"O bárbaro ataque ao centro de estágio do Sporting não pode ficar sem consequências criminais. Um dos instigadores destes actos selvagens é o presidente de uma empresa cotada em bolsa, que ainda não foi destituído.
As cenas de terror a que assistimos no centro de estágio de Alcochete, com uma horda de bárbaros a invadir o recinto, a intimidar jornalistas, seguido de um ataque selvagem a jogadores e corpo técnico, num balneário, são actos imperdoáveis. Danificam a imagem de um clube, ameaçando mesmo o seu nível competitivo, com graves prejuízos financeiros, além dos criminosos ataques à integridade física das vítimas. O futebol é das indústrias mais relevantes em Portugal, no contexto externo. Não é por acaso que os actos de selvajaria foram notícia em todo o mundo, nos jornais de referência, o que coloca este país no rol dos destinos exóticos com adeptos fanáticos e perigosos, ainda pior do que a Turquia. A imagem de um país de brandos costumes, um dos mais seguros do mundo, saiu penalizada por um acto irresponsável de meia centena de "hooligans".
Mas estas cenas condenáveis não teriam existido se antes não tivesse havido a instauração de um autêntico clima de guerra civil por parte do presidente do clube e da SAD. Bruno de Carvalho lidera uma empresa cotada em bolsa e é o presumível autor moral deste ataque. Numa empresa normal, os accionistas já o teriam destituído. Como já escrevi a propósito de uma (outra) recente crise leonina, a liderança da SAD depende do controlo do clube. Os restantes elementos da direcção compactuam com Bruno de Carvalho, porque, tal como ele, na sua maioria dependem do emprego no clube ou nas sociedades participadas pelo Sporting. Na prática, são funcionários que têm nas suas mãos o destino de uma centenária e prestigiada instituição, que eles próprios enlamearam. Só a assembleia-geral pode destituir esta trágica equipa liderada por um populista que se tenta agarrar ao poder.
Como empresário, Bruno de Carvalho criou um mito que está muito longe da realidade. O Sporting deu-lhe poder e um modo de vida generoso, com cartão de crédito que paga os luxos. Por isso não desistirá, a menos que seja destituído à força pelos sócios, ou, se houver matéria criminal, detido pelas autoridades judiciais.
Mas além do impacto económico negativo para o clube, para a indústria do futebol e para o país, estes incidentes revelam também sementes perigosas na sociedade portuguesa.
As autoridades e os dirigentes desportivos têm pactuado com actos criminosos. Toda a gente sabe como fé o financiamento das claques e dos seus cabecilhas, que enriquecem com actividades ilegais. Estas hordas são uma ameaça ao Estado de direito, por isso se exige mão pesada da justiça a estes suspeitos que são mais do que violentos adeptos de futebol. São verdadeiros "gangsters".
(...)"
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