"Costuma dizer-se que ganhar e perder faz parte do desporto.
Poderá ser assim em muitos quadrantes onde existam provas desportivas, por este país e por esse mundo. Em modalidades várias, na alta, média ou baixa competição, em encontros de amigos ou de rivais, em quase tudo. Porém, quando se fala de Benfica, quando falo de Benfica, apenas admito um resultado: a vitória.
Um século de história gloriosa, e em particular o legado de Eusébio, ensinou-nos a ser assim. As últimas temporadas, em que a dupla Vieira-Jesus recolocou o Benfica no seu devido lugar, quer no panorama português, quer no panorama europeu, devolveram-nos também esse grau de exigência, que na transição do milénio quase havíamos hipotecado. Hoje, deixámos de conseguir encaixar uma derrota. E a de Braga doeu.
Independentemente de podermos felicitar os vencedores, de lhes devermos respeito dentro e fora dos campos, admitir uma derrota não pode jamais constar da nossa matriz identitária. Temos de exigir de nós próprios, e de todos no clube, uma espécie de revolta interior, que não permita olhar, nem por um segundo, para as derrotas como coisa natural. Para o Benfica, perder não é normal.
Não pode ser normal.
Após uma pré-temporada complexa, e a meio de uma Liga dos Campeões pouco entusiasmante, a vantagem pontual com que o Benfica liderava a classificação do Campeonato (principal objectivo da época) era a almofada onde a família benfiquista repousava a sua confiança.
Perder em Braga, naquele que era tido como o primeiro grande teste à equipa encarnada, representou um rude golpe nesse sentimento de confiança.
Hoje, há nova partida do campeonato. E na terça-feira joga-se o futuro europeu. O que se espera de todos é um grito de revolta face ao que aconteceu no Minho. A mesma revolta que os adeptos sentiram ao ver fugir três pontos, ao ver a vantagem classificativa reduzir-se à sua mínima expressão, ao ver os rivais directos recuperarem ânimo e tranquilidade, numa luta que não permite falhas, hiatos ou hesitações."
Luís Fialho, in O Benfica
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