"O governo tem de intervir no futebol
Utilizando uma expressão que a nível de cálamo não é mais correcta, apetece-me, contudo, dizer que escrever sobre futebol “é coisa que não me assiste”. Não por mera sonsice, pois é curioso que, pese embora quase toda a gente goste de futebol, se ache, grosso modo, que falar do mesmo, é, em certos círculos, sinónimo de brejeirice. Não o considero.
Futebol é desporto e, como tal, pode ser abordado com a mesma elevação com que se aborda qualquer outro tema.
Nesta medida e, depois de um ano em que o futebol foi autenticamente o cancro da sociedade portuguesa, é chegada a hora de dizer basta. Um basta convicto e, até, se necessário, violento na sua aplicação, doa a quem doer. Como já se referiu, depois de um ano em que os maiores clubes de futebol nacionais se envolveram, todos contra todos, em contendas que mais não fizeram que incendiar a sociedade, ou, pelo menos, grande parte dela, contribuindo para uma loucura generalizada, intolerável num qualquer país decente, esta semana, como expectável, tudo acabou em concretas vias de facto. Tal é intolerável e o futebol tornou-se, neste momento, na vergonha do país. Ou por outra. Talvez o mais correcto seja frontalmente dizer que essa vergonha são alguns dirigentes futebolísticos que se o não fossem, não teriam sequer dignidade para, a exemplo, limparem esgotos. É mau de mais. E é por ser mau de mais que se escreve com esta veemência.
O futebol tem de ser alvo de uma séria e musculada intervenção governamental. Mas sem medos. Sejam eles quais forem, pois nas últimas décadas este desporto, que era suposto ser uma festa, um espectáculo até familiar, tornou-se autenticamente numa quase indústria criminológica. Tal tem de acabar. O governo tem efectivamente de intervir e, quando se fala em intervir, essa intervenção, deve passar por uma interrupção imediata do futebol. No campeonato nacional, tal não fará naturalmente sentido porque o mesmo já terminou, mas no próximo domingo, dia em que está marcada a final do Jamor, não existem condições para que a mesma seja disputada. Sobretudo quando um dos clubes que a disputa, está envolvido nos tristes episódios desta semana.
O governo tem de dar um sinal de força porque é também para isso que existe. Não bastam as intervenções de Marcelo Rebelo de Sousa ou Ferro Rodrigues apelando à calma e puxando indirectamente as orelhas a este ou a outro Não basta a mansidão de um secretário de estado frouxo a falar para o boneco. Há que agir. Podem perguntar-me: “Mas será justo que um adepto educado e respeitador se veja privado do futebol pelas condutas criminais de outros?” Eu respondo: Não, não é certamente justo. Porém, este problema atingiu uma dimensão tal, que mesmo assim, numa lógica de zelo pelo bem superior do interesse público, há que travá-lo. Tal deve passar pela proibição imediata da final da taça.
Estamos num Estado de Direito, e é o Direito que tudo rege. Não é o futebol e, sobretudo, muito menos, qualquer elemento da sua estrutura. É hora de agir e quem tiver de ser punido que o seja severa e rapidamente."
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