"Já aqui escrevi que, no futebol, os comentários são invariavelmente função do resultado. Exemplifiquemos com a última jornada. Se Cardozo tivesse marcado o penalty, o comentário seria 'Benfica estoico supera no batatal com fato-macaco e capacidade de sofrimento'. Mas como o paraguaio foi incompetente, o comentário é 'um grande Gil mereceu o empate e o Benfica não teve arte nem engenho para superar o galo'. Se em Alvalade o Sporting tivesse convertido uma das várias oportunidades, lá iríamos ter 'futebol alegre de um Sporting maduro'. Mas como Ricardo defendeu tudo, 'o Sporting não geriu com competência a pressão de poder passar para o primeiro lugar'.
Outro traço presente na idiossincrasia futebolística é o enviesamento com que se observam e comentam as incidências dos jogos. E se isso até é divertido entre adeptos como um quase novo jogo (se não ultrapassar os limites do bom senso), não é de todo recomendável entre dirigentes, treinadores e jogadores. Como diz o povo, pela boca morre o peixe. Se hoje se verbera contra um erro do árbitro, amanhã se silencia um erro a nossa favor. Se hoje se identifica uma agressão no campo, amanhã se vê a mesmíssima coisa como um leve encosto. Se hoje a nossa equipa só defende, amanhã critica-se quem faz o mesmo contra nós. Se hoje se queimou tempo por parte do adversário, amanhã somos nós que fazemos tal e qual.
Com a excepção que advém da patologia batoteira (dourada ou não), esta simetria é um regra. A única variável é o tempo para a sua consumação. Por isso, começa a ser nauseante querer transformar esta simetria numa assimetria de sentido único."
Bagão Félix, in A Bola
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