"1. Que a justiça em Portugal se deve, de há muito tempo para cá, escrever com letra minúscula, é algo de evidente. Por causa da impreparação de novos juízes que envergam a beca antes de saberem o mínimo da vida e das relações humanas; pelo exagero legislativo levado a cabo por aqueles que montaram as armadilhas necessárias para não correrem o risco de serem apanhados nas curvas judiciárias; pelo advento de um novo poder baseado na prepotência dos medíocres e na ínvia força das protecções políticas.
2. Se a justiça em Portugal perdeu o crédito, no futebol nunca o teve. Porque - a despeito das deliberações do Conselho Superior da Magistratura que aconselhava os seus membros a manterem-se à distância - não há forma de deixar de ser uma justiça clubitizada; porque os magistrados que se dedicam ao futebol são, na sua quase totalidade, rebotalho da classe, gente que se dedicou à causa para favorecer os amigos que lhes arranjam lugares nos camarotes dos estádios e para aparecer de vez em quando na televisão a vomitar alarvidades, comprometendo a sua seriedade (que pouca é) e a dos que continuam a querer manter-se sérios.
3. As diatribes vindas a lume no caso das eleições da Liga são o espelho dessa justiça de pacotilha. Deprimentes juízes que, num tribunal de comarca, não passariam de oficiais de diligências. E no mundo do futebol, se mantêm obedientemente diligentes, escutando as vozes dos donos. E rosnando a preceito."
Afonso de Melo, in O Benfica
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