"Aposta na formação. A ideia está presente nos programas de todos os candidatos a presidente do Benfica. Estará, aliás, provavelmente nos planos de todos os presidentes de todos os clubes, mas no caso português, e especificamente no do Benfica, pouco tem passado de uma vontade, de um desejo concretizado episodicamente, sem linha estrutural que lhe permita alcançar estatuto de projeto.
«Aposta na formação. A ideia está presente nos programas de todos os candidatos a presidente do Benfica.»
As declarações de José Mourinho depois da vitória frente ao Chaves, para a Taça de Portugal, são sintomáticas. Depois de ter proporcionado a estreia a titular do médio-ofensivo João Rego, e de ter promovido a estreia absoluta do extremo Ivan Lima, o treinador disse que tudo irá fazer para «tentar dar continuidade ao Ivan [Lima] e a todos no Campus que sonham com isto».
Efetivamente, é um sonho para os jovens que crescem no Seixal, mas para o Benfica tem de ser muito mais. Rego trabalha em contexto de plantel principal há mais de uma época e ainda nenhum treinador o fixou numa posição para que ele possa crescer de forma sustentada; Ivan Lima foi chamado porque não há extremos com as características dele no plantel. Aliás, quase não há extremos.
«Efetivamente, é um sonho para os jovens que crescem no Seixal, mas para o Benfica tem de ser muito mais.»
A responsabilidade não é de Mourinho, de Lage, ou de outros treinadores antes deles, mas de uma cultura de clube (e de adeptos ) sem paciência, que se deslumbra na procura de resultados imediatos em detrimento da consolidação de capacidade. Mesmo quando Lage foi campeão em 2018/19 com uma série de miúdos como João Félix, Florentino, Ferro, Rúben Dias, ou Gedson Fernandes, a expetativa esfumou-se logo a seguir com a venda de Félix, empréstimos de Gedson e Florentino, para encontrar espaço para apostas caras como o alemão Weigl.
«O sucesso das equipas jovens do Benfica, nos últimos anos, merece melhor aproveitamento; não faz sentido investir tanto e tanto tempo para pouco proveito.»
Claro que João Félix, Rúben Dias ou João Neves são craques que não surgem todos os anos, nem todas as décadas, mas isso não significa que a formação não tenha capacidade para alimentar a equipa principal com jogadores competitivos, muitas vezes nada inferiores às aquisições. O sucesso das equipas jovens do Benfica, nos últimos anos, merece melhor aproveitamento; não faz sentido investir tanto e tanto tempo para pouco proveito.
Ter Rego, João Veloso, Leandro Santos, Gonçalo Oliveira, Ivan Lima e outros no plantel só porque faltam soluções, à espera da próxima janela de mercado para dar e voltar a baralhar, é fogo de vista. O destino se encarregará de dar palco aos predestinados, mas os outros, os bons, competitivos, merecem ser apostas e não apenas soluções de recurso.
«O destino se encarregará de dar palco aos predestinados.»
Esta ideia, apesar de romântica, reconheço, cria equipas e clubes mais fortes, planteis mais unidos, e cria riqueza para que quando se contrata caro seja para investir em alguém que entregue um futebol realmente diferenciado. Para seguir este caminho é preciso coragem, sobretudo da massa associativa, para saber esperar. Este não pode ser, definitivamente, apenas um sonho de jovens. Deve ser prioridade do Benfica."

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!