"Nesta altura do ano não há área relevante da sociedade em que não se façam balanços dos 12 meses anteriores e no desporto eles são frequentes e diversificados. Os resultados em campeonatos do mundo são um dos principais barómetros da competitividade do desporto de um país à escala global. E neste particular, se tem sido frequente a conquista de várias medalhas por ano no escalão sénior em disciplinas não olímpicas, os pódios nas disciplinas olímpicas são normalmente mais raros. Por exemplo, em 2018 apenas lográmos a conquista de uma medalha, através do brilhante título mundial de Fernando Pimenta em K1 1000m, em Montemor-o-Velho. Em alguns anos chegámos a dois pódios, por vezes a três.
O ano de 2019 foi diferente, único até agora.
Jorge Fonseca tornou-se o primeiro português campeão mundial de Judo, ao vencer na categoria de -100 Kg. O país vibrou ao ritmo da sua dança, que ficará na memória colectiva nacional. A prata de João Vieira nos 50 Km marcha teve tanto de inesperado como de merecido, tornando este atleta o mais velho medalhado em mundiais no Atletismo. Também vice-campeã do mundo, a judoca recém-naturalizada Bárbara Timo conseguiu finalmente, mas com o emblema nacional, provar que está entre a elite mundial nos -70 Kg. As medalhas de bronze do canoísta Fernando Pimenta em K1 1000m e de Rui Bragança na categoria de -58 Kg no Taekwondo comprovaram o alto nível destes dois categorizados atletas, já anteriormente medalhados em mundiais. O jovem Gustavo Ribeiro foi a grande novidade, conseguindo o bronze no Skate, modalidade que se estreará em Tóquio 2020.
Este total de seis medalhas para atletas portugueses em contexto de campeonatos do mundo de disciplinas olímpicas representa um número recorde, muito acima do habitual. O facto de ter sido conseguido em cinco modalidades bem distintas exponencia a sua importância.
Mas os bons resultados em 2019 não se ficaram por aqui. O quarto lugar de Pedro Pichardo (Atletismo), os quintos lugares de Joana Ramos e Patrícia Sampaio (Judo), o sexto lugar do K4 Masculino (Canoagem), os sétimos lugares de Antoine Launay (Canoagem), Frederico Morais (Surf) e João Paulo Azevedo (Tiro com armas de caça) e os oitavos lugares de Patrícia Mamona (Atletismo), Teresa Portela (Canoagem) e Nélson Oliveira (Ciclismo) elevaram para 16 o número de resultados entre os oito primeiros, em campeonatos do mundo em 2019, em oito modalidades.
Para além destes, tivemos mais 16 resultados entre o 9º e o 16º lugar, em seis modalidades. Mas neste quadro de honra não podemos omitir outros excelentes resultados em contexto europeu, em disciplinas onde não foi disputado campeonato do mundo, como foi o caso do Ténis de mesa, em que as nossas equipas masculina e feminina se sagraram vice-campeãs da Europa ou da Equestre, onde a equipa de ensino obteve um meritório 8º lugar e consequente qualificação olímpica. Assim como as 15 medalhas obtidas nos Jogos Europeus de Minsk, bem acima das dez conquistadas na primeira edição em Baku 2015 e num contexto de decréscimo de 21% do número total de eventos de medalha disputados. Dez destas medalhas foram conseguidas em disciplinas olímpicas, contra as sete de Baku.
No que diz respeito à qualificação para Tóquio 2020, terminámos 2019 com 29 atletas qualificados em dez modalidades: sete na Canoagem, seis no Atletismo, cinco na Natação, três na Equestre, dois na Vela e no Ciclismo e um na Ginástica, no Surf, no Ténis de mesa e no Tiro com armas de caça.
Paralelamente, também já temos presença praticamente assegurada em Tóquio em três modalidades de qualificação por ranking, nomeadamente no Judo, Skate e Triatlo, estando o Ténis igualmente numa posição muito privilegiada para conseguir a qualificação.
