"Em etapas evolutivas discerníveis pela quantidade de jogos efectuados ao mais alto nível, Gedson Fernandes e David Tavares perfilam-se como as próximas duas grandes pérolas a ter preponderância no meio-campo encarnado: numa sucessão natural aos consagrados Samaris, Fejsa, Pizzi e Gabriel e numa lista que conta ainda com a presença de Tiago Dantas, atleta de perfil diferente (menos físico, mais sofisticado) – um complemento ideal para os dois primeiros.
Olhando às funções que Lage entrega aos quatro da linha divisória, não é difícil encontrar espaço onde colocar Gedson. Pode perfeitamente ocupar a banda direita como falso ala – à imagem de Pizzi –, sendo essa até a melhor posição para aproveitar a velocidade de ponta do luso-santomense e a capacidade de associação em espaço interior. Esta última característica valeu-lhe um papel principal com Rui Vitória na primeira metade de 18/19: foram 22 participações em 25 possíveis e 1777 minutos num total de 2250 como terceiro médio de um 4-3-3, espaço onde rendeu com especial brilho, enquanto o retorno ao 4-4-2 parece ter impedido a sua progressão enquanto futebolista.
Assim como não é temor algum pedir-lhe para funcionar no centro. Foi ao lado de Florentino que foi a Istambul garantir a primeira vitória de sempre na Turquia, num papel diferente ao interpretado por Gabriel, já que as suas características o fazem assumir outro tipo de funções, mais perto daquilo que se reconhece como um box-to-box. Era habitual ver-se esta posição no modelo de Jesus, que apostava sobretudo nas transições suportadas por um médio de alta rotação como Ramires, Enzo Pérez ou Rúben Amorim. Quando não existia esse médio – como nas épocas de aposta em Aimar mais recuado ou Pizzi naquela zona – as prestações ficariam sempre aquém, principalmente fora de portas. É, dessa forma, uma opção a ter conta em jogos de outra necessidade física na luta pelo centro do terreno, onde pode perfeitamente associar-se com Gabriel e Taarabt, intervenientes com outra capacidade de passe.
Depois da caricata lesão nas férias, e consequente ausência dos trabalhos de pré-temporada, Gedson está agora pronto para voltar ao mais alto nível. No Benfica desde os nove anos, assume-se como um dos jogadores mais identificados com os valores do clube, onde só Jota (desde 2007) e Rúben Dias (desde 2008) têm mais anos de casa: pontos a favor na aposta da formação e factor de ligação à massa adepta e a um Terceiro Anel que sempre exigiu o equilíbrio entre a cantera e a qualidade diferenciada vinda de fora. Sempre foi esse, aliás, um dos componentes das melhores equipas que pisaram a Luz.
David Tavares, por seu lado, é um recém-chegado ao palco principal, ainda que as duas lesões graves em épocas consecutivas tenham impedido a sua contribuição mais cedo do que seria expectável. Tendo formado parte do conjunto que iniciou trabalhos com a equipa A no início de 2018-2019, uma ruptura do ligamento cruzado do joelho esquerdo levou-o a ficar de fora de Junho a Março: 257 dias onde estagnou a sua evolução, que perpetuou com a entorse ao joelho oposto nesta pré-época. É um médio todo-o-terreno (com formação dividida entre Alcochete e Seixal, depois de estágios preparatórios em Santo Antão de Tojal e Loures), e que reúne um conjunto de características um tanto parecidas às de Gedson: enorme capacidade no transporte e progressão com bola. Se na equipa B era dono de lugares mais perto da baliza contrária, parece claro que a sua evolução na equipa A terá de ser feita como opção para o lugar de Gabriel, ainda que Lage não tenha pejo em colá-lo na banda esquerda.
Se o Benfica conseguir segurar a base desta equipa, o sucesso estará logo ao virar da esquina. É essencial dar tempo e espaço à juventude para crescer e criar ligações entre si, num processo que, quando complementado com a qualidade vinda de fora para lugares específicos, acabará por elevar o Benfica a outros patamares competitivos. Que exista vontade de esperar pelo dinheiro: Félix jogou apenas seis meses como titular do Benfica."
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