"Vamos a ver se nos entendemos. O artigo que vai ler é uma crítica a Jorge Jesus, o treinador. Mas, para que fique bem claro, em momento algum procurará justificar o que se passou em Alcochete. Nada justifica o que se passou na Academia do Sporting. Nem mesmo a incompetência de um treinador que custa ao clube cerca de 7,5 milhões por ano e que vive numa redoma. O Sporting jogou mal, Jesus falou no custo do sucesso e queixou-se – quando lamentou a falta de um jogador que desse velocidade ao jogo - de um dos plantéis mais caros que alguma vez passou por Alvalade. Dito isto, o grande responsável pela chegada do técnico ao Sporting, o presidente Bruno de Carvalho, terá de assumir culpas e sair – o projecto falhou.
Os acontecimentos bárbaros a que o país assistiu na passada segunda-feira vão para além do futebol. Ninguém, jamais, merece ser vítima de um ataque como aquele ocorrido na Academia do Sporting. A minha visão crítica sobre o trabalho de Jorge Jesus não pode ser vista como atenuante para os actos cobardes daquela gente que, espero, seja punida em conformidade. Mas, nem o próprio Jorge Jesus quererá que tais acontecimentos o ilibem do fracasso que foi a época do Sporting. Em última análise, o responsável pelo insucesso terá de ser o homem que apostou no treinador. Ou seja, seria da mais elementar justiça Bruno de Carvalho assumir que o projecto falhou e bater com a porta, por mais que isso lhe custe.
O presidente do Sporting já deu a entender que não lhe passa pela cabeça reconhecer o erro e colocar o lugar à disposição, mas isso são outros quinhentos. O que aqui venho criticar é a forma como Jorge Jesus geriu a temporada e o plantel de que dispôs. Corro o risco de ser injusto para com o ainda treinador do Sporting uma vez que não é líquido que tenha sido Jesus a escolher os jogadores, mas seria de estranhar que assim não fosse e, como tal, depreende-se que o treinador de 63 anos tenha tido responsabilidade na chegada, a Alvalade, da maioria dos jogadores desde que é treinador dos leões. O facto curioso é que o melhor ano de Jesus à frente do Sporting aconteceu quando menos influência teve na construção do plantel. Rui Patrício, Jefferson, William, Adrien, João Mário, Slimani, Carrillo e o próprio Bryan Ruiz, que havia sido contratado ainda antes da chegada de Jesus, foram as grandes figuras de 2015/16, nenhum deles escolhido pelo treinador.
Daí para cá tem sido um corrupio de entradas e saídas de jogadores com o clube de Alvalade a investir na equipa de futebol como nunca antes. Sem perceber a extensão do custo futuro que este investimento pode ter para o clube, a verdade é que Bruno de Carvalho, neste capítulo, fez o que pôde e, talvez, o que não deveria. Deu a Jorge Jesus tudo e mais alguma coisa, mas nunca o suficiente para o técnico amadorense retribuir com o tão desejado título de campeão nacional. A temporada que agora chega ao fim foi mais um exemplo da falta de capacidade que Jorge Jesus continua a evidenciar em construir plantéis equilibrados. Mais: não percebeu que, para o Sporting ser campeão, tem de colocar de lado o ego e relegar as competições europeias para segundo plano.
Não chegam os dedos das duas mãos para contar as vezes em que Jorge Jesus falou no “preço do sucesso” para justificar a fadiga de alguns jogadores, mas eu pergunto: qual sucesso? Ganhar um Taça da Liga e eventualmente a Taça de Portugal, ficar em terceiro lugar do campeonato e ficar-se pelos quartos de final da Liga Europa não pode ser considerado sucesso se olharmos para o volume de investimento realizado pelo clube. Jorge Jesus não percebeu que o objectivo mais importante para o Sporting é sagrar-se campeão nacional primeiro e, depois, porventura, aventurar-se por rotas europeias. Mas os lamentos do treinador do Sporting não se ficaram pelo facto de os jogadores se apresentarem fatigados em momentos cruciais da temporada, Jesus assumiu publicamente que o plantel que ele tinha construído era desequilibrado. Fê-lo quando disse que Gelson era o único jogador do grupo com capacidade de emprestar velocidade ao jogo da equipa.
