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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Capitão para sempre

"Se em Setembro de 2003, após um jogo a contar para a Taça UEFA, disputado na Bélgica diante do modesto La Louviere, dissessem a Luisão (recém-chegado à Luz) que iria tornar-se um símbolo do Benfica, decerto nem ele próprio acreditaria.


A partida correu-lhe francamente mal, e levantou por aí bastantes dúvidas sobre as suas reais capacidades de um jogador até então quase desconhecido, e com uma fisionomia aparentemente pouco propícia a um bom trato com a bola. Recordo, a propósito, um artigo de uma revista da altura (que lamento não ter recortado e guardado), onde inclusivamente se punha em causa a competência do Departamento de Prospecção do Benfica por ter indicado um futebolista como Luisão - tido precipitadamente, após dois jogos, como um gigantesco flop.


Não foi preciso esperar muito tempo para se perceber quão absurdas eram essas dúvidas, e quão humilhante era o tal artigo para o seu autor. Com alguns jogos de integração, o central brasileiro não tardou a evidenciar a sua enorme qualidade, fixou-se como esteio da linha defensiva da equipa, e afirmou-se como uma figura de relevo, não só dentro do campo (pela voz de comando que rapidamente soube impor), como também fora dele (demonstrando, a cada intervenção, inteligência, maturidade, liderança e profissionalismo acima da média). Hoje é, incontestavelmente, o Capitão do Benfica, e o estrangeiro (se é que o podemos tratar como tal) com mais jogos realizados pelo nosso Clube.




Luisão fica!


Com o passar dos anos, e à medida que crescia a sua importância dentro da equipa, e do Clube, muitas vezes se falou de uma possível saída. Ao contrário da ideia que alguns pretenderam fazer passar, nunca ouvimos Luisão dizer, frontal e publicamente, que queria sair do Benfica. Ouvimos rumores, boatos, declarações de empresários, e, quando muito, uma posição de abertura do jogador a eventuais propostas profissionais que satisfazessem todas as partes. Resistindo às ondas de especulação que, ano após ano, eram lançadas sobre si, sempre foi ficando, até chegar a um ponto em que qualquer venda tornar-se-ia necessariamente num péssimo negócio, pois a idade começava incontornavelmente a condicionar o valor de mercado, subtraindo-o face ao peso desportivo, e paradesportivo, que o atleta tinha, tem, e ainda terá, no seio da equipa 'encarnada'. Na passada semana Luisão renovou o contrato até aos 35 anos, tudo se conjugando agora para que termine a sua carreira de 'águia ao peito', cumprindo um destino que deixa toda a Família Benfiquista bastante feliz.


Mais do que um grande jogador (internacional inúmeras vezes pela poderosíssima selecção brasileira), mais do que a referência de balneário (precioso na integração de novos recrutas, sobretudo num plantel de cariz predominantemente sul-americano), Luisão é também, como comecei por dizer, um símbolo do Clube. Chegou cá alguns dias antes de dois acontecimentos que transfiguraram a história recente do Benfica. Falo da inauguração do novo Estádio da Luz, e da chegada de Luís Filipe Vieira à cadeira da presidência. Poucos meses depois, o Clube acordaria de um longo jejum de títulos, vencendo a Taça de Portugal frente ao FC Porto, e de permeio assistimos à trágica morte de Miklos Fehér em pleno relvado, que, através da dor e por via das lágrimas, teve também o condão de unir a nossa Família. Passados esses quatro momentos, nada foi como antes, e o Benfica pôde enfim resgatar o orgulho que anos menos felizes quase tinham hipotecado. Vimos então o nosso Clube tornar-se uma entidade novamente temida pelos rivais, e respeitada no País e fora dele. Vimos então um grande Benfica a renascer, com realizações desportivas, infraestruturais e institucionais de monta.




O símbolo


Luisão é, dentro da campo, o símbolo desse novo tempo. É o rosto de um Benfica moderno, revitalizado, pujante e ganhador. Com Luisão no centro da sua defesa, o Benfica conquistou dois Campeonatos, uma Taça, uma Supertaça, três Taças da Liga, chegou aos quartos-de-final da Champions, e às meias-finais da Liga Europa (em muitos dos casos com participação directa do central, especialistas, como sabemos, em golos decisivos). Com os jogos realizados, com os títulos alcançados, Luisão é já um património da nossa história.


Em termos marcados pela enorme volatilidade dos mercados de transferências, 13 anos ao serviço do mesmo clube é algo muito pouco comum. Nessa medida, Luisão não é um simples jogador de Futebol. É - como na minha infância eram Bento, Humberto, Chalana ou Nené - um jogador do Benfica."




Luís Fialho, in O Benfica

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