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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A era de Zlatan

"Leio que ele regressa e vou logo confirmar a data de nascimento, aqui mesmo no zerozero, 3 de Outubro de 1981, já não há jogadores de 81, muito menos se não tiverem as luvas calçadas, mentira, há ainda uns quantos mas só um Zlatan, só ele e que volta a ser diavolo, Zlatan como ele gosta de ser chamado e lhe chamamos nós, que o seguimos desde que lhe percebemos o génio no Malmo, confirmado a seguir no Ajax, e depois na Juve, no Inter, no Barça, no Milan, no PSG, andou quase dez anos a ser campeão em todo o lado, e depois ainda o Man United, o LA Galaxy no que parecia a entrega dos papéis para a reforma, mas eis que de novo o Milan, já com os 38 completados, uma vez mais de volta ao topo: Zlatan, ou Ibra, aquele que é mesmo feito de outra fibra. Sempre me encantaram os jogadores que desafiam o tempo e a gravidade, desde Zoff em 1982, no meu Mundial eterno, 40 anos tinha o homem, espantava-me eu, quando acreditava que se era entradote aos 40, ancião mesmo, o homem aos 40 lá segurou a baliza italiana até agarrar, a mãos ambas também, a taça do mundo. Ainda o vejo de camisola cinzenta e troféu erguido,
O Zoff, já tem 77 anos, acreditam? Mais que os filhos, são os ídolos que nos fazem velhos.
Totti era eterno e já não joga, como não joga Maldini, talvez o melhor defesa que vi, nem Giggs, e como esquecer Giggs, o mais genial dos Fergie boys, e obviamente Romário, dentro da área ninguém foi melhor que ele, ainda goleador no Vasco já com queda de cabelo acentuada, todos geniais estes, persistentes na recusa de que o tempo lhes levasse o que o talento lhes deu. E já nem Túlio Maravilha por aí anda, parece que se cansou de vez em 2019, em Taboão da Serra, de recolher golos como berlindes, para tentar juntar mais de mil. Há outros que nem imaginamos que mexam todavia, mesmo se uma pesquisa rápida nos mostra que alguns apenas mascaram o fim da carreira, como Lúcio, central campeão do mundo que se equipa no Brasiliense aos 41, Marcelinho Paraíba, que aos 44 anos ainda saltita entre o Treze e o Perilima na Campina Grande, Hleb, agora no Isloch da Bielorrússia natal.
E há sempre hipótese de El Hadary calçar as luvas de um novo clube egípcio aos 46.
Mas há também quem faça de conta que 2020 está mesmo ao virar da esquina depois de 2010, gente para quem a década passou mais devagar que para mim: Buffon, o Zoff destes tempos, ainda rivaliza na baliza da Juve, mas é guarda-redes, dirão, Claudio Pizarro não é, sempre foi avançado e ainda faz golos, aos 41, pelo Werder Bremen, como Ricardo Oliveira no Atlético Mineiro aos 39, mesma idade de José Sand, do Lanús argentino. E da geração de 80 há Emre Belözoğlu, o que foi do Inter e do Newcastle, ainda muito utilizado no Fenerbahçe, nascido uns meses antes de Lucho González, titular e referência do Atlético Paranaense, tal como Andrés D´Alessandro e Nenê, outros craques de 81 e que se preparam para renovar, no Inter de Porto Alegre e no Fluminense. Em Portugal, temos Ricardo Costa, que chega a uns 38 de primeira, no Boavista. E depois há Joaquín, ainda admirável no Bétis e que tinha de fechar este desfile, que ninguém joga mais que ele entre os nascidos antes de Zlatan. 
Zlatan é outra coisa.
Mais que os recordes de títulos e golos, no PSG foi ele a ultrapassar o nosso Pauleta, ou os momentos sublimes, como o calcanhar em 2004, cá pela nossa terra, ou da bicicleta mais longa do jogo, frente à Inglaterra e numa vitória de 4-2 em que marcou todos os golos suecos, ele é seguramente maior que o próprio nome herdado dos Balcãs, é “a” personagem do futebol como não há outra desde que Cantona decidiu engordar. Pode ser o desafio final para o gigante acrobata, cinturão negro de taekwondo, a hora de mostrar que não é apenas um artista lendário em fim de carreira, já mais importante no cartaz do que no palco. Os jornais italianos vêem o Milan ressurgir com ele e graças a ele, e até o juntam nas capas ao melhor que por lá têm, Ronaldo, pois claro, outro óbvio negacionista do envelhecimento. Em 2012, o Conselho da Língua Sueca aceitou um neologismo, “zlatanera”, que significa literalmente “ser Zlatan” como sinónimo de dominar. É impossível evitar o trocadilho, porque a era de Zlatan prossegue, já para lá de uma guerra de tronos sempre na luta por dominar mais um território. Para nossa felicidade, aí está a nova temporada."

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