"Mesmo sem o nível artístico de 'O Mentiroso' de Goldoni, 'O Siciliano' de Molière, ou 'O Homem, a Besta e a Virtude' de Pirandello, assistimos na passada semana a uma peça do mais grotesco teatro que o futebol nos proporcionou ultimamente.
Necessitando urgentemente de diluir a nuvem mediática causada pelo sistemático favorecimento das arbitragens (bem como o efeito da revelação de novas escutas do processo 'Apito Dourado'), o gabinete de comunicação do FC Porto gizou uma estratégia clara: fazer do jogo de Guimarães um momento de catarse e redenção, onde o clube teria, enfim, razões de queixa, e poderia beber o sumo de uma vitimização capaz de mistificar tudo o que havia passado antes, colocando-o no mesmo plano daqueles que tinham efectivos (e graves) motivos para reclamar. Basicamente, voltando ao teatro, tratava-se de tentar - de forma tosca - transformar uma besta numa imaculada virtude.
O actor principal falhou redondamente, mas, diga-se, o papel não era fácil. Tudo poderia correr bem aos intentos da trupe se, efectivamente, por uma vez, o FC Porto tivesse sido prejudicado pelo homem do apito. Se, por uma única vez, tivesse um pingo de fundamentação para os seus lamentos. Não teve. O encenador equivocou-se, deixando o protagonista sozinho no palco a berrar contra todas as evidências, expondo-se ao ridículo e à chacota generalizada. É caso para dizer que o teatro das Antas já viu melhores dias.
Reconhecer o erro fica sempre bem. Mas este caso, mais do que corroer (quem sabe irreversivelmente) a imagem do treinador do FC Porto, desmascarou a forma como, por aquelas bandas, se confunde a realidade com a ficção, a verdade com a mentira, a indignação com o embuste.
Houve penálti em Guimarães, sim, mas cometido por Fucile, que até acabou por ficar em campo demasiado tempo face às infracções que, ao longo do jogo, foi cometendo. Houve influência da arbitragem, sim, mas (uma vez mais) a favor do FC Porto, que só assim (como em tantas outras ocasiões) evitou a derrota."
Luís Fialho, in O Benfica
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