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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O "Ruço"

"Artur Correia marcou uma era ao serviço dos clubes que representou e da Selecção.

No Portugal dos anos 70, a única criatura de cabelos louros que ombreava com ele era a Tonicha. Apesar do pelo e dos olhos azuis muito pouco lusíadas, o 'Ruço' era um exemplo de raça. Vê-lo actuar, ora no Benfica, ora na Selecção, fazia-nos sentir mais benfiquistas, mais portugueses. Porque o 'Ruço' era o herói que morria em campo. Solidário. Tenaz. Quer a subir, iniciando jogadas que acabavam da melhor maneira nos pés de Eusébio, Artur Jorge, Jordão ou Nené, quer a descer e a ferrar os dentes no adversário.
Em 1977/1978, após seis épocas de encarnado e uma mão-cheia de títulos, foi para o Sporting. Custou vê-lo ir, de tão nosso que ele era. Mas interessa lembrar a seguinte verdade: ao intervalo dos jogos da sua nova equipa, a única coisa que lhe interessava era saber o resultado do 'Glorioso', de que se tornara sócio com apenas dois anos.
Internacional 35 vezes - 25 delas como jogador do Benfica -, deixou para a história do futebol português um golo épico à Noruega, em jogo de apuramento para o Europeu realizado no Jamor a 1 de Novembro de 1979.
No dia seguinte, correu a notícia do avistamento de um OVNI em forma de charuto na Madeira. Mas de nada se falou com tanto interesse como do golo do 'Ruço', arrancado quase do meio campo. Ele, sim, um verdadeiro charuto do outro mundo.
A 24 de Setembro de 1980 voltar-se-ia emotivamente a falar dele. Mas, desta feita, com tristeza. O herói do Jamor acabava de ser dado como perdido para o futebol.
Quando a TV noticiou o drama, antes de mais um episódio da telenovela brasileira Dona Xepa, lembro-me de, na verdura dos meus 12 anos, ter desejado que fosse 1 de Abril. Não era. E assim aprendi que só à traição se pode abater um lutador que avança e resiste quando todos os outros já caíram por terra. Como um tesouro, guardei para sempre a imagem do 'Ruço' a carcomer o relvado da Luz e a alcatifa do meu quarto, nos campeonatos de caricas.

- A primeira vez
Vindo do vizinho CF Benfica - o popular Fofó -, Artur vestiu pela primeira vez a camisola do SLB a 10/12/1967, num jogo do Distrital de Juniores realizado na Amadora frente ao Estrela. Sagra-se-ia, seis meses mais tarde campeão nacional da categoria.

- Aventura em Coimbra
As qualidades evidenciadas e a vontade de ser médico levá-lo-iam na temporada de 1968/69 até Coimbra. Reconhecidos os méritos, regressou ao Benfica durante o verão de 1971 e agarrou de pronto a titularidade.
- Começo em grande
Fez a 31/7/1971 o seu primeiro jogo, frente aos ingleses do Arsenal num encontro caseiro de carácter particular. No mês seguinte, conquistou em Cádis, diante do Peñarol, o prestigiado Ramón de Carranza."

Luís Lapão, in Mística

PS: Numa conversa em Marselha, na véspera da famosa meia-final da Taça dos Campeões Europeus, perguntava-se ao Ruço a razão da ida para o Sporting... os companheiros indagavam: 'eles pagavam mais?!!!', respondia o Ruço: 'pois, o problema era eles pagarem... acabei por perder dinheiro com a brincadeira...!!!'.
Uma das histórias mais engraçadas do Ruço (e são muitas...), é o dia em que assinou pelo Benfica, ainda Júnior. Estava a treinar no Fofó, quando alguém lhe disse para ir à Sede do SL Benfica, na Rua Jardim do Regedor assinar o contrato... saiu a correr do treino, e nem se lembrou de apanhar boleia ou um Táxi, foi de Benfica até aos Restauradores a correr... tanta era a felicidade!!!!

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