"Esta é das crónicas mais difíceis de escrever em toda a minha colaboração com A BOLA. Diziam os romanos que dos mortos só se fala quando se pode dizer bem. Ora que querem que diga do meu Benfica na final da Taça? Mal, muito mal ou péssimo? Exibição confrangedora que retira qualquer direito moral de censurar uma arbitragem miserável.
O Benfica não tem desculpas para a derrota na Taça de Portugal. Culpas próprias e várias. Recuso-me a negar a evidência. Saí envergonhado do Jamor. (todos os parabéns ao Vitória de Guimarães) Triste pelo resultado e envergonhado pela exibição.
Numa altura de catarse colectiva, saibamos encontrar a força (eu estou com dificuldade) de chegar ainda mais fortes ao início da próxima época. Tenho a angústia, que a época não comece amanhã. Escrever a história apenas com base num desaire é como adivinhar os números do euromilhões no dia seguinte. Mas como os versos de Pablo Neruda, o amor é um espinho de incertezas, e eu fui consolado à saída do Jamor por um miúdo de cerca de 12 anos, que, sentindo a minha tristeza, me abraçou espontaneamente e me disse cantando: «Devemos ser loucos da cabeça / Amamos o Benfica com certeza.» Não sei como se chama, temos até não o reconhecer se o voltar a ver, mas percebi que ele é como eu era aos 12 anos, e eu sou como ele será quando passar os 40, e ambos seremos como o avô que o segurava pela mão se chegarmos aos 70. Por isso, eu como ele, sabemos que só assim vale a pena viver esta paixão saudavelmente doentia. Por isso desconsidero quem esta semana me perguntou se estava tudo bem, e não esqueço quem esta semana me tratou da alma. Na vida detesto o mais ou menos e o tanto faz.
Parabéns ao basquetebol encarnado, que repetiu em Coimbra este ano, o título de campeão nacional que já tinha conseguido no Dragão no último ano."
Sílvio Cervan, in A Bola
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