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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A propósito de Bas Dost e Jonas, (...) dá-nos uma lição sobre uma mão cheia de “lances valha-me Deus”

"Para quem não reparou, a jornada treze teve duas particularidades: uma resultante de uma coincidência de calendário; a outra por opção estratégica.
Vamos à primeira.
FC Porto, Benfica e Sporting jogaram com três ilustres representantes dos Açores e Madeira, respectivamente.
As ilhas portuguesas estão, há muito, enraízadas nos escalões profissionais, mas esta época contaram com um reforço de luxo: o Santa Clara, que subiu com mérito e competência e juntou-se à montra maior do futebol português.
Para que tudo fosse perfeito (além de bonito, merecido e justo), só faltava que a Liga NOS pudesse contar com equipas de todo o país. Norte e sul, litoral e interior.
Um dia, quem sabe?
A segunda particularidade diz respeito ao número de intervenções do VAR.
Não sei se estiveram atentos, mas a maioria dos jogos teve vários momentos em que o videoárbitro sugeriu ao colega de campo que visse as imagens nos ecrãs, junto ao relvado.
Nalguns casos a decisão inicial manteve-se (não esqueçamos que isso acontece quando o árbitro entende não ter cometido um erro claro e evidente, ainda que aceite que o lance seja dúbio)... noutros aceitou a indicação do seu "assistente de sala" e alterou a primeira decisão.
Mas o que realmente ficou na retina foi esta aparente mudança de paradigma.
Os VAR parecem agora ter deixado de actuar em situações de excepção (só o faziam perante a evidência de um erro claríssimo), para usarem o bom senso e aplicarem o espírito do protocolo: sempre que exista um lance de pura interpretação, susceptível de criar dúvidas ou, pior, de originar polémicas desnecessárias (que se podem arrastar por semanas), o melhor mesmo é dar aos árbitros a oportunidade de reverem o lance e assumirem a decisão.
Esta opção, naturalmente, tem prós e contras.
Por um lado, irá potenciar mais paragens e, com isso, alguma quebra na dinâmica da partida; por outro, afunilará o critério e trará mais verdade a lances cinzentos. Acima de tudo, permitirá ao árbitro chamar para si a responsabilidade de uma decisão, depois de a confirmar nos ecrãs. Essa opção resulta, quase sempre, no apagar de fogos posteriores, no encerrar imediato de contestações e ruídos (goste-se ou não, concorde-se ou não).
O que se espera, nesta mudança de estratégia é que haja uniformidade e consistência, para que todos os jogos tenham o mesmo tipo de abordagem.
No que me diz respeito... a minha vénia.
Esta "evolução" mostra inteligência, sensibilidade e visão do Conselho de Arbitragem, que percebeu que a mera aplicação da letra do protocolo era demasiado curta para o potencial da ferramenta. Demasiado curta, sobretudo, para aquilo que o futebol precisa, no campo e em campo.
Quanto aos jogos em si - e centrando esta análise na partida dos ditos três grandes - nota transversal: houve uma mão cheia de "lances valha-me Deus".
Não conseguem a expressão? Os árbitros usam-na, com frequência, para se referirem às jogadas cuja análise (até com imagens) irá sempre dividir opiniões.
O contacto foi suficiente? Caíu pela ação do adversário ou simulou? Foi tocado ou provocou? Está a fingir ou não? Peito ou braço? Valha-me Deus!
Nestes lances, há apenas uma certeza: saia dali o que sair, haverá sempre uma alminha (geralmente com lentes de cor diferente) que há-de achar a coisa um roubo, um escândalo, uma vergonha.
Onde os juízes vêem dúvida, os outros vêem certeza inabalável. Vá se lá saber.
A única alternativa? Decidir em consciência. Decidir com honestidade intelectual, com base no que se viu, intuiu, sentiu e leu.
Às vezes, a linha de visão está obstruída e é o som da pancada que define a decisão. Outras vezes, actua-se porque se vê o sangue a escorrer pela perna ou o buraco dos pitons cravados na coxa.
Há ainda aqueles momentos em que a expressão de dor de quem está no chão diz tudo. O ar de "culpado" de quem está, logo ali, de pé... também ajuda.
Com tanta lenga lenga, nem chegámos aos tais lances. Assim, muito sucintamente:
1 - Jonas foi derrubado pelo GR do Marítimo? Sim, parece mesmo que sim.
Apesar da repetição em slow motion indiciar alguma chico-espertice do avançado, o movimento dinâmico não deixa dúvidas.
Além disso, o braço/mão de Abedzadeh também tocou na perna do avançado brasileiro.
Ah! E ele dominou mesmo a bola com o peito e não com o braço (esta tem prova real nas imagens pós-jogo, que foram totalmente esclarecedoras).
2 - Primeiro penálti para o Sporting: aquele tropeção de um pé no outro (de Bas Dost) foi provocado pelo próprio ou só aconteceu por ter havido um toque muito ligeiro, na passada, de Vitor Gonçalves? 
As imagens são assim, cinzentas.
A minha opinião? Ponho as mãos no fogo que o jogador do Nacional, ainda que inadvertidamente, tocou ao de leve - com o joelho esquerdo - no pé do holandês. Não vos posso pedir que acreditem em mim, mas quase jurava...
Há momentos, no futebol, que vão bem além do que as imagens mostram. Quem jogou (e arbitrou) sabe disso.
3 - Diaby estava fora de jogo antes de servir Bas Dost para o golo, entretanto anulado? Mais uma das tais. A minha opinião a 99,9%? Sim. Estava.
Olhem para as marcas na relva e comparem a posição dele com a de Filipe Lopes, último defesa.
4 - Segundo penálti sobre Bas Dost bem assinalado?
Honestamente, não sei. As mãos do madeirense estavam nas suas costas, portanto o árbitro estava legitimado a ter a sua interpretação.
Com as imagens que vimos, pareceu mais aproveitamento e menos falta. Além disso, a regra é "na dúvida, não punir".
Mas perante tamanha incerteza, quem sou eu para garantir o que quer que seja?
5 - Marco Rocha, GR açoriano, derrubou Herrera?
Difícil. A linha entre a colisão/choque, fruto do movimento de ambos e a infracção foi, ali, muito ténue.
O VAR entendeu que sim, o árbitro foi confirmar e também achou o mesmo.
Depois, o que decidiram foi perfeito: recuperar o início da jogada e assinalar a carga inicial que Brahimi fizera sobre Patrick.
6 - Soares carregou o seu adversário antes do golo de Marega?
Mais uma de "valha-me Deus".
Houve contacto mútuo inicialmente. Sem dúvida. Depois a mão direita do brasileiro aterrou no pescoço do açoriano até provocar a sua queda.
Se eu tivesse que decidir, diria que sim. Que houve falta atacante.
A mão de Patrick nunca teve efeito ou consequência evidente na acção de Soares; a mão deste teve claro benefício na continuidade do lance, além de ser bem mais visível e ostensiva.
Entendo que, na dúvida, Godinho tenha mantido a decisão.
Outros lances havia, mas a ideia é lerem esta crónica antes da meia noite do dia 31 de Dezembro.
Em boa verdade, todos os lances - estes e tantos outros - já lá vão. Já foram decididos e o assunto arrumou-se logo ali. O que aqui se faz, à posteriori, é tentar perceber o que se passou, explicar, opinar.
Não muda nada. Certo?
Boas Festas!"

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