Cedo se percebeu que Acuña, por quem o Sporting pagou cerca de dez milhões de euros, não seria esse jogador, e aqui questiono o seguinte: quem terá dado o aval à contratação do argentino? Seria Jesus conhecedor das características do jogador? Não quero ser mal interpretado, Acuña é um jogador de qualidade, atestada pelas regulares chamadas à selecção argentina, mas não é um desequilibrador e, dados os parcos recursos financeiros do Sporting, um jogador que custa dez milhões aos cofres do clube tem de fazer a diferença. Foi evidente, ao longo da temporada, a dependência do Sporting na capacidade de Gelson em agitar o jogo e isso é pouco. Muito pouco. Essa dependência foi ainda mais notória nos jogos com os grandes, onde o Sporting se mostrou sempre incapaz de criar desequilíbrios.
A lesão de Daniel Podence foi um golpe pouco valorizado pela generalidade da opinião pública, mas isso não justifica tudo. Quando Jesus reclamava por velocidade no ataque, chegaram, a Alvalade, Rúben Ribeiro, Montero, Misic e Wendel. Numa altura em que a equipa estava na luta pelo título custa perceber o critério que fez chegar ao Sporting jogadores que são tudo menos velozes. Volto a questionar: foi Jesus que pediu estes futebolistas? Não teria sido melhor canalizar os recursos para o reforço da lacuna identificada pelo treinador. Ou, porque terá Jesus condenado ao ostracismo Doumbia, mantendo apenas Dost na frente de ataque, um finalizador nato, mas que limita muito o jogo ofensivo da equipa, como ficou evidenciado nas enormes dificuldades sentidas pelo Sporting nas partidas frente a FC Porto, Benfica e SC Braga. Os leões não venceram qualquer jogo frente a estes conjuntos para o campeonato.
Julgo que a certa altura Jorge Jesus pensou que teria mais chances de sucesso na Liga Europa do que no campeonato. E porquê? Porque como o técnico do Sporting, a certa altura, afirmou, a equipa italianizou-se. Mais do que uma incapacidade em resolver os jogos cedos, foram muitas as vezes em que Jesus assumiu uma estratégia de contenção, esperar pelos últimos minutos para resolver os desafios. Se é verdade que a estratégia funcionou até determinado momento também é verdade que a continuidade do Sporting na corrida pelo título tinha um fim anunciado, o que acabou por se verificar com a derrota no Estádio do Dragão.
Os desaires em Braga e no Dragão e a eliminação na Liga Europa terminaram com o “sucesso” de que Jorge Jesus se socorria para justificar o fraco futebol praticado pelo Sporting durante toda a temporada. O treinador dos leões não foi capaz de dotar a equipa de soluções que lhe permitisse variar o estilo de jogo, sempre muito dependente dos malabarismos (muitas vezes inconsequentes) de Gelson e dos laivos de genialidade de Bruno Fernandes, sem dúvida, o jogador mais da equipa e que já fez Jorge Jesus puxar dos galões, quando disse que ninguém queria o médio e que tinha sido ele o único a acreditar no camisola 8 leonino.
O pós-Madrid mostrou um Jorge Jesus que não conhecíamos, aliás, foi o próprio que reconheceu nunca ter experimentado uma situação como aquela por que o Sporting atravessou depois do desaire frente ao Atlético Madrid. Destacou-se positivamente pela forma com que lidou com a complicadíssima situação causada pelos posts de Bruno de Carvalho e a consequente resposta pública dos jogadores. Mas o facto de ter estado bem, ao saber gerir o tal momento conturbado, não pode apagar tudo o resto. Jorge Jesus é extremamente bem pago e não pode passar pelos pingos da chuva sem ser responsabilizado."
Um plantel que seja constantemente pressionado a não errar em vez de ser apoiado normalmente acaba por falhar. BdC é um presidente adepto e como muitos adeptos acha que só se deve exigir. Jesus também falhou mas este desfecho seria inevitável. com uma liderança sempre a questionar a qualidade do plantel é normal que os jogadores duvidem de si mesmos. Este ano não tiveram, tal como o ano passado, um resultado que lhes desse ânimo psicológico como as vitórias sobre o Benfica. E sem lideres que dessem confiança tudo descambou. Neste aspecto Jesus já não é forte mas ainda é pior sem o suporte de uma estrutura.
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