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sexta-feira, 18 de maio de 2018

Sou do Sporting até morrer, mas jamais morreria pelo Sporting

"Com o tempo, fui percebendo que ser do Sporting não é querer ganhar sempre. Bem pelo contrário, ser sportinguista é acreditar que fazemos parte de algo que é maior que nós próprios

Sou do Sporting, adepto e sócio, o meu pai é adepto do Benfica, a minha mãe é sportinguista, a minha avó materna é do FC Porto, os meus falecidos avôs eram também, ambos, portistas. O meu sogro é do Belenenses, tal como outros bons amigos meus, e o avô da minha mulher é do Atlético. Tenho pelo menos um grande amigo sócio bastante activo do Boavista, conheço um par de pessoas adeptas, à séria, do Braga e tenho um amigo muito próximo que é um conhecidíssimo comentador desportivo do Benfica. Sei bem o que é respeitar a diferença.
Não sou o adepto que vai sempre ao estádio. Gosto de ir ao estádio, mas também gosto do sofá e da Sport TV lá de casa. Sofro com o Sporting, mas tenho o discernimento suficiente para saber que só um idiota é que se zanga com as outras pessoas por causa de futebol. No fundo, sou aquilo a que se pode chamar um adepto normal. Essa espécie que parece cada vez mais rara. Muitas vezes, enquanto vejo futebol, dou comigo a pensar qual será a razão para ter escolhido o Sporting.
Muito provavelmente foi influência dos meus tios, maternos e paternos, todos eles adeptos fervorosos. Mas acho que isso não explica tudo. Não explica o facto de ter crescido praticamente sem ver o meu clube do coração ser campeão e, mesmo assim, começar sempre cada nova época crente de que “este ano é que é”. Não explica ter nascido e vivido toda a infância e adolescência no norte do país, vendo o FC Porto ganhar tudo e mais alguma coisa, enquanto passava o dia rodeado por orgulhosos jovens portistas.
Com o tempo, fui percebendo que ser do Sporting não é querer ganhar sempre. Bem pelo contrario, ser sportinguista é acreditar que fazemos parte de algo que é maior que nós próprios. É acreditar que vale a pena ganhar menos vezes para fazer parte de uma família especial. É acreditar que o desporto é muito mais que o futebol e que um grande clube não pode menosprezar as suas modalidades. É saber que ser sportinguista não é querer ser igual aos benfiquistas ou aos portistas.
O que se passou na passada terça-feira não é sportinguismo. Está muito longe da maneira de estar no desporto que define um adepto do meu clube. É um grave caso de polícia, mas é também o culminar de um clima de ódio que nos últimos tempos parece ter invadido a nossa família. Pior do que isso, é o culminar de um clima de ódio que nos últimos anos tomou conta do mundo desportivo português.
Até quando vamos permitir que este clima de medo e raiva impere? Até quando as televisões e os jornais vão compactuar com isto? Até quando os clubes vão continuar a incentivar este tipo de atitudes?
Mais cedo ou mais tarde, alguém terá de dar um murro na mesa e dizer basta. O desporto é saudável e é capaz de unir os povos de uma forma absolutamente única e, tantas vezes, comovente. Mas o desporto não é, nem pode ser, este tipo de atitudes. É hora de os adeptos normais, de todos os clubes, darem um cartão vermelho ao fanatismo e dizerem em uníssono: sou do meu clube até morrer, mas jamais morreria pelo meu clube."

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