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sábado, 15 de novembro de 2025

A justiça olímpica para 'todes'


"O The Times revelou esta semana que o Comité Olímpico Internacional (COI) se prepara para recuar na decisão em relação aos atletas trans e deve anunciar a proibição da sua participação nos Jogos Olímpicos

A caminho de um torneio em França, alguns elementos da então União Holandesa de Atletismo retiram Foekje Dillema do comboio. Na plataforma da estação de Hilversum, disseram-lhe que a sua jornada terminava ali e que nunca mais teria autorização para competir. Quando ela agarrou na sua mala que estava no compartimento onde estavam as suas companheiras de equipa que, surpreendidas, lhe perguntaram o que se passava respondeu: «Dizem que eu não sou uma rapariga.»
Voltou à terra pobre que a viu nascer e nunca mais falou com jornalistas. Quando morreu, análises de ADN mostraram que era intersexo, o que antes se denominava hermafrodita. Viveu sempre como mulher e apesar de nunca ter sido esclarecido, algumas fontes garantem que terá recusado submeter-se a um teste de verificação de sexo, na altura, anos 50 do século passado, um exame físico invasivo. Foi banida para sempre.
Esta semana, o The Times revelou que o Comité Olímpico Internacional (COI) deve anunciar no início de 2026 que decidiu proibir a participação de todas as atletas transgénero nas categorias femininas dos Jogos Olímpicos, colocando um ponto final numa polémica que não pára de aumentar.
Até agora, o COI adotou o princípio de «nenhuma exclusão sem base científica», deixando nas mãos de cada modalidade a decisão, salvaguardando, porém, que as mulheres transgénero só poderiam competir com níveis reduzidos de testosterona.
Agora, a diretora médica e científica do COI apresentou um estudo que sustenta existirem provas científicas de que alguém que nasceu biologicamente com o sexo masculino terá sempre vantagem física, mesmo com tratamentos de supressão hormonal durante vários anos.
Os 46 segundos que durou o combate de boxe entre a argelina Imane Khelif e a italiana Angela Carini, em Paris2024, reacendeu a polémica, até porque a italiana desistiu ao primeiro soco acusando a rival de ser um homem.
Na realidade, até hoje, a única atleta abertamente trans a competir nuns Jogos foi a neozelandesa Laurel Hubbard, no halterofilismo, em Tóquio2020, embora algumas páginas tenham anunciado que na capital francesa competiram 190 atletas LGBTQI+, três não binárias assumidas: Nikki Hiltz (atletismo), Quinn, do futebol canadiano e Alana Smith (skate). Ser não-binário (identidade de género) não implica qualquer transição médica, hormonal ou cirúrgica.
A decisão que o COI se prepara para anunciar lança para cima da mesa várias questões e a primeira é que o sistema desportivo atual não tem espaço institucional para identidades fora do binário homem/mulher.
Pela frente uma batalha entre quem acredita que princípio basilar do desporto olímpico é a igualdade de condições e que atletas trans mulheres, que passaram pela puberdade masculina, podem manter vantagens fisiológicas — maior massa muscular, densidade óssea e capacidade cardiovascular — mesmo após anos de terapia hormonal. Além disso, defendem, as categorias femininas foram criadas para garantir oportunidades justas às mulheres, após séculos de exclusão desportiva e que a inclusão de atletas trans é uma ameaça a esse espaço, revertendo conquistas do movimento feminista no desporto. Somado a isto, claro, há modalidades que têm exigências físicas diferentes.
Crie-se uma categoria para os que não são homens ou mulheres, clamam. Mas, a criação de eventos abertos ou híbridos será uma solução justa ou apenas reforça a segregação?
Parece simples?
Mas não é.
Para outros, a exclusão de atletas trans viola o princípio da dignidade humana e o direito à igualdade de oportunidades reconhecido pela Carta Olímpica. Se o desporto deve ser um espaço de inclusão e representação social, banir atletas trans reforça estigmas e marginalização. O desporto deve ser uma arena de meritocracia biológica ou de inclusão social?
Tanto para discutir... Afinal, a quem pertence a definição de justiça no desporto: à biologia, à identidade ou à sociedade?"

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