"Julian Weigl chega a Lisboa rodeado de um entusiasmo geral na massa adepta encarnada só vista nos tempos em que Pablo Aimar aterrava em Tires, acompanhado de Rui Costa. 11 anos depois, e com o mesmo intermediário a assegurar uma contratação de calibre internacional, o Benfica assume finalmente a ambição europeia tanto discutida pelos seus dirigentes.
Tudo isso, porém, não nos pode fazer esquecer que Ljubomir Fejsa perde cada vez mais espaço. Tornou-se, com a força da sua competência e anos de casa, um artefacto de valor inimaginável e merece uma despedida em grande. Urge que saia com a dignidade intacta. Começa a tornar-se tarde...
Foi com o toque de Midas do nosso tractor sérvio que nos tornámos uma potência hegemónica em território nacional. Saímos dos ciclos de um troféu a cada cinco anos – éramos campeões sazonais – e com ele fazemos seis em dez, igualando as melhores décadas da história do Benfica.
Desde que se estreou nos seniores do Partizan, nos idos de 2008, até à infame época de 2017-2018, Ljubomir foi sempre campeão. Foi o mais campeoníssimo jogador do Benfica, uma aura mística de vitória que influenciava todos no clube e uma integridade que marcou um balneário e fortaleceu-o: nunca se ouviu exageros da sua parte, tiradas ao lado, bocas inconvenientes na imprensa – chegou, trabalhou, cumpriu como ninguém e assumiu-se como uma das grandes figuras desta década por direito próprio. E lembrar que chegou… como solução para o banco de suplentes!
Foi o melhor daquela fornada sérvia que o Benfica explorou, de forma compulsiva e quase esquizofrénica, a começar em 2013 e a acabar em Zivkovic. Os dirigentes encarnados apaixonaram-se pela qualidade dos balcãs (os motivos para súbito interesse são discutíveis, mas a qualidade e influencia de Matic é o mais óbvio) e de todos os que fizeram as malas rumo a Lisboa, foi Ljubomir que se destacou e cinzelou o seu nome na história do Benfica com mais intensidade.
Houve Markovic, um talentozão que durou um mísero ano; houve Djuricic, que só em 2019 se assume como titular numa liga de topo; houve Sulejmani, e pouco mais. Todos os outros não tinham a qualidade suficiente para envergar o manto sagrado ou envolviam-se em questões extra-campo, voluntaria ou involuntariamente. Zivkovic é o maior dos casos e a maior tristeza dos últimos anos em termos de aproveitamento de talento.
Depois de controlar a Superliga Sérvia a seu bel prazer com as listas do Partizan, foi para a bacia do Egeu perpetuar o domínio do Olympiakos, onde limpou últimos terços adversários com a naturalidade que lhe é reconhecida.
O Benfica resgatou-o no ano do all-in, por 4,5 milhões de euros: a final da Champions era em Lisboa e Luis Filipe Vieira montou plantel megalómano, o melhor desde 1992-93. Havia, só para o meio-campo, Enzo, Matic, Fejsa, Rúben Amorim, André Gomes e Djuricic, um luxo que Jesus soube aproveitar.
A qualidade era tanta que permitiu a saída de Nemanja em Janeiro, porque Fejsa dava plenas garantias. Tantas garantias deu que se assumiu como titular desde aí, levando o Benfica a um tetra inédito.
A sua importância nos aspectos defensivos e a eficácia de Jonas na frente garantiram anos de sucesso a vários Benficas, mas o de 2017-18 foi tão mal construído que isso não bastou. Fejsa e Jonas salvaram muitas vezes Rui Vitória, mas a qualidade dos jogadores tem que ser complementada pela visão estratégica do treinador. O piloto automático era já tão natural que o técnico português distraiu-se e o penta foi à vida. Isso, aliado à “distracção” na construção do plantel, e o desfecho foi natural. Uma pedra no sapato de Fejsa e o único ano sem troféu de campeão da sua carreira profissional.
No Benfica, contam-se 308 jogos, cinco campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal, três Taças da Liga e uma final europeia. Nada mau para seis anos. Um monstro da história benfiquista e a quem um obrigado não chega, pela sua conduta e respeito ao símbolo que representou com tanta qualidade. Um agradecimento de forma adiantada para um jogador ímpar."
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