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sexta-feira, 18 de maio de 2018

Holiganismo presidencial

"1- Sportinguista desde que me lembro de mim próprio, deixei de pagar quotas quando, em 2005, as claques tiveram papel de destaque no despedimento do treinador, José Peseiro, e do presidente, Dias da Cunha. Desde então, o papel intimidatório das claques na vida do clube manteve-se. Com a presidência de Bruno de Carvalho ampliou-se e, de certo modo, institucionalizou-se.
2- Bruno de Carvalho representa tudo o que deveríamos detestar no dirigismo desportivo. O seu estilo populista, politicamente incorrecto, leia-se, malcriado e grosseiro, sustentou a criação de um clima de emoções descontroladas, que transformou adversários em inimigos, críticos em traidores e o presidente do Sporting em promotor do holiganismo. O discurso de ódio que sempre promoveu foi uma permanente tangente à violência que agora explodiu. Com este histórico de intervenção, Bruno de Carvalho é, pelo menos, moralmente responsável pela violência em Alcochete.
3- O populismo radical de Bruno de Carvalho e o seu estilo politicamente incorrecto convivem bem com alguns dos ares da política de hoje na Europa e nos EUA. A relação com a política não é abusiva. Não só porque a sua retórica tem uma estrutura que se distingue pouco da retórica nacionalista populista como também porque as semelhanças se prolongam no plano organizacional. Como os populistas mais radicais, dispõe quer de uma guarda pretoriana, que intimida os críticos, quer de intelectuais orgânicos, que lhe sustentam a respeitabilidade institucional que as suas palavras e actos destroem todos os dias. Bruno de Carvalho não precisa de se retratar, apenas de ser rapidamente demitido e responsabilizado social e juridicamente pelo que promoveu. Mas os que lhe construíram aquela respeitabilidade têm, hoje, responsabilidades a que não se podem furtar assobiando para o lado.
4- Não é só com o populismo nacionalista da extrema-direita que o populismo de Bruno de Carvalho tem uma convergência objectiva. A história do futebol português e das suas relações com a comunicação social e com o Estado culminou num ambiente que favoreceu a selecção de dirigentes com o perfil do presidente do Sporting. Entre as dinâmicas mais perniciosas dessa história estão a substituição, no espaço mediático, do espectáculo desportivo pelo confronto verbal em torno da arbitragem ou dos "casos" da bola, bem como a tolerância pelo sistemático desrespeito da lei nos campos de futebol, no comportamento das claques e nas declarações públicas dos agentes desportivos, em especial os dirigentes.Se estas dinâmicas não forem contrariadas de vez, o Estado irá de intervenção pontual em intervenção pontual até à eclosão de uma tragédia de larga escala."

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