Os resultados de 2019 permitem-nos fazer uma previsão de participação de 70 a 75 atletas em Tóquio 2020. É um número inferior ao da nossa participação no Rio em termos absolutos, mas, a confirmar-se, será da mesma ordem de grandeza de 2016, se não considerarmos os 18 atletas qualificados pelo Futebol em 2016, modalidade que, desta vez, infelizmente não se qualificou.
Teremos ainda que esperar pelo final dos exigentes períodos de qualificação para ficarmos a saber o número final de modalidades e de atletas que marcarão presença em Tóquio. Temos ainda cerca de uma dezena de modalidades a tentar juntar-se às 14 que parecem já praticamente garantidas, sendo, por isso, ainda possível chegar às 16 que participaram no Rio e, eventualmente, ultrapassar esse número.
Outro detalhe relevante é que 2019 permitiu também antever a possibilidade de, em Tóquio, haver um rácio de participação nacional feminina superior a 40%, não sendo impossível que esta possa ser a Missão com mais elementos do sector feminino, em termos absolutos. Neste contexto, o Atletismo e o Judo são as modalidades em que se perspectiva uma participação mais representativa de mulheres do que de homens.
Estaremos perante uma alteração do paradigma dos resultados desportivos lusos em contexto mundial? Se é inegável que 2019 deixou bons indicadores em ano pré-olímpico, com um número inédito de grandes resultados em contexto mundial, não é menos verdade que só dentro de alguns anos poderemos aferir se revelam uma efectiva melhoria da competitividade do nosso desporto de alto rendimento ou, por outro lado, se tratou apenas de uma excepção que confirma a regra.
Contudo, há um dado que não pode ser menosprezado: temos mais modalidades com possibilidades reais de conquista de resultados de relevo em contexto mundial. Há um aumento do espectro de atletas com pressupostos para chegar resultados de excelência. Há uma crença cada vez mais generalizada de que é possível chegar mais longe, mesmo em modalidades em que tradicionalmente Portugal não era tão forte.
O foco está agora na participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, entre 24 de Julho e 9 de Agosto. E tudo aponta para que estes Jogos tenham características especiais. Desde logo, as previsíveis condições de temperatura e humidade que condicionarão sobretudo as modalidades de exterior e de resistência, mas indirectamente também as restantes, apesar de em menor escala. Depois, o contexto de dispersão geográfica de várias modalidades (Ciclismo de estrada em Fuji, Ciclismo de pista em Izu, Vela em Enoshima, Surf em Tsurigasaki e a mais recente alteração das provas de marcha e maratona para Sapporo, a 800 Km de Tóquio), com aldeias satélite e necessidade de alojamento longe da Aldeia Olímpica, que fará destes Jogos, muito provavelmente, os mais complexos sob ponto de vista logístico para as Missões nacionais.
Será do grau de preparação dos atletas para as condições em que se disputarão as competições mas também da criação de rotinas, que potenciem a sua adaptação e a optimização da sua performance, que muito do nosso sucesso se jogará, como da generalidade dos países. O facto de Tóquio ter uma diferença horária de oito horas em relação a Portugal Continental obrigará a uma deslocação com maior antecedência, amplificando os efeitos da proficiência dessas mesmas rotinas.
O cenário está montado para que possam existir grandes surpresas. Talvez nunca como agora, os pequenos detalhes poderão fazer enormes diferenças nos resultados finais. Mas com a devida preparação e a correta adaptação ao contexto em que se vão desenrolar os Jogos, é possível fazer com que as difíceis condições em que as competições se irão desenrolar possam jogar a nosso favor. Só assim o que aparentemente pode ser visto como um obstáculo poderá ser transformado numa grande oportunidade.
É um facto que há ainda muitos aspectos a melhorar no sistema desportivo nacional tendo em vista ao aumento da quantidade e qualidade da nossa elite desportiva, base essencial para que consistentemente possamos ter um número relevante de grandes prestações em termos internacionais. Mas os resultados de 2019 dão-nos indicadores muito positivos quanto à qualidade dos nossos atletas e muita confiança para esta recta final rumo ao grande objectivo de Tóquio.
Os objectivos de resultados desportivos em Tóquio estão, desde o início de 2018, plasmados no Contrato-Programa que rege o actual Programa de Preparação Olímpica: a obtenção, no mínimo, de duas posições de pódio, de 12 diplomas e de 26 posições até ao 16º lugar. Se estes objectivos forem concretizados, estaremos certamente a falar de um dos melhores conjuntos de resultados de sempre das participações olímpicas de Portugal.
Que 2020 nos traga muita saúde, paz, amor, felicidade, prosperidade e sucesso. Mas, se não for pedir demasiado, que nos próximos sete meses e meio nos consigamos tornar ainda mais competentes, de forma a termos a capacidade de controlar as variáveis que nos poderão trazer um verão desportivo inesquecível, pelos melhores motivos.
Merecemos isso. Merecemos que, em Tóquio, possamos demonstrar a qualidade que já temos, desta vez em contexto de Jogos Olímpicos."
Mas os bons resultados em 2019 não se ficaram por aqui. O quarto lugar de Pedro Pichardo (Atletismo), os quintos lugares de Joana Ramos e Patrícia Sampaio (Judo), o sexto lugar do K4 Masculino (Canoagem), os sétimos lugares de Antoine Launay (Canoagem), Frederico Morais (Surf) e João Paulo Azevedo (Tiro com armas de caça) e os oitavos lugares de Patrícia Mamona (Atletismo), Teresa Portela (Canoagem) e Nélson Oliveira (Ciclismo) elevaram para 16 o número de resultados entre os oito primeiros, em campeonatos do mundo em 2019, em oito modalidades.
Para além destes, tivemos mais 16 resultados entre o 9º e o 16º lugar, em seis modalidades. Mas neste quadro de honra não podemos omitir outros excelentes resultados em contexto europeu, em disciplinas onde não foi disputado campeonato do mundo, como foi o caso do Ténis de mesa, em que as nossas equipas masculina e feminina se sagraram vice-campeãs da Europa ou da Equestre, onde a equipa de ensino obteve um meritório 8º lugar e consequente qualificação olímpica. Assim como as 15 medalhas obtidas nos Jogos Europeus de Minsk, bem acima das dez conquistadas na primeira edição em Baku 2015 e num contexto de decréscimo de 21% do número total de eventos de medalha disputados. Dez destas medalhas foram conseguidas em disciplinas olímpicas, contra as sete de Baku.
No que diz respeito à qualificação para Tóquio 2020, terminámos 2019 com 29 atletas qualificados em dez modalidades: sete na Canoagem, seis no Atletismo, cinco na Natação, três na Equestre, dois na Vela e no Ciclismo e um na Ginástica, no Surf, no Ténis de mesa e no Tiro com armas de caça.
Paralelamente, também já temos presença praticamente assegurada em Tóquio em três modalidades de qualificação por ranking, nomeadamente no Judo, Skate e Triatlo, estando o Ténis igualmente numa posição muito privilegiada para conseguir a qualificação.
Os resultados de 2019 permitem-nos fazer uma previsão de participação de 70 a 75 atletas em Tóquio 2020. É um número inferior ao da nossa participação no Rio em termos absolutos, mas, a confirmar-se, será da mesma ordem de grandeza de 2016, se não considerarmos os 18 atletas qualificados pelo Futebol em 2016, modalidade que, desta vez, infelizmente não se qualificou.
Teremos ainda que esperar pelo final dos exigentes períodos de qualificação para ficarmos a saber o número final de modalidades e de atletas que marcarão presença em Tóquio. Temos ainda cerca de uma dezena de modalidades a tentar juntar-se às 14 que parecem já praticamente garantidas, sendo, por isso, ainda possível chegar às 16 que participaram no Rio e, eventualmente, ultrapassar esse número.
Outro detalhe relevante é que 2019 permitiu também antever a possibilidade de, em Tóquio, haver um rácio de participação nacional feminina superior a 40%, não sendo impossível que esta possa ser a Missão com mais elementos do sector feminino, em termos absolutos. Neste contexto, o Atletismo e o Judo são as modalidades em que se perspectiva uma participação mais representativa de mulheres do que de homens.
Estaremos perante uma alteração do paradigma dos resultados desportivos lusos em contexto mundial? Se é inegável que 2019 deixou bons indicadores em ano pré-olímpico, com um número inédito de grandes resultados em contexto mundial, não é menos verdade que só dentro de alguns anos poderemos aferir se revelam uma efectiva melhoria da competitividade do nosso desporto de alto rendimento ou, por outro lado, se tratou apenas de uma excepção que confirma a regra.
Contudo, há um dado que não pode ser menosprezado: temos mais modalidades com possibilidades reais de conquista de resultados de relevo em contexto mundial. Há um aumento do espectro de atletas com pressupostos para chegar resultados de excelência. Há uma crença cada vez mais generalizada de que é possível chegar mais longe, mesmo em modalidades em que tradicionalmente Portugal não era tão forte.
O foco está agora na participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, entre 24 de Julho e 9 de Agosto. E tudo aponta para que estes Jogos tenham características especiais. Desde logo, as previsíveis condições de temperatura e humidade que condicionarão sobretudo as modalidades de exterior e de resistência, mas indirectamente também as restantes, apesar de em menor escala. Depois, o contexto de dispersão geográfica de várias modalidades (Ciclismo de estrada em Fuji, Ciclismo de pista em Izu, Vela em Enoshima, Surf em Tsurigasaki e a mais recente alteração das provas de marcha e maratona para Sapporo, a 800 Km de Tóquio), com aldeias satélite e necessidade de alojamento longe da Aldeia Olímpica, que fará destes Jogos, muito provavelmente, os mais complexos sob ponto de vista logístico para as Missões nacionais.
Será do grau de preparação dos atletas para as condições em que se disputarão as competições mas também da criação de rotinas, que potenciem a sua adaptação e a optimização da sua performance, que muito do nosso sucesso se jogará, como da generalidade dos países. O facto de Tóquio ter uma diferença horária de oito horas em relação a Portugal Continental obrigará a uma deslocação com maior antecedência, amplificando os efeitos da proficiência dessas mesmas rotinas.
O cenário está montado para que possam existir grandes surpresas. Talvez nunca como agora, os pequenos detalhes poderão fazer enormes diferenças nos resultados finais. Mas com a devida preparação e a correta adaptação ao contexto em que se vão desenrolar os Jogos, é possível fazer com que as difíceis condições em que as competições se irão desenrolar possam jogar a nosso favor. Só assim o que aparentemente pode ser visto como um obstáculo poderá ser transformado numa grande oportunidade.
É um facto que há ainda muitos aspectos a melhorar no sistema desportivo nacional tendo em vista ao aumento da quantidade e qualidade da nossa elite desportiva, base essencial para que consistentemente possamos ter um número relevante de grandes prestações em termos internacionais. Mas os resultados de 2019 dão-nos indicadores muito positivos quanto à qualidade dos nossos atletas e muita confiança para esta recta final rumo ao grande objectivo de Tóquio.
Os objectivos de resultados desportivos em Tóquio estão, desde o início de 2018, plasmados no Contrato-Programa que rege o actual Programa de Preparação Olímpica: a obtenção, no mínimo, de duas posições de pódio, de 12 diplomas e de 26 posições até ao 16º lugar. Se estes objectivos forem concretizados, estaremos certamente a falar de um dos melhores conjuntos de resultados de sempre das participações olímpicas de Portugal.
Que 2020 nos traga muita saúde, paz, amor, felicidade, prosperidade e sucesso. Mas, se não for pedir demasiado, que nos próximos sete meses e meio nos consigamos tornar ainda mais competentes, de forma a termos a capacidade de controlar as variáveis que nos poderão trazer um verão desportivo inesquecível, pelos melhores motivos.
Merecemos isso. Merecemos que, em Tóquio, possamos demonstrar a qualidade que já temos, desta vez em contexto de Jogos Olímpicos."
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