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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Mudanças

"Hoje, nos dias que correm, como em cada época da história moderna depois do século XVIII, é claro no senso comum que o mundo mudou. Todos os meses, todos os dias, muda. Muito: a cada hora, tudo se transforma e evolui. Os arquétipos da vida social, as estruturas comunitárias, as cidades, as empresas, as associações, as vidas das famílias e das pessoas. Mudam também, por extensão e de modos cada vez mais constantes, as circunstâncias civilizacionais, os modelos de conhecimento, as condições científicas, as experiências culturais e as arquitecturas e linhas da comunicação.
Tais e todas as transformações induzem naturalmente a novas tipologias comportamentais nas pessoas. E, nas presentes circunstâncias, tal não será de espantar, como mais directas consequências resultantes, no plano individual, da compressão poderosamente exercida pelo ambiente global de mudança. Em todo o caso - nos dias em que estamos a viver - o que já é bastante mais impressionista, são as patentes alterações, agora tão sensíveis, no quadro da personalidade humana e nos próprios padrões identitários do homem.
O cão é sempre um cão, mesmo que as condições da sua alimentação ou da progressiva domesticação se tenham alterado com os tempos. O toiro sempre se mantém, anda hoje, como o mesmo animal bravio, cujas características conhecemos através de descrições literárias e pinturas artísticas que herdámos do passado. As selvas e florestas tropicais transformaram-se dramaticamente, mas a natureza das cobras e dos répteis, não. Nada. No entanto, por vezes (vezes demais...), a personalidade humana pode tornar-se permeável e inesperadas mudanças, da mudança. E estas serão as mais exógenas alterações de toda a criação, porque, precisamente, são as que mais afectam, de modo mais interior e mais profundo, a própria constituição fundamental do único ser inteligente que reside à face da terra e se pode movimentar sobre as águas e nos céus.
Quer exemplos desta dramática permeabilidade, que hoje tão facilmente pode transformar homens ao nível intelectual as canídeos, bovinos ou lagartos?
Basta conferir o insultuoso comportamento de tantos falsos opinion makers de pacotilha que hoje diariamente peroram, como se ainda tivessem cérebro, em tantos e tantos escarcéus de tantas televisões: o que ontem diziam que pensavam é o contrário do que hoje despudoradamente vomitam, de cerviz baixa e com a espinha amolecida. Em todo o caso, perante todos os que conservamos a cabeça limpa e a coluna firme, nenhum deles vale, sequer, um caracol..."

José Nuno Martins, in O Benfica

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