"As movimentações dos principais dirigentes dos clubes por causa das eleições da Federação Portuguesa de Futebol, em função das mudanças estatutárias, acrescentaram uma nova faceta ao 'milieu', confirmando a apagamento e perda de poder dos líderes associativos e o pânico do xerifado em relação à transferência do controlo dos árbitros.
Transportando-nos aos saudosos tempos dos xitos e das noitadas do Conde Redondo, anteriores à invenção do telemóvel e das escutas digitais, quando os principais dirigentes associativos se assumiam como pontas-de-lança dos emblemas apenas a pretexto do fervor emblemático e de umas generosas excursões europeias em regime de pensão muito completa. Eram tempos pré-históricos, em que a hierarquia das Associações correspondia às ambições dos clubes, por delegação, e em que uma 'manutenção' ou uma subida de divisão, nem que fossem por via administrativa, valia tanto como um título para os maiores. Os dirigentes associativos eram pardos e de falinhas mansas, mas agressivos e canalhas q.b., sem contemplações perante os objectivos supremos, deixando como legado uma lógica de poder e cariz familiar.
Com o advento da Liga 'profissional' e de mediatização frenética de competição entre clubes, os associativos desceram à condição de amanuenses e deixaram de projectar qualquer figura de referência. Fazem o seu trabalho meritório, dividem umas pequenas benesses que escorrem dos sucessos das selecções, mas mal conseguem resolver o problema da falta de árbitros para o futebol amador.
Observa-se assim com naturalidade este movimento dos clubes profissionais a impor os seus interesses tão particulares a um mundo que pode ficar bloqueado e caótico, quando os futuros executivos concentrarem o seu labor na chamada alta competição. A evolução estatutária e redefinição democrática são bem-vindas, mas a preocupação do legislador quase exclusivamente com a regulação do desporto profissional pagará um preço elevado.
O avanço dos nomes do actual e do anterior presidente da Liga é constrangedor. Traduz a capitulação de um mundo que há décadas deixou de formar dirigentes fora das turmas de Direito, com as perversidades que se conhecem. As candidaturas surgem de forma meramente circunstancial, sem conteúdo nem ideias, apostando apenas no reconhecimento por proximidade - desconcertante no caso de Soares Franco.
O controlo do Conselho de Arbitragem continua a ser a preocupação central e condicionará todas as 'alianças' necessárias a um desfecho satisfatório para os clubes mais poderosos, podendo voltar a chegar, no limite, à aceitação por parte dos adversários do sistema de um dirigente comprometido com o 'Apito Dourado'.
E representa, em última análise, a extrema pobreza de recursos humanos a que o futebol, ao contrário de outras modalidades desportivas, se deixou chegar, em contraciclo com a afirmação internacional dos jogadores e treinadores. O futebol português não consegue projectar um líder respeitável, desinteressado, insuspeito - e, assim, esta cultura de guerrilha, falta de desportivismo e de tráfico de influências manter-se-á por mais algumas gerações, fazendo-o perder terreno de forma irreversível para os campeonatos internacionais mais mediatizados."
João Querido Manha, in Record
Transportando-nos aos saudosos tempos dos xitos e das noitadas do Conde Redondo, anteriores à invenção do telemóvel e das escutas digitais, quando os principais dirigentes associativos se assumiam como pontas-de-lança dos emblemas apenas a pretexto do fervor emblemático e de umas generosas excursões europeias em regime de pensão muito completa. Eram tempos pré-históricos, em que a hierarquia das Associações correspondia às ambições dos clubes, por delegação, e em que uma 'manutenção' ou uma subida de divisão, nem que fossem por via administrativa, valia tanto como um título para os maiores. Os dirigentes associativos eram pardos e de falinhas mansas, mas agressivos e canalhas q.b., sem contemplações perante os objectivos supremos, deixando como legado uma lógica de poder e cariz familiar.
Com o advento da Liga 'profissional' e de mediatização frenética de competição entre clubes, os associativos desceram à condição de amanuenses e deixaram de projectar qualquer figura de referência. Fazem o seu trabalho meritório, dividem umas pequenas benesses que escorrem dos sucessos das selecções, mas mal conseguem resolver o problema da falta de árbitros para o futebol amador.
Observa-se assim com naturalidade este movimento dos clubes profissionais a impor os seus interesses tão particulares a um mundo que pode ficar bloqueado e caótico, quando os futuros executivos concentrarem o seu labor na chamada alta competição. A evolução estatutária e redefinição democrática são bem-vindas, mas a preocupação do legislador quase exclusivamente com a regulação do desporto profissional pagará um preço elevado.
O avanço dos nomes do actual e do anterior presidente da Liga é constrangedor. Traduz a capitulação de um mundo que há décadas deixou de formar dirigentes fora das turmas de Direito, com as perversidades que se conhecem. As candidaturas surgem de forma meramente circunstancial, sem conteúdo nem ideias, apostando apenas no reconhecimento por proximidade - desconcertante no caso de Soares Franco.
O controlo do Conselho de Arbitragem continua a ser a preocupação central e condicionará todas as 'alianças' necessárias a um desfecho satisfatório para os clubes mais poderosos, podendo voltar a chegar, no limite, à aceitação por parte dos adversários do sistema de um dirigente comprometido com o 'Apito Dourado'.
E representa, em última análise, a extrema pobreza de recursos humanos a que o futebol, ao contrário de outras modalidades desportivas, se deixou chegar, em contraciclo com a afirmação internacional dos jogadores e treinadores. O futebol português não consegue projectar um líder respeitável, desinteressado, insuspeito - e, assim, esta cultura de guerrilha, falta de desportivismo e de tráfico de influências manter-se-á por mais algumas gerações, fazendo-o perder terreno de forma irreversível para os campeonatos internacionais mais mediatizados."
João Querido Manha, in Record
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