"Pronto. Aqui estamos no fim do ano, o que, evidentemente, não quer dizer que, no Futebol e nas outras Modalidades, já estejamos em condições de fazer quaisquer contas.
As contas só se fazem no fim.
É assim na vida e é assim no Desporto. As caminhadas individuais e colectivas, determinadas com percursos e objectivos singulares, são parecidas na forma como as cumprimos, ou sozinhos ou em grupo; numa equipa, numa empresa, num empreendimento, ou numa tarefa pessoal.
Mesmo conhecendo teoricamente o que temos pela frente, depois de começar, as caminhadas a que nós próprios nos propomos tanto podem consagrar certos momentos altos que nos são dados viver com respiração mais ofegante e um especial sentimento de felicidade e de alegria, da mesma forma como, subitamente podem levar-nos a um não esperado patamar de inferno que nos abate o ânimo, primeiro pondo à prova a nossa resiliência e, logo depois, a nossa capacidade de superação.
Por isso há quem, mesmo nas melhores ocasiões, prefira não perder de vista que é aí, nos difíceis momentos de quebranto, que se vê quais de nós, quem de entre todos (e, tantos somos!) melhor consegue superar-se a si e aos seus competidores, e se afirmar mais apetrechado e mais capaz nas suas valências, para vencer e conquistar todos os obstáculos e antagonismos que se lhe apresentem no futuro mais próximo.
Como dizem os meus netos, o Benfica está 'em altas'... Mas nunca fiando. Conforme a história abundantemente nos prova, a 'lógica' que serve (e da qual se têm tão impunemente servido) os nossos mais constantes adversários, no campo desportivo, tal como na vida cívica, não é evidentemente a mesma que nos tem garantido a soma de tanto título, tanto campeonato e tanta vitória.
À exuberante competência que, prova a prova, vimos exibindo e acumulando há cento e quinze anos para incessantemente dilatar o império dos nosso afectos, os outros só muito escassamente deixaram de responder por sistema, com esbulhos e armadilhas, cobiças e invejas que, na pequenez dos casos e na miséria comportamental dos protagonistas, só os empolgavam eles.
E neste momento alto da caminhada no final de outro ano exuberante, quanto mais tivermos nós presente esta metáfora tão crua, mais preparados estaremos para todas as manigâncias com que, sem dúvida, uns e os outros, nos tentarão impedir de prosseguir no sentido de fazermos de 2020 um novo grande ano."
José Nuno Martins, in O Benfica
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