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sábado, 12 de abril de 2025

A bola tem de continuar a rolar


"Nos bairros de Lisboa há crianças que pegam numa bola, improvisam uma equipa e conseguem marcar golos ao futuro. Foi assim para muitos atletas que começaram em clubes pequenos e, com esforço e talento, conseguiram chegar ao topo. Não só no futebol ou no basquetebol, mas também no atletismo, no judo, no ciclismo e em tantas outras modalidades. A prática desportiva não é apenas uma ferramenta de superação pessoal, é também um elevador social, um caminho para a integração e coesão social.
Ao longo da História, o desporto dissipou rivalidades políticas e construiu pontes. Nos Jogos Olímpicos, nações em conflito partilham a mesma pista, campo ou piscina e a atividade desportiva lembra-nos que há sempre lugar para a cooperação. É esta a importância do Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz, que se assinalou no último domingo.
Mas para que o desporto cumpra este papel, é preciso investimento. Em Lisboa, tudo o que tem havido é esquecimento. A cidade, que apostou na requalificação do espaço público e numa estratégia ambiental que lhe valeu o título de Capital Verde 2020, queria que qualquer pessoa tivesse perto de sua casa um espaço para atividade física, fosse um espaço público com condições para uma simples caminhada, ou aparelhos de fitness ao ar livre. Quando, em 2021, foi Capital Europeia do Desporto, Lisboa tinha projetado infraestruturas e apoios para clubes e atletas de todas as idades. E, mesmo com as limitações impostas pela pandemia, a Câmara assumiu um apoio sem precedentes de 20 milhões de euros para clubes e associações desportivas.
Só que este ímpeto foi travado e as políticas pensadas e preparadas recuaram. Carlos Moedas e a sua equipa optaram pela inação e as consequências do desinvestimento estão à vista. Há atrasos nos apoios aos clubes e faltam novos equipamentos que já estavam previstos no último mandato, como os pavilhões de Campo de Ourique, do Parque das Nações e de São Domingos de Benfica – apenas Marvila avançou. O Complexo de Carnide, pronto para ser lançado, ainda não saiu do papel, apesar de tantas vezes anunciado.
Lisboa perdeu também as mobilizadoras e inclusivas Olisipíadas. Depois de três anos de vazio, foi agora lançada uma versão envergonhada e rebaptizada de Joga Lisboa, deixada à boa-vontade das juntas de freguesia, e que esquece a anterior e significativa participação e importantes laços comunitários criados. Num país onde 73% dos portugueses não praticam atividade física regular, este desinvestimento não é um pormenor.
Mesmo na oposição, o PS não abandonou o desporto. Não deixou cair a natação escolar, nem o Programa Lisboa +55, que o PSD/CDS queria eliminar. Lutou por mais apoios para os clubes e interveio para salvar instituições à beira do encerramento, como os históricos Clube Atlético e Cultural e o Núcleo do Liceu Passos Manuel.
A gestão de Moedas aprovou, no final de 2024, a revisão da Carta Desportiva da Cidade — documento do mandato anterior, adiado pela pandemia. Só que esta Carta, depois de ano e meio na gaveta dos Novos Tempos, chegou desatualizada e a confirmar um mandato perdido. Enquanto entre 2010 e 2020, em gestão PS, aumentaram em quase 25% os equipamentos na cidade face à década anterior, há agora 329 intervenções previstas, mas atiradas para o futuro.
Que este Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz tenha servido para nos lembrarmos que o desporto não é um luxo, mas uma prioridade estratégica para qualquer cidade, capaz de proporcionar melhor qualidade de vida, saúde e integração social. E que, se uma bola pode mudar vidas, cabe-nos a nós garantir que ela não pare de rolar."

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