca aos outros, vamos encolhendo os ombros. Quando nos toca a nós, é natural que não gostemos. E eu não gostei nada da semana que passou...
3. Uma das maiores taças expostas no nosso excelente Museu Cosme Damião foi aquela que o Benfica ganhou na inauguração do antigo Estádio das Antas, com uma histórica vitória, por 8-2. Não é o resultado (uma simples curiosidade) que aqui interessa. É o nome da taça - General Craveiro Lopes, então Presidente da República. O FC Porto não só inaugurou o estádio numa data simbólica do antigo regime (28 de Maio) como ainda atribuiu o nome do então Chefe de Estado ao troféu. O Benfica, que inaugurou o seu Estádio dois anos depois (1954), fê-lo no dia 1.º de Dezembro e deu às taças em disputa os nomes de Cosme Damião (entregue ao FC Porto, que ganhou) e Álvaro Gaspar, antigo futebolista (ao Benfica que perdeu). E depois nós é que somos o Clube do antigo regime..."
Arons de Carvalho, in O Benfica
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