"O "DAY AFTER"
É assim que deve ser
1 - No meio da vozearia em torno do empate de Portugal, retenho essa ideia recorrente que nos repreende a todos: voltamos a reagir de modo esquizofrénico - anteontem éramos bestiais, hoje somos bestas, no sábado seremos deuses do Olimpo. Percebo o afã de suplantar a assertividade comum, mas vou tentar suplantá-lo a ele também. Gosto dessa esquizofrenia, passe a metáfora. Gosto da alucinação e do delírio, da incoerência e da desagregação de personalidade. Também eu estou decepcionado e no sábado, depois da vitória sobre a Áustria, cantarei a "Portuguesa" como se as caravelas voltassem a largar. O futebol serve para nos despentear. A Selecção, mais ainda.
2 - Vale a pena ponderar os erros cometidos, porém. Os erros individuais, como a descoordenação entre Pepe e Vieirinha ou o falhanço inusitado daquela cabeçada de Ronaldo; e os erros colectivos, incluindo a convicção demasiado evidente de que a vitória acabaria por chegar e todas as más opções do selecionador. Fernando Santos apostou nos jogadores errados, demorou a corrigir e ainda corrigiu mal. As fragilidades do meio-campo ficaram claras cedo de mais, e o excesso de confiança veio do banco. Contra a Áustria, devia jogar o meio-campo do Sporting (mais talvez André Gomes, a melhor surpresa da estreia). Quase todas as grandes selecções assentaram em modelos rotinados nos clubes.
3 - O resto é menor. Começámos mal a qualificação e acabámos líderes incontestados. Em 2004, a nossa melhor participação de sempre, até abrimos a fase final a perder. Só temos de esquecer aquilo em que nunca devíamos ter acreditado: que os jogos de preparação diziam alguma coisa sobre nós. E não repetir a condescendência que, ontem, as palavras do CR7 denunciaram."
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