"A três jornadas do fim do campeonato nacional de 1944-45, o Benfica recebeu o FC Porto e venceu por 7-2. Resultado doloroso para os portistas, que se lamentaram das baixas de Capitolino e Correia Dias. Guilherme Espírito Santo não teve piedade. E Teixeira também não.
A três domingos do fim, salientavam os jornais. A três domingos do fim do campeonato, claro. Agora, seria a três domingos do início, se os jogos fossem todos aos domingos, como nesse ano de 1945.
Barrigana, o grande Barrigana, teve uma tarde desgraçada. Pior do que desgraçada. Foi um tormento!
E Barrigana era uma figura!
Alfredo e Guilhar, na sua frente, também suaram as estopinhas.
O Benfica, mal se ouviu o trilar do apito de Augusto Pacheco, árbitro de Aveiro, atirou-se para a frente.
Espírito Santo, Arsénio, Teixeira e Rogério estavam endemoninhados.
Como segurá-los?
Não valia a pena perguntar aos defesas do FC Porto: eles não faziam a mais pequena ideia.
A velocidade posta em campo é impressionante.
Tanto por uma como por outra equipa. Havia uma diferença gritante. O Benfica atacava, atacava e atacava. Os portistas respondiam com a mesma gana, mas sempre lá atrás.
Espírito Santo tem um remate tremendo que o poste devolve.
Estão decorridos 20 minutos.
No mínimo seguinte, Rogério desmarca-se uma das laterais, isola-se e faz 1-0.
Há festa no Campo Grande. E veste de encarnado.
Oito minutos mais tarde é a vez de Mário Rui molhar a sopa.
Não é preciso perceber muito e em profundidade do jogo inventado pelos ingleses para se perceber que a vitória do Benfica vai ser uma realidade. E que os números serão pesados. Mas não se adivinhariam tantos golos.
Espírito Santo!!!
O povo feliz. Feliz porque, em maioria, adepto da equipa da casa, claro está. Os que tinham vindo do Porto estavam de cabeça baixa. Compreensível.
As diferentes entravam pelos olhos adentro.
Queixavam-se os portistas de que estavam diminuídos. Gente que ficara de fora. Gente importante como Capitolino, por exemplo. Ou Correia Dias.
O Benfica, por seu lado, não tinha culpa dessas limitações do adversário.
Fazia o seu jogo e tirava proveito das debilidades contrárias.
Rosa, ainda assim, fez uma ou outra defesa complicada.
Guilhar, trapalhão, toca a bola para a própria baliza. Azar!
Na segunda parte, as diferenças acentuaram-se.
Guilherme Espírito Santo faz o 4-0, mas o lance é anulado.
Araújo reduz. Surpreendentemente.
Tudo está em suspenso, agora. Serão os nortenhos capazes da reviravolta? Mesmo a despeito das suas limitações?
Ah! Reviravolta! Algo de praticamente impossível perante o que acontecia dentro das quatro linhas.
Uma quimera. Um sonho.
Um sonho sem consequências.
Porfia o Benfica.
O ritmo do jogo baixa significativamente. É natural. Ninguém aguentava tamanha correria de forma contínua como esta se desenrolava.
27 minutos da segunda parte: Espírito Santo voa para uma bola centrada do lado direito. Guilherme era um atleta completo. Voava no salto em comprimento, modalidade em que foi recordista nacional. Voava no futebol. Do seu voo saiu mais um golo. Cabeçada perfeita, espectacular.
Logo a seguir, Arsénio.
Cinco a um.
Caramba! Já era um resultado pesado. Muito pesado.
Ainda há rebeldia nos homens que vieram da capital do Norte. Uma rebeldia que os faz resistir, resistir ainda...
Araújo reduz. Mas é apenas um gesto de desespero.
É a vez de Teixeira entrar em funções. Teixeira era forte, resistente. Aguentava até ao último dos noventa minutos com a gana que apresentava no primeiro.
É ele que vai fechar o resultado: 7-2.
A três jornadas do fim.
Um Benfica de golos. Em casa deu 7-2 ao FC Porto, 5-0 ao Vitória de Guimarães, 6-1 à Académica, 7-2 ao Vitória de Setúbal, 11-3 ao Salgueiros.
Golos e mais golos:79 em 18 jogos.
E um título de campeão. Mais um. Nessa altura foi o sexto. Já vai em 37..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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