"Esta edição do nosso Jornal é publicada numa conjunção simbólica fortíssima, incomum. Se não mesmo, verdadeiramente singular.
PRIMEIRO, porque se refere à semana do 25 de Abril que ontem celebrámos. precisamente num momento da história portuguesa em que voltámos a viver num clima de indesmentível inquietação social, com laivos daquele desesperador ambiente que caracterizava o final do marcelismo, as graves circunstâncias do presente português trazem claramente à memória daqueles que viveram os tempos de 73-74, algumas das mesmas razões que levaram a que um grupo de bravos - então, genericamente despojados da cupidez do poder - viessem resgatar um país triste e pobre e lhe dessem ensejo à Liberdade, à Paz e à Democracia. Mesmo sabendo tudo quanto nos acontece agora, todas as homenagens continuam a ser devidas aos nossos Militares de Abril: não são eles os culpados.
DEPOIS, porque o Jornal O Benfica publica hoje a edição n.º 3600, mais de setenta anos depois do primeiro Director José Magalhães Godinho ter subscrito o seu editorial de fundação, em 11 de Novembro de 1943. Era a época do décimo sétimo presidente do Benfica - o dr. Augusto da Fonseca Júnior, um médico ilustre e ex-atleta do Glorioso, que já havia anteriormente sido eleito por diversas vezes, Presidente da Assembleia Geral do Clube. Foram dois cidadãos notáveis, ambos tendo mantido corajosos percursos de oposição muito activa e persistente ao regime salazarista. O seu ilustríssimo antecessor e mestre Magalhães Godinho, advogado célebre, falecido há 19 anos, entre muitas outras assinaláveis actividades públicas e pessoais, fundaria em 1943, com amigos seus, o Movimento de União Democrática Antifascista e, em 45, o Movimento de Unidade Democrática e vindo a redigir, em 1961, o famoso Programa para a Democratização da República que provocaria a incontida ira do ditador beirão. E juntamente com o Presidente Augusto Fonseca, além de ambos terem desenhado n'O Benfica os fundamentos primordiais que ainda hoje constituem o desígnio rigoroso do nosso Jornal, nunca temeram participar de modo constante, em sucessivas candidaturas para a Presidência da República - Norton de Matos (1949), Quintão Meireles (1953) e Humberto Delgado (1958), quando, no Portugal-sem-outras-cores e em tempos tão difíceis, o Benfica já era, como hoje se mantém, um impressionante bastião da Liberdade e da Democracia.
E POR FIM, porque nesta fase absolutamente crucial da época, estamos a viver de novo uma exaltante circunstância, com os nossos atletas, técnicos e estruturas, a terem voltado a elevar a fasquia da nossa esperança em muitas modalidades e torneios.
Mas não estão sozinhos no seu esforço.
Na Luz e em todos os estádios ou campos, nos nossos pavilhões e nas casas dos outros, cabe agora aos Sócios e aos adeptos do Benfica, desempenharem o papel mais honrado e importante, que é próprio dos que sentem e vivem com paixão as vitórias da nossa Glória.
Como exemplo de unidade e de comum entrega, até à rouquidão, também se nos exige, a cada um de nós o nosso próprio esforço nas bancadas: BENFICA! BENFICA! BENFICA!"
José Nuno Martins, in O Benfica